Santa Teresa e a Eucaristia
Quando eu me chegava à comunhão e recordava aquela altíssima Majestade que vira e pensava que era Ele que estava no Santíssimo Sacramento (tanto mais que muitas vezes quer o Senhor que eu O veja na hóstia), os cabelos se me eriçavam na cabeça e parecia que toda me aniquilava. Oh! Senhor meu! Mas se não encobrísseis vossa grandeza, quem ousara chegar tantas vezes a reunir coisa tão suja e miserável com tão grande Majestade? Bendito sejais, Senhor. Louvado sejais pelos anjos e por todas as criaturas, porque assim medis as coisas por nossa fraqueza para que, gozando de tão soberanas mercês, Vosso grande poder não nos assuste e, gente fraca e miserável que somos, não as ousemos gozar.Poderia nos acontecer o que, segundo sei ao certo, sucedeu a um lavrador. Encontrou um tesouro, que valia muito mais do que cabia no seu ânimo mesquinho; e vendo-se com aquela riqueza, deu-lhe uma tristeza tão grande que pouco a pouco veio a morrer de pura aflição, por não saber o que faria com o seu achado. Se não o encontrasse todo de uma vez, mas pouco a pouco lho fossem dando e sustentando com ele, viveria mais contente do que sendo pobre, e não lhe custaria a vida.Oh! Riqueza dos pobres, quão admiravelmente sabeis sustentar as almas e, sem que vejam tão grandes riquezas, pouco a pouco as ides mostrando! Quando eu vejo uma majestade tão grande dissimulada em coisa tão pouca como é a Hóstia, fico a admirar sabedoria tão imensa e não sei como me dá o Senhor ânimo e esforço bastante para chegar-me a Si; e se Ele, que me fez e ainda faz mercês tão grandes, ânimo não me desse, nem me seria possível dissimular, nem deixar de dizer aos brados tão grandes maravilhas. Pois que sentirá uma miserável como eu, carregada de abominações e que com tão pouco temor de Deus gastou a sua vida, ao se acercar deste Senhor de tão grande majestade, quando Ele quer que minha alma o veja? Uma boca que tantas palavras falou contra aquele mesmo Senhor, como se poderá juntar àquele corpo gloriosíssimo, cheio de pureza e piedade? E mais dói e aflige a alma, por não O haver servido, o amor que mostra aquele rosto de tanta formosura, com tão grande ternura e afabilidade — do que imprime temor a majestade que nEle se vê. Mas que poderia eu sentir nas duas vezes em que vi isso? Que direi?Uma vez, chegando-me à comunhão, vi com os olhos da alma dois demônios, mais claramente que com os olhos do corpo; tinham abominável figura. Parece-me que os seus cornos rodeavam a garganta do pobre sacerdote. E vi o meu Senhor, com a majestade em que já falei, na Partícula que eu ia receber, posto naquelas mãos que claramente mostravam ser criminosas e entendi que estava aquela alma em pecado mortal. Que seria, Senhor meu, ver Vossa formosura entre figuras tão abomináveis! Estavam eles como amedrontados e espantados diante de Vós. E de bom grado parece que fugiriam se Vós os deixásseis ir. Deu-me enorme perturbação e não sei como pude comungar; fiquei com grande temor, parecendo-me que, se fora visão de Deus, não permitira Sua Majestade visse eu o mal que estava naquela alma. Disse-me o próprio Senhor que rogasse por ele e que me permitira aquela vista a fim de que eu entendesse a força que têm as palavras da consagração e como não deixa Deus de estar ali, por mau que seja o sacerdote que as diz; e para que eu visse a sua grande bondade pondo-se nas mãos do seu inimigo — tudo para meu bem e bem de todos. Entendi quão mais obrigados que os outros estão os sacerdotes a ser bons, que coisa terrível é tomarem indignamente este Santíssimo Sacramento, e quão senhor é o demônio da alma que está em pecado mortal. Sobejo proveito me fez esta visão e sobejo conhecimento me deu do que devia a Deus. Bendito seja para todo o sempre.
Quando eu me chegava à comunhão e recordava aquela altíssima Majestade que vira e pensava que era Ele que estava no Santíssimo Sacramento (tanto mais que muitas vezes quer o Senhor que eu O veja na hóstia), os cabelos se me eriçavam na cabeça e parecia que toda me aniquilava. Oh! Senhor meu! Mas se não encobrísseis vossa grandeza, quem ousara chegar tantas vezes a reunir coisa tão suja e miserável com tão grande Majestade? Bendito sejais, Senhor. Louvado sejais pelos anjos e por todas as criaturas, porque assim medis as coisas por nossa fraqueza para que, gozando de tão soberanas mercês, Vosso grande poder não nos assuste e, gente fraca e miserável que somos, não as ousemos gozar.Poderia nos acontecer o que, segundo sei ao certo, sucedeu a um lavrador. Encontrou um tesouro, que valia muito mais do que cabia no seu ânimo mesquinho; e vendo-se com aquela riqueza, deu-lhe uma tristeza tão grande que pouco a pouco veio a morrer de pura aflição, por não saber o que faria com o seu achado. Se não o encontrasse todo de uma vez, mas pouco a pouco lho fossem dando e sustentando com ele, viveria mais contente do que sendo pobre, e não lhe custaria a vida.Oh! Riqueza dos pobres, quão admiravelmente sabeis sustentar as almas e, sem que vejam tão grandes riquezas, pouco a pouco as ides mostrando! Quando eu vejo uma majestade tão grande dissimulada em coisa tão pouca como é a Hóstia, fico a admirar sabedoria tão imensa e não sei como me dá o Senhor ânimo e esforço bastante para chegar-me a Si; e se Ele, que me fez e ainda faz mercês tão grandes, ânimo não me desse, nem me seria possível dissimular, nem deixar de dizer aos brados tão grandes maravilhas. Pois que sentirá uma miserável como eu, carregada de abominações e que com tão pouco temor de Deus gastou a sua vida, ao se acercar deste Senhor de tão grande majestade, quando Ele quer que minha alma o veja? Uma boca que tantas palavras falou contra aquele mesmo Senhor, como se poderá juntar àquele corpo gloriosíssimo, cheio de pureza e piedade? E mais dói e aflige a alma, por não O haver servido, o amor que mostra aquele rosto de tanta formosura, com tão grande ternura e afabilidade — do que imprime temor a majestade que nEle se vê. Mas que poderia eu sentir nas duas vezes em que vi isso? Que direi?Uma vez, chegando-me à comunhão, vi com os olhos da alma dois demônios, mais claramente que com os olhos do corpo; tinham abominável figura. Parece-me que os seus cornos rodeavam a garganta do pobre sacerdote. E vi o meu Senhor, com a majestade em que já falei, na Partícula que eu ia receber, posto naquelas mãos que claramente mostravam ser criminosas e entendi que estava aquela alma em pecado mortal. Que seria, Senhor meu, ver Vossa formosura entre figuras tão abomináveis! Estavam eles como amedrontados e espantados diante de Vós. E de bom grado parece que fugiriam se Vós os deixásseis ir. Deu-me enorme perturbação e não sei como pude comungar; fiquei com grande temor, parecendo-me que, se fora visão de Deus, não permitira Sua Majestade visse eu o mal que estava naquela alma. Disse-me o próprio Senhor que rogasse por ele e que me permitira aquela vista a fim de que eu entendesse a força que têm as palavras da consagração e como não deixa Deus de estar ali, por mau que seja o sacerdote que as diz; e para que eu visse a sua grande bondade pondo-se nas mãos do seu inimigo — tudo para meu bem e bem de todos. Entendi quão mais obrigados que os outros estão os sacerdotes a ser bons, que coisa terrível é tomarem indignamente este Santíssimo Sacramento, e quão senhor é o demônio da alma que está em pecado mortal. Sobejo proveito me fez esta visão e sobejo conhecimento me deu do que devia a Deus. Bendito seja para todo o sempre.
Vida de Santa Teresa de Jesus, escrita por ela própria(págs. 241-242) - Edições Loyola
P.S. Comprei este livro pela bagatela de R$1,00!!! Aliás, comprei todos os livros de Santa Teresa por R$1,00!!!
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