sexta-feira, 24 de julho de 2009


"Intrinsecamente mau é o comunismo, e não se pode admitir, em campo algum, a colaboração recíproca, por parte de quem quer que pretenda salvar a civilização cristã” (Pio XI, Divini Redemptoris, nº. 58).



Reflexões sobre a Revolução Russa e a mentalidade revolucionária

A ideologia comunista propõe a imagem de uma sociedade melhor e nos incita a desejá-la. Como um ideal de emancipação e de fraternidade universal, a revolução comunista de Outubro de 1917 transformou-se numa doutrina de onipotência do Estado, praticando o extermínio sistemático de grupos inteiros, sociais ou nacionais, recorrendo às deportações em massa, e com freqüência massacres gigantescos. “O terror foi, desde sua origem, uma das dimensões fundamentais do comunismo moderno.” [1]

Desde o início, Lênin e seus camaradas se situaram no contexto de uma “guerra de classes”, sem perdão, na qual o adversário político, ideológico, ou, mesmo a população recalcitrante eram considerados, e tratados, como inimigos e deveriam ser exterminados.” [2] Os métodos postos em prática por Lênin e sistematizados por Stalin e seus êmulos, não somente lembram os métodos nazistas como também, e com freqüência lhe são anteriores.” [3] Na ideologia comunista, a sociedade futura, devia ser construída em torno de povo proletário purificado de toda escória burguesa. A estratégia usada pelos bolcheviques já havia sido indicada por Marx, que defendia a derrubada violenta da burguesia afim de estabelecer a dominação do proletariado.[4] Marx já havia ensinado numa ao mensagem do comitê central à liga dos comunistas em 1850 que:

“Os operários não só não devem opor-se aos chamados excessos, aos atos de vingança popular contra indivíduos odiados ou contra edifícios públicos que o povo só relembre com ódio, não somente devem admitir tais atos, mas assumir a sua direção.” [5] Mas, para opor-se enérgica e ameaçadoramente a esse partido, cuja traição aos operários começará desde os primeiros momentos da vitória, estes devem estar armados e organizados. Dever-se-á armar, imediatamente, todo o proletariado, com fuzis, carabinas, canhões e munições; é preciso opor-se ao ressurgimento da velha milícia burguesa, dirigida contra os operários. (...) Sob nenhum pretexto entregarão suas armas e munições” [6]


Na Rússia, o regime czarista desacreditado e enfraquecido foi surprendido pela chegada dos dias de fevereiro de 1917. Ao fim do mesmo ano, a ação dos bolcheviques, já agia no vazio institucional reinante, indo ao encontro das aspirações de grande parte da população já ludiabrada pelas promessas comunistas, e isto, porque a fraude que faz um povo aceitar a escravidão sob o nome de liberdade pertence à essência mesma das revoluções.

Às vésperas da Revolução, os três governos provisórios que se sucederam a queda do czarismo se mostraram incapazes de resolver os problemas deixados como herança pelo Antigo Regime. Em outono de 1917, quando toda autoridade do Estado havia desaparecido, o Partido Bolchevique sob a liderança de Lênin assume o governo do Estado supostamente operário. O novo poder surge como uma construção complexa: uma fachada fundada na mitologia do comunismo, “o poder dos sovietes.” Em pouco tempo, “todos os indivíduos suspeitos de sabotagem, de especulação ou de monopólio são suscetíveis de serem imediatamente detidos como inimigos do povo e serem transferidos para as prisões de Kronstadt.”[7] Lênin passava a invocar o terror como justiça revolucionária de classe: “Enquanto não aplicarmos o terror sobre os especuladores, uma bala na cabeça, imediatamente, não chegaremos a lugar nenhum.” [8]

Rapidamente o número de pessoas internadas nos campos de trabalho ou de concentração teve um aumento constante no decorrer dos anos 1919-1921, passando de cerca de 16 mil em maio de 1919 a mais de 60 mil em setembro de 1921.[9] A revolução liderada por Lênin representaria o começo de uma nova era para a humanidade, anunciando uma sociedade mais justa e um homem mais consciente de sua relação com o seu semelhante, mas iniciava-se a construção de um dos mais vigorosos mitos políticos contemporâneos: a construção do socialismo, levado a cabo pela mentalidade revolucionária, aquele
“estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao “tribunal da História”(...) Habilitado a acusar e condenar todas as leis, instituições, crenças, valores, costumes, ações e obras de todas as épocas sem poder ser por sua vez julgado por nenhuma delas, ele está tão acima da humanidade histórica que não é inexato chamá-lo de Super-Homem.”[10]



[1] CORTOUIS, Stéphene et al. O Livro negro do comunismo: crimes, terror e repressão. Ed. Bertrand Brasil, 2005, p.15.
[2] Idem, p. 21.
[3] Idem, p. 28.
[4] Cf. MARX, Karl. Manifesto comunista, p.36. Acessado em 5 de novembro. Disponível em: http://www.pstu.org.br/biblioteca/marx_engels_manifesto.pdf
[5] (MARX, Karl. Mensagem do comitê central à liga dos comunistas).Acessado em 5 de novembro. Disponível em: http://antivalor.atspace.com/outros/marx201.htm
[6] Idem.
[7] CORTOUIS, op. cit, p. 71.
[8] LENIN, Polnoe sobranie socinenii (Obras completas) Moscou, 1958-1966, vol. XXXV, p.31. In: CORTOUIS, Stéphene et al. O Livro negro do comunismo: crimes, terror e repressão. Ed. Bertrand Brasil, 2005, p.76.

[9] Cf. Idem, p. 101.
[10] CARVALHO, Olavo de. A mentalidade revolucionária. Acessado em 5 de novembro. Disponível em:
http://www.olavodecarvalho.org/semana/070813dc.html

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