quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

TU ÉS PEDRO E SOBRE ESTA PEDRA EDIFICAREI A MINHA IGREJA





SIMÃO RECEBE UM NOVO NOME.


158. Um dia Nosso Senhor teve ocasião de frisar o contraste entre o entre o homem sábio que EDIFICOU a sua casa sobre ROCHA; e veio a chuva e transbordaram os rios e assopraram os ventos e combateram aquela casa e ela não caiu, porque estava FUNDADA sobre a rocha (Mateus 7,24-25); e o homem sem consideração que edificou a sua casa sobre a areia; e veio a chuva e transbordaram os rios e assopraram os ventos e combateram aquela casa, e ela caiu e foi grande a sua ruína (Mateus 7,26-27).

Ora, Nosso Senhor mesmo nos ensina que a sua obra, fundando e organizando a Igreja, é semelhante à obra de um homem levantando um edifício: EDIFICAREI a minha Igreja (Mateus 16,18).

Foi por isto que Ele, logo quando viu a Pedro pela primeira vez, depois de olhar para o seu futuro Apóstolo de uma maneira tão significativa e profunda que o Evangelista registrou este olhar, lhe mudou o nome de Simão para Cefas. “E Jesus, depois de OLHAR para ele, disse: tu és Simão, filho de Jonas, tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro” (João 1,42).

Se Jesus fosse um simples homem, não deixaria de causar estranheza o fato de um homem ver a outro pela primeira vez e ir imediatamente mudando o seu nome. Mas Jesus era Deus. Conhecia perfeitamente todos os segredos das almas e todos os acontecimentos do futuro. Sabia muito bem o que ia fazer. E também não fazia nenhuma ação inútil, nem sem significação.

Nem era a primeira vez, Na Bíblia, que Deus mudava o nome de uma pessoa, antes de lhe confiar uma missão importante. O mesmo acontecera com Abraão. A princípio ele se chamava Abrão que quer dizer pai excelso, ou que pensa em coisas excelsas. Deus lhe mudou o nome para Abraão, isto é, pai de uma excelsa multidão, ou pai de muitos excelsos: “Daqui em diante não te chamarás mais Abrão; mas chamar-te-ás Abraão, PORQUE EU TE TENHO DESTINADO PARA PAI DE MUITAS GENTES. E farei crescer a tua posteridade infinitamente e te farei chefe das nações e de ti sairão reis” (Gênesis 17,5-60). “O nome de Abraão observa S. João Crisóstomo, é como a coluna que inscreve para a eternidade a promessa da posteridade e de uma prole fiel e eleita”.

Ora, na língua que Nosso Senhor falava, ou seja, o aramaico ou sírio-caldaico, a mesma palavra KEPHA com que Nosso Senhor designou menor alteração. O mesmo acontece na língua francesa em que Pierre serve para designar um homem chamado Pedro, como serve também para significar pedra. Um caso semelhante acontece na nossa língua, em que um homem poder ser conhecido por Rocha (Sr. Rocha, Dr. Rocha) e a mesma palavra Rocha quer dizer pedra.

Por isto, tanto o Evangelista podia ter dito: tu serás chamado Cefas que quer dizer Pedro, como podia ter dito: tu serás chamado Cefas que quer dizer pedra; porque Cefas significava uma coisa e outra. Preferiu dizer que Cefas significa Pedro, para mostrar a que nome próprio de pessoa correspondia o nome imposto a Simão.

Jesus não explicou na mesma hora qual o motivo por que fazia aquela mudança de nome; era cedo ainda para isto, deixou para explica-lo solenemente mais tarde, como verdadeiro prêmio de uma bela profissão de fé.

PEDRO, PEDRA FUNDAMENTAL DA IGREJA.

159. Um dia Jesus faz aos seus discípulos uma pergunta; quer saber o que é que dizem os homens a respeito dEle: “ quem dizem os homens que é o Filho do Homem? ( Mateus 16,13). E eles responderam: uns dizem que João Batista, mas outros que Elias e outros que Jeremias ou algum dos profetas ( Mateus 16,14). Mas Jesus lhes perguntou: E vós quem dizeis que sou eu? ( Mateus 16,16). A questão foi, portanto, apresentada por Jesus de propósito, de ânimo pensado, a fim de provocar a confissão de Pedro. Os outros Apóstolos calam e hesitam, com receio de dizer alguma coisa que não seja bem expressiva, que não seja inteiramente exata. Pedro porém, o mais fervoroso, o mais decidido, o mais ilustrado por Deus, antes que alguém dê uma resposta fraca e inadequada e falando com convicção de que se reveste o bom aluno quando sabe qual a resposta que quer o seu mestre, responde por eles: Tu és o Cristo o Filho de Deus vivo ( Mateus 16,16). Tu és o Cristo, ou seja, és o Messias prometido. És mais do que isto: és o filho de Deus vivo, Segunda Pessoa igual ao Pai, filho de Deus por natureza.

Cristo gostou imensamente da resposta de Pedro, a qual era um sinal de que Deus iluminava de maneira toda particular aquele espírito simples e bem formado de rude pescador. E já que Pedro disse tão brilhantemente que é Cristo, qual é a sua missão, qual é a sua grandeza, Jesus Cristo vai dizer, em retribuição, quem é Pedro, qual o seu cargo, quais são as suas prerrogativas. Pedro é a pedra sobre a qual Jesus vai construir a sua Igreja; vai ter nesta Igreja o supremo poder, pois Cristo lhe dará as chaves do Reino dos Céus, com plenos poderes para ligar e desligar.

Desde que, como dissemos na língua que Jesus falava a mesma palavra KEPHA quer dizer Pedro e quer dizer pedra percebe-se perfeitamente o trocadilho usado por Nosso Senhor: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, trocadilho este que se exprime exatamente na língua francesa:

Tu és PIERRE et sur cette PIERRE JE BÂTIRAI MON Église.

O siríaco é uma língua irmã do sírio-caldaico ou aramaico, que Jesus falou, de modo que diz o comentador M. J. Lagrange: “As versões siríacas têm uma muito grande importância para a exegese do Novo Testamento, porque de certo modo nos fornecem a expressão primitiva dos catequistas e, sobretudo das palavras e, sobretudo das palavras de Nosso Senhor”. Pois bem, as versões siríacas, tanto a chamada Peshitta que é usada oficialmente pelos cristãos sírios, católicos e acatólicos, como a chamada Cureton pelo nome daquele que a descobriu e divulgou, trazem a mesma forma para as 2 palavras: Pedro e pedra; pois no siríaco (língua, repetimos, muito semelhante àquela que Jesus falou) KIPHA é Pedro e KIPHA é pedra. Na versão persa e na etiópica também é exatamente a mesma palavra para designar Pedro e para designar pedra, mostrando-se assim o trocadilho tão perfeitamente como sem mostra no francês.

Embora nossa língua não exprima com tanta perfeição, como o francês, o trocadilho usado por Nosso Senhor, todavia que lê o texto português o percebe logo facilmente, pois entre nós até as crianças sabem que Pedro quer dizer pedra. Também no grego o substantivo apelativo PÉTROS quer dizer pedra. Veja-se o dicionário de Bailly que assinala pedra, rochedo (pierre, rocher) como os 2 únicos significados desta palavra. Se o intérprete grego chamou a Pedro PÉTROS e não PÉTRA, é porque no grego os nomes próprios masculinos terminam em regra geral em as,es,is,os,us.

O que se deu na língua falada por nosso Senhor foi o que se teria dado na nossa língua p.ex., se um homem tivesse imposto a outro o nome de rocha, para depois dizer-lhe abertamente: Tu és a ROCHA e sobre esta ROCHA é que vou edificar a associação que quero instituir. Sendo que nos lábios de Nosso Senhor o trocadilho ainda foi mais perfeito, porque em sírio-caldaico ou aramaico a palavra KEPHA é sempre masculina, ou signifique Pedro ou signifique pedra: Tu és KEPHA e sobre esta KEPHA edificarei minha Igreja.

É natural a luta dos hereges para tentar desfazer o valor deste texto de suma importância para se conhecer qual é a VERDADEIRA IGREJA, porque, como diz o teólogo acatólico Palmer: “a doutrina a respeito do primado do Bispo de Roma sobre a Igreja Universal é o eixo, em torno do qual giram todas as controvérsias entre a Igreja Romana e as demais igrejas, porque se Cristo Nosso Senhor instituiu um primado ex-ofício de algum Bispo na Igreja Católica, primado este que deva perdurar, e se este primado o herdou o Bispo de Roma, daí se segue que a Igreja Universal se reduz a uma só Igreja, de obediência romana; e os concílios, doutrina e tradições desta Igreja são revestidos de autoridade para todo mundo cristão”. (p.7 de Romano Pontífice c. 1).

Nada mais compreensível, portanto do que o esforço dos protestantes, procurando violentar o texto, querendo afirmar que aquelas palavras se referem a todos os Apóstolos, pelo fato de ter falado Pedro em nome de todos eles: Ou que se referem à fé, e não a Pedro; ou que aquela pedra, de que aí se trata não é Pedro, mas o próprio Cristo.

Mas Nosso Senhor faz tudo sempre bem feito. Ele tomou tantas precauções para mostrar que se referia diretamente e exclusivamente à pessoa de Pedro, que, como observa o Cardeal Mazzella, “os notários, quando fazem documentos públicos e querem designar uma certa e determinada pessoa, não usam de mais minúcias do que usou Jesus Cristo”.

“Bem - aventurado és SIMÃO, FILHO DE JOÃO” (Mateus 16,17). Cristo lhe dá o nome de nascimento e lhe acrescenta o nome do pai, para não se confundir com outros;

“Porque não foi a carne e sangue quem te revelou, mas sim meu Pai que está nos Céus” – fala numa revelação oculta feitas diretamente a Pedro;

Cristo vai fazer também a Pedro uma revelação contínua insistentemente tratando por TU, insistentemente tratando por Tu, insistentemente mostrando que fala só a Pedro: Também eu TE digo que TU és Pedro (Mateus 16,18) – para que ainda não se confunda com nenhum outro, acrescenta-lhe o nome especial que deu a Simão e vai explicar o motivo por que lhe impôs este nome:

“E sobre ESTA PEDRA edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”- a palavra ESTA mostra claramente que Ele se refere a um termo usado anteriormente que no caso é o termo Pedro que quer dizer: Pedra ( Pedro e pedra era a mesmíssima palavra na língua que Jesus estava falando); e continua Cristo dirigindo-se exclusivamente a Pedro, como se prova pelo contínuo emprego de TU:”Eu TE darei as chaves do reino dos Céus; e tudo o que LIGARES sobre a terra será ligado também nos Céus, e tudo o que DESATARES sobre a terra será desatado também nos céus ( Mateus 16,19).

Os protestantes passaram muito tempo sustentando que na frase – “sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” – “esta pedra” se referia a Cristo e não a Pedro. Depois é que muitos deles resolveram desistir dessa interpretação, por eles mesmos, considerada antigramatical e por demais TORCIDA e ILÓGICA (destaque do administrador).

No meio de um discurso que se refere, todo ele, a Pedro (Bem aventurado és... Eu te digo... Tu és Pedro... Eu te darei... Tudo quanto ligares...) aquela expressão – sobre esta pedra – só podia referir-se a Simão, que por Cristo foi chamado especialmente KEPHA, isto é, pedra. Do contrário Cristo estaria ludibriando a S. Pedro; deu-lhe o nome de pedra, mas Pedro não o seria. Cristo o teria chamado pedra só para levá-lo na troça; na hora de lhe explicar por que motivo lhe dera este nome, teria dito que a pedra era só Ele, Cristo e ninguém mais.

Além disto, para justificar sua interpretação, os protestantes são obrigados a inventar uma hipótese que não consta absolutamente do texto, ou seja, que Jesus dizendo – “esta pedra” APONTOU COM O DEDO PARA SI PRÓPRIO. Além da falta de nexo, de ilação entre as palavras: Eu te digo que TU és Pedro – e as outras: sobre esta pedra que sou eu (é claro que devia ser: que és tu) edificarei a minha Igreja; como provam os protestantes, os quais admitem só o que está na Bíblia, que Cristo apontou com o dedo para si próprio?

Respondem eles: Isto não é preciso provar, porque também Cristo disse: “Desfazei esta templo e eu o levantarei em três dias” (Jo 2,19), certamente apontou para si próprio e o Evangelista não o diz.

Sim, o evangelista não disse que Cristo apontou para si próprio, porém fez ainda melhor: explicou bem claramente a que templo se referia Jesus: “Mas ele falava do templo do seu corpo” (Jo 2,21). Se Cristo dizendo – sobre esta pedra – se referisse a si próprio, S. Mateus deveria explicá-lo claramente, porque dentro daquelas palavras todas dirigidas exclusivamente a São Pedro, não haveria ninguém de bom senso que fosse capaz de decifrar semelhante enigma.

(CONTINUA...)













sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

ORAÇÃO DO ABANDONO

(Beato Charles de Foucould)

Meu Pai
A Ti me abandono
Faze de mim o que quizeres
O que de mim fizeres
Eu te agradeçoEstou pronto para tudo
Aceito tudoContanto que a tua vontade
Se faça em mim
E em todas as tuas criaturas
Não quero outra coisa meu Deus
Entrego a minha vida
Em tuas mãos,
Eu a dou meu Deus
Com todo o amor
Do meu coração
Porque eu te amo
E porque é para mim
Uma necessidade de amor
Dar-me,
Entregar-me em tuas mãos
Sem medida
Com infinita confiança
Porque Tu és meu Pai

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

SERMÃO DE SÃO JOÃO MARIA VIANNEY SOBRE O PURGATÓRIO

Sobre o Purgatório
Por que será que eu me encontro de pé hoje nesse púlpito, meus caros irmãos? O que será que eu venho dizer para vocês? Ah! Eu venho em nome do próprio Deus. Eu venho em nome de seus pobres pais, para despertar em vocês aquele amor e gratidão que vocês lhes devem . Eu venho pra refrescar nas suas memórias novamente, toda a ternura e todo o amor que eles deram a vocês enquanto eles ainda estavam sobre essa terra. Eu venho pra dizer a vocês que eles sofrem no Purgatório, que eles choram e reclamam com urgentes gritos o auxílio de suas orações e boas-obras. Eu os tenho visto gritando das profundezas daquelas chamas que os devoram: -"Digam aos nossos amigos, aos nossos filhos, aos nossos parentes, como é grande o mal que eles estão nos fazendo sofrer. Nós nos atiramos aos seus pés para implorar o auxílio de suas orações! Ah! Diga -lhes que desde que nós fomos separados deles, nós temos estado queimando em chamas! Oh! Quempoderia permanecer tão indiferente diante dos sofrimentos que estamos enfrentando!" Você vê, meu caro irmão, você escuta aquela terna mãe, aquele pai devotado e todos aqueles parentes que lhe ajudaram e fizeram parte de sua vida? Meus amigos, eles gritam: -"Livrai-nos dessa dor, você pode!" Considerem então meus caros amigos: 1°- A magnitude desses sofrimentos pelos quais passam as almas do purgatório e 2°- os meios dos quais dispomos para mitigar esses sofrimentos: nossas boas obras, nossas orações e acima de tudo, o santo sacrifício da Missa. Eu não quero parar neste estágio para provar a existência do Purgatório, pois isso seria uma perda de tempo. Espero que nenhum de vocês tenha a menor dúvida a este respeito. A Igreja, à qual Jesus Cristo prometeu a guia do Espírito Santo e a qual, conseqüentemente, não pode se enganar nem nos enganar, ensina-nos sobre o Purgatório de um modo bem claro e positivo. Isto é uma certeza mais que certa, de que lá é um lugar onde as almas dos justos completam a expiação por seus pecados, antes de serem finalmente admitidas na glória do Paraíso, o qual, diga-se de passagem, já está assegurado a elas. Sim meus caros irmãos, isto é um artigo de Fé: se nós não tivermos feito penitência proporcional à gravidade de nossos pecados, ainda que tenhamos sido absolvidos no Sagrado Tribunal da Confissão, nós seremos obrigados a expiar por eles. Nas Sagradas Escrituras há muitos textos que mostram claramente, que embora nossos pecados possam ser perdoados, Deus ainda impõe-nos a obrigação de sofrer neste mundo duros trabalhos temporais ou no próximo através das chamas do Purgatório.Veja o que aconteceu com Adão. Porque ele se arrependeu logo depois de ter cometido o pecado original, Deus garantiu a ele que o havia perdoado,mas ainda assim Ele o condenou a passar nove séculos sobre esta terra fazendo penitência. Penitências que ultrapassam qualquer coisa que possamos imaginar:..."maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de sua vida. Ela te produzirá espinhos e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que fostes tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar..."(Gênesis 3.17). Veja novamente: Davi ordenou, contrariando a vontade de Deus, que se fizesse o recenseamento de Israel. Atingido pelo remorso de consciência, ele reconheceu o seu pecado, atirou-se ao chão suplicando ao Senhor que o perdoasse. Conseqüentemente, Deus tocado pelo seu arrependimento, o perdoou. Mas apesar disso,ele enviou Gad para dizer a Davi que ele teria que escolher entre 3 tipos de punições que Ele havia preparado para Davi reparar pelo seu pecado: a peste,a fome ou a guerra. Davi então respondeu: "Ah! Caia eu nas mãos do Senhor, porque imensa é a sua misericórdia; mas que eu não caia nas mãos do homem..."(ICrônicas 21). Ele escolheu a peste e esta durou apenas 3 dias, mas matou 7 mil pessoas de seu povo. Se o Senhor não tivesse detido a mão do Anjo que estava estendida sobre Israel, Jerusalém inteira teria ficado despovoada! Davi ao ver todo omal causado pelo seu pecado, implorou a graça de Deus pedindo que Deus punisse apenas ele mesmo, mas que poupasse o seu povo que era inocente. Vejam também as penitências de Santa Maria Madalena! Quem sabe não sirvam para amolecer um pouco seus corações?Meus caros irmãos, o que serão então, o número de anos que nós teremos que sofrer no Purgatório, nós que cometemos tantos pecados e que sob o pretexto de já o termos confessado, não fazemos penitências e nem choramos por eles? Quantos anos de sofrimento nos esperam na próxima vida?Como poderia eu pintar um quadro dos sofrimentos que essas pobres almas suportam, quando os santos padres da Igreja dizem-nos que os tormentos que elas sofrem são comparáveis ao que passou Nosso Senhor Jesus Cristo durante sua dolorosa paixão? Uma coisa é certa, se o menor sofrimento que Nosso Senhor suportou tivesse sido compartilhado por toda a humanidade, todos estariam mortos devido à violência de seus sofrimentos. O fogo do Purgatório é o mesmo que o fogo do Inferno. A diferença entre eles é que o fogo do Purgatório não é eterno.Oh! Se Deus permitisse que uma daquelas pobres almas que está mergulhada nas chamas, aparecesse agora neste lugar, toda envolvida pelas chamas que a consome e desse ela mesma um recital dos sofrimentos que ela está suportando! Toda essa Igreja, meus caros irmãos, seria sacudida pelo eco de seus gritos e soluços e talvez quem sabe isso amoleceria os seus corações? Esta pobre alma nos diria: - "Como nós sofremos! Ó irmãos, livrai-nos desses tormentos! Ah, se vocês pudessem experimentar o que é viver separado de Deus!... Cruel separação! Queimar no fogo aceso pela justiça de Deus!.. Sofrer dores incompreensíveis para a mente humana!... Ser devorado pelo remorso, sabendo que poderíamos facilmente ter evitado esses tormentos!... Oh! Meus filhos!- gritam os pais e as mães- como podem vocês nos abandonar nessas horas, nós que tanto osamamos quando estávamos sobre essa terra! Como vocês podem ir dormir tranqüilamente em suas camas, enquanto nós queimamos em uma cama de fogo? Como vocês tem coragem de se entregar aos prazeres e alegrias, enquanto nós sofremos e choramos dia e noite? Vocês herdaram nossos bens, nossas propriedades, vocês se divertem com o fruto de nossos trabalhos, enquanto nós sofremos males tão indescritíveis e por tantos anos!.. E não são capazes de oferecer uma pequena oração em nossa intenção, nem uma simples Missa que tanto ajudaria para nos livrar dessas chamas!... Vocês podem aliviar nosso sofrimento, vocês podem abrir nossas prisões e vocês simplesmente nos abandonam. Oh! Quão cruel são estes sofrimentos!..."Sim meus irmãos, as pessoas julgam de um modo muito diferente, o que é estar nas chamas do Purgatório por todas essas culpas leves. Se é que é possível chamar de "leve" algo que nos faz suportar punição tão rigorosa! Que espanto seria para o homem, grita o profeta real, se mesmo o mais justo dos homens fosse julgado por Deus sem nenhuma misericórdia! Se Deus achou manchas até no sol e malícia nos anjos, o que será então do homem pecador? E para nós que cometemos tantos pecados mortais e praticamente não fazemos nada para satisfazer a justiça de Deus. Quantos anos de Purgatório! Meu Deus!-disse Santa Tereza de Ávila- "que alma seria suficientemente pura para entrar diretamente no Céu sem ter que passar pelas chamas da justiça?" Em sua última doença, ela de repente gritou: "Oh Justiça e Poder do meu Deus, quão terrível sois!" Durante sua agonia, Deus permitiu que ela contemplasse por alguns segundos a Sua Santidade, assim como os anjos e os santos do Céu O contemplam. E isso causou nela um pavor tão grande, que ela se pôs a tremer e ficou agitada de um modo tão extraordinário que as irmãs perguntaram-lhe chorando: -"Ah! Madre, o que está se passando? Certamente que a senhora não teme a morte depois de tantos anos de penitência e lágrimas amargas!" - Não, minhas filhas, eu não temo a morte, muito pelo contrário, eu a desejo porque só assim estarei unida eternamente a Deus. - Oh! Madre, seriam os teus pecados então, que ainda te aterrorizam depois de tantas mortificações? - Sim minhas filhas- respondeu Tereza- eu temo pelos meus pecados, mas temo por algo ainda maior! - Seria então, o julgamento? - Sim, eu temo pela formidável conta que terei que prestar diante de Deus. Principlamente porque nesse momento seremos julgados pela justiça e não pela misericórdia. Mas tem algo que ainda me faz morrer de terror. As pobres irmãs já estavam profundamente angustiadas. - Madre, seria por acaso o Inferno? -Não -respondeu ela - O inferno, Graças a Deus não é pra mim. Oh! Minhas filhas, é a Santidade de Deus. Meus Deus, tende misericórdia de mim! Minha vida será confrontada face a face com o próprio Cristo! Ai de mim se eu tiver a menor mancha ou falha! Ai de mim, se eu tiver a menor sombra de pecado! - Ai de nós! - gritaram as pobres irmãs - O que será então no dia das nossas mortes?O que será então de nós, meus caros irmãos? Nós que talvez em todas as nossas penitências e boas obras, talvez nunca tenhamos conseguido satisfazer por um único pecado perdoado no tribunal da Confissão? Ah! Quantos anos e séculos de tormento para nos punir?... Vamos pagar muito caro por todas essas "pequenas falhas" que nós vemos como algo que não tem a menor importância, como aquelas "pequenas mentirinhas" que nós falamos para evitar problemas para nós mesmos, aqueles pequenos escândalos, o desprezo pelas graças que Deus nos concede a cada momento, aquelas pequenas murmurações nas dificuldades que Ele nos envia! Não, meus caros irmãos, nós não teríamos nunca a coragem de cometer o menor pecado, se pudéssemos entender o quanto isto ultraja a Deus e o quão merecemos ser rigorosamente punidos, já ainda nesse mundo.Meus irmãos, Deus é justo em tudo que Ele faz. Quando Ele recompensa-nos até pela menor boa ação que fazemos, Ele nos dá muito mais do que qualquer um de nós merecemos. Um bom pensamento, uma boa ação, um bom desejo, ou seja, o desejo de fazer uma boa obra, mesmo quando não somos capazes de fazê-la, Ele nunca nos deixa sem uma recompensa. Mas também, quando se trata de uma matéria de punição, isto é feito com o maior rigor e ainda que tenhamos a menor falta seremos enviados para o Purgatório. Isto é verdade absoluta e nós comprovamos isto pela vida dos santos. Muitos deles não chegaram ao Céu, sem antes terem passado pelas chamas do Purgatório.São Pedro Damião conta-nos que sua irmã permaneceu vários anos no Purgatório porque ela ouviu com prazer certos tipos de músicas. Conta-se também que dois religiosos fizeram um pacto um com o outro, acertando que quem morresse primeiro viria contar ao sobrevivente em que estado ele se encontrava. Deus permitiu que isso acontecesse e quando um deles morreu, apareceu ao seu amigo. Ele contou ao seu amigo que tinha permanecido 15 anos no Purgatório por seu orgulho de sempre querer fazer as coisas a seu modo. Então seu amigo o cumprimentou por ter permanecido lá por tão pouco tempo! O morto então respondeu: - Eu teria preferido ser queimado vivo por 10 mil anos ininterruptos nessa terra, pois esse sofrimento nem poderia ser comparado com o que eu sofri 15 anos naquelas chamas! Um sacerdote contou a um de seus amigos que Deus o havia condenado a permanecer no Purgatório por vários meses, por ter segurado a execução de uma boa-obra que era Vontade de Deus que fosse feita. Coitados de nós, meus irmãos! Quantos de nós não temos faltas semelhantes? Quantos de nós recebemos a tarefa de nossos parentes e amigos de mandarmos celebrar Missas e dar esmolas e simplesmente fazemo-nos de esquecidos! Quantos de nós evitamos fazer boas-obras apenas por respeito humano? E todas essas almas presas nas chamas, porque não temos coragem de satisfazer seus desejos! Pobres pais e pobres mães, vocês agora estão sendo sacrificados pela felicidade de seus filhos e parentes! Vocês talvez tenham negligenciado sua própria salvação para construírem suas fortunas. E agora vocês estão sendo traídos pelas boas-obras que vocês deixaram de fazer enquanto ainda estavam vivos! Pobres pais! Quanta cegueira é esquecer de nossa própria salvação!Você talvez me dirá: -Nossos pais eram pessoas boas e honestas. Eles não fizeram nada de tão grave para merecerem essas chamas! Ah! Se vocês soubesses que eles precisavam de muito menos do que eles fizeram para cair nessas chamas! Vejam o que disse a esse respeito, Alberto, o Grande, um homem cujas virtudes brilharam de modo extraordinário! Ele revelou a um de seus amigos, que Deus o havia levado ao Purgatório por ter se orgulhado de um pensamento sobre seu próprio conhecimento. A coisa mais surpreendente foi que ali haviam verdadeiros santos, muitos que inclusive já tinham sido canonizados pela Igreja e que estavam passando pelas chamas do Purgatório.São Severino, Arcebispo de Colônia, apareceu a um de seus amigos muito tempo depois de sua morte e disse-lhe que ele havia passado um longo tempo no Purgatório por ter adiado pra de noite, as orações do breviário que ele devia ter recitado pela manhã.Oh! Quantos anos de Purgatório não passarão aqueles cristãos que não tem o menor escrúpulo em adiar suas orações para uma outra hora, apenas pela desculpa de terem algo mais importante a fazer! Se nós realmente desejássemos a felicidade de possuir a visão beatífica de Deus, nós evitaríamos tanto os pecados mortais como os veniais, uma vez que a separação de Deus constitui-se um tormento tão terrível para essas almas!
Retirado do livro "O Espírito do Cura D'Árs".

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

SERMÃO DE SÃO JOÃO MARIA VIANNEY

Sinceramente, este sermão deveria ser lido por todos os católicos !


SOBRE O RESPEITO HUMANO


Beatus qui non fuerit scandalizatus in me
(S. Mat, XI. 6)


Nada mais glorioso e honroso para um cristão, que levar o nome sublime de filho de Deus, de irmão de Jesus Cristo. Mas, ao mesmo tempo, nada mais infame que envergonhar-se de ostentá-lo cada vez que se apresente ocasião para isso. Não, não vos maravilheis ao ver homens hipócritas, que fingem o quanto podem um exterior de piedade para atrair a estima e os aplausos dos demais, enquanto que seu pobre coração se acha devorado pelos mais infames pecados. Querem, estes cegos, gozar das honras inseparáveis da virtude, sem ter o incômodo de praticá-las. Mas maravilhemo-nos ainda menos ao ver a outros, bons cristãos, ocultarem, enquanto podem suas boas obras aos olhos do mundo, temerosos de que a vanglória se insinue em seus corações e de que os vãos aplausos dos homens lhes façam perder o mérito e a recompensa delas. Mas, onde encontrar, meus irmãos, covardia mais criminosa e abominação mais detestável que a nossa, que, professando crer em Jesus Cristo, estando obrigados pelos mais sagrados juramentos a seguir suas pisadas, a defender seus interesses e sua glória, ainda que à custa de nossa própria vida, somos tão vis, que, na primeira ocasião, violamos as promessas que lhe fizemos nas sagradas fontes batismais? Ah! , infelizes! Que fazemos? Quem é Aquele a quem renegamos? Ai! Abandonamos o nosso Deus, o nosso Salvador, para nos tornamos escravos do demônio, que nos engana e não busca outra coisa senão a nossa ruína e nossa eterna infelicidade. Oh, maldito respeito humano, que arrasta as almas ao inferno. Para melhor fazê-los ver sua baixeza, os mostrarei: 1º. O quanto ofende a Deus o respeito humano, ou seja, a vergonha de fazer o bem; 2º. Quão débil e mesquinho de espírito, revela ser àquele que o comete.

I – Não nos ocupemos, meus irmãos, daquela primeira classe de ímpios que empregam seu tempo, sua ciência e sua miserável vida em destruir, se pudessem, nossa santa religião. Estes desgraçados parecem não viver senão para tornar insignificantes os sofrimentos e os méritos da morte e paixão de Jesus Cristo. Têm empregado uns, sua força, outros sua ciência, para quebrar a pedra sobre a qual Jesus Cristo edificou Sua Igreja, que é nossa santa religião, a qual subsistirá a despeito de todos os seus esforços.
Com efeito, meus irmãos, no que resultou toda a fúria dos perseguidores da Igreja, dos Neros, dos Maximinianos, dos Dioclecianos, de tantos outros que julgaram faze-la desaparecer da terra com a força de suas armas? Sucedeu-se exatamente o contrário: O sangue de tantos mártires, como disse Tertuliano, somente serviu para fazer florescer ainda mais a religião; aquele sangue era uma semente de cristãos, que produzia a cem por um. Desgraçados! O que fez a eles esta santa e nobre religião para que assim a persigais, quando somente ela, pode fazer o homem feliz aqui na terra? Ai! Como choram e gemem agora nos infernos, onde conhecem claramente que esta religião, contra a qual se desenfrearam, poderia ter-lhes levado ao Paraíso! Mas, vãos e inúteis lamentos!
Olhai igualmente a esses outros ímpios que fizeram o quanto esteve em suas mãos para destruir nossa santa religião com seus escritos, um Voltaire, Um Rousseau, um Diderot, um D’Alembert, um Volney e tantos outros que passaram a vida vomitando com seus escritos quanto podia inspirar-lhes o demônio. Ai! Muito mal fizeram, é verdade; muitas almas perderam, arrastando-as consigo ao inferno; mas não puderam destruir a religião como pensavam. Longe de quebrar a pedra sobre a qual Jesus Cristo edificou sua Igreja, que há de durar até o fim do mundo, se chocaram contra ela. Onde estão agora estes desventurados ímpios? Ai! No inferno onde choram sua desgraça e a de todos aqueles, que consigo arrastaram.
Nada digamos tampouco, irmãos, de outra classe de ímpios que, sem manifestarem-se abertamente inimigos da religião, da qual conservam, todavia algumas práticas externas se permitem, não obstante, certos gracejos, sobre a virtude ou piedade daqueles a quem não se sentem com ânimo de imitar. Diz-me, amigo, que te tem feito esta religião que herdastes dos teus antepassados, que eles tão fielmente praticaram diante de seus olhos, da qual tantas vezes lhe disseram que somente ela pode fazer a felicidade do homem na terra, e que, ao abandoná-la, não podíamos senão sermos infelizes? E aonde pensas que te conduziram amigo, teus comentários ímpios? Ai! Pobre amigo! Ao inferno, para chorares a tua cegueira.
Tampouco nada diremos desses cristãos que só o são de nome; que praticam seus deveres de cristãos de um modo tão miserável, que há de morrer-se de compaixão (por eles). Vereis que fazem suas orações com fastio, dissipados, sem respeito. Os vereis na Igreja sem devoção; para eles, a santa Missa começa sempre tão prontamente e acaba demasiado tarde; o sacerdote nem ( bem) desceu do altar, e eles já estão na rua. Da freqüência dos Sacramentos, nem falemos; se alguma vez se aproximam deles para recebê-los, seu ar de indiferença vai apregoando que absolutamente não sabem o que fazem. Tudo o que diz respeito ao serviço de Deus o praticam com um tédio espantoso. Bom Deus! Quantas almas perdidas por toda a eternidade! Deus meu! Quão pequeno há de ser o número dos que entram no reino dos céus, quando tão poucos fazem o que devem por merecê-lo!
Mas onde estão – me direis – os que se fazem culpáveis de respeito humano? Atentai-me um instante, meus filhos, e já saberão. Prontamente vos direi com São Bernardo que por qualquer ângulo que se olhe o respeito humano, que é a vergonha de cumprir os deveres da religião por causa do mundo, em tudo revela ele, menosprezo de Deus, de suas graças e cegueira da alma. Digo, em primeiro lugar, meus filhos, que a vergonha de praticar o bem, por medo do desprezo e dos escárnios de alguns ímpios miseráveis ou de alguns ignorantes, é um assombroso menosprezo que fazemos da presença de Deus, ante a qual, estamos sempre e que no mesmo instante poderia nos lançar no inferno. E por que motivo, meus filhos, esses maus cristãos zombam de vós e ridicularizam a vossa devoção? Ah! Meus filhos! Eu vos direi a verdadeira causa: é que, não tendo virtude para fazer o que vós fazeis, lhes têm aversão, porque com vossa conduta, despertais remorsos em suas consciências; mas estais bem seguros de que seus corações, longe de despreza-los, os têm em grande estima. Se eles têm necessidade de um bom conselho ou de alcançar de Deus alguma graça, não creiais que procuram os que se portam como eles, mas sim àqueles mesmos de quem zombaram, pelo menos com palavras. Envergonhas-te, amigo, de servir a Deus, por temor de ver-te desprezado? Olha Àquele que morreu nesta cruz; pergunta-lhe se se envergonhou de ser desprezado, e de morrer da maneira mais humilhante naquele infame patíbulo. Ah! Que ingratos somos para com Deus, que parece achar sua glória em fazer publicar de século em século que nos têm escolhido por filhos seus! Oh! Deus meu! Que cego e desprezível é o homem que teme um miserável “que dirão?”, e não teme ofender a um Deus tão bom! Digo, além disso, que o respeito humano nos faz desprezar todas as graças que o Senhor nos mereceu com sua paixão e morte. Sim, filhos meus, pelo respeito humano inutilizamos todas as graças que Deus tem destinado para salvar-nos. Oh! Maldito respeito humano, que às almas arrasta ao inferno!
Em segundo lugar, digo que o respeito humano encerra a cegueira mais deplorável. Ai! Não detemos a atenção no que perdemos. Ah! Filhos meus! Que desgraça para nós! Perdemos a Deus, ao qual nenhuma coisa poderá jamais substituir. Perdemos o céu, com todos os seus bens e delícias. Mas há ainda outra desgraça, é que tomamos o demônio por pai e ao inferno com todos os seus tormentos por nossa herança e recompensa. Trocamos nossas doçuras e gozos eternos em penas e lágrimas. Ai! Amigo, em que pensas? Como terás que arrepender-se por toda a eternidade! Oh! Meu Deus! Podemos pensar nisso e ainda assim vivermos escravos do mundo?
É verdade – me direis – que quem por temor ao mundo não cumpre seus deveres de religião é bem desgraçado, posto que nos diz o Senhor que a quem se envergonhar de servi-lO diante dos homens, Ele se envergonhará de reconhece-lo diante de seu Pai no dia do juízo ( cf. S. Mat; X,33). Deus meu! Temer ao mundo; e por quê? Sabendo como sabemos que é absolutamente necessário ser desprezado pelo mundo para agradar a Deus. Se temias ao mundo, não devias haver-te feito cristão. Sabias bem que nas sagradas águas do batismo fazias juramento na presença do próprio Jesus Cristo; que renunciavas ao mundo e ao demônio; que te obrigavas a seguir a Jesus Cristo levando sua cruz, coberto de opróbrios e desprezos. Temes ao mundo? Pois bem, renuncia ao teu batismo, e entrega-te a esse mundo, ao qual temes tanto desagradar.
Mas quando é – me direis – que agimos nós por respeito humano? Escuta bem, meu amigo. É um dia em que, estando na feira, ou em uma casa onde se come carne em dia proibido, se te convidam a comê-la também, e tu contentando-te em baixar os olhos e ruborizar-te em vez de dizer que és cristão e que tua religião te proíbe, a come com os demais, dizendo: Se não faço como eles, debocharão de mim – Debocharão de ti amigo? Ah! Tens razão; e é uma verdadeira lástima! – Oh! É que faria, ainda muito mais mal, sendo a causa de todos os disparates que diriam contra a religião, que o que faço comendo carne – como assim? – farias ainda mais mal? Parece-te bem que os mártires, por temor das blasfêmias e juramentos de seus perseguidores, houvesse todos, renunciado a sua religião? Se outros agem mal, tanto pior para eles. Ah! Diga-se melhor, não é bastante que outros desgraçados crucifiquem a Jesus com sua má conduta, para que tu também te juntes a eles para fazer sofrer ainda mais a Jesus Cristo? Temes que zombem de ti? Ah! Infeliz! Olha a Jesus Cristo na cruz, e verás quanto por ti (ele) tem feito.
De modo que, não sabes tu quando negas a Jesus Cristo? É um dia em que, estando em companhia de duas ou três pessoas, parece que caíram suas mãos, ou que não sabes fazer o sinal da cruz, e olhas se tem os olhos fixos em ti, e te contentas em dizer sua benção e ação de graças na mesa mentalmente, ou te retiras a um canto para dizê-las. É quando, ao passar diante de uma cruz, te fazes de distraído, ou dizes que não foi por nós que Deus morreu nela.
Não sabes tu quando tens respeito humano? É um dia em que, achando-te em um lugar* onde se dizem obscenidades contra a santa virtude da pureza ou contra a religião, não tens coragem para repreender aos que assim falam, antes ]ao contrário, por temor de suas gozações, tu sorris. – É que não há – dizes – outro remédio, se não quero ser objeto de contínua zombaria. – Temes que zombem de ti? Por este mesmo temor negou São Pedro ao divino Mestre; mas o temor não lhe livrou de cometer um grande pecado, que chorou em seguida toda a sua vida.
Não sabes tu quando tens respeito humano? É quando o Senhor te inspira o pensamento de ir confessar-te, e sentes que tens necessidade disso, mas pensas que zombariam de ti chamando – o de devoto. É quando te vem o pensamento de assistir a santa Missa durante a semana, e nada te impede de ir; mas dizes a ti mesmo que zombariam de ti e que diriam: Isto é bom para quem nada tem a fazer, para os que vivem de renda.
Quantas vezes este maldito respeito humano te tem impedido de assistir ao catecismo e à oração da tarde! Quanta vez, estando em tua casa, ocupado em algumas orações e leituras, tens te escondido por vergonha ao ver que alguém chegava! Quantas vezes, este respeito humano te tem feito quebrar a lei do jejum ou da abstinência por não atrever-te a dizer que jejuavas ou comias de vigília! Quantas vezes deixas, de dizer o Ângelus diante das pessoas, ou te tens contentado em dizê-lo para ti, ou tens saído do local donde estavas com outros para dizê-lo fora!
Quanta vez tem omitido as orações da manhã ou da noite por achar-se com outros que não as fazem; e tudo isto por temor de que zombassem de ti! Anda pobre escravo do mundo, aguarda o inferno donde serás precipitado; não te faltará ali tempo para lamentar a falta do bem que o mundo te tem impedido de praticar.
Oh, bom Deus! Que triste vida leva o que quer agradar ao mundo e a Deus! Não, amigo, te enganas. Além de que viverás sempre infeliz, não hás de conseguir agradar a Deus e ao mundo; é coisa tão impossível quanto por fim a eternidade. Ouve um conselho que eu vou te dar, e serás menos desgraçado: entrega-te inteiramente a Deus ou ao mundo; não busques nem sigas mais que a um amo; mas uma vez escolhido, não lhe deixes já. Acaso não te recordas do que te disse Jesus Cristo no Evangelho: Não podes servir a Deus e ao mundo, ou seja, não podes seguir ao mundo com seus prazeres e a Jesus Cristo com sua cruz. Não é que te faltem planos para ser, ora de Deus, ora do mundo. Digamo-lo com mais clareza: é lastimável que tua consciência, que teu coração te permita freqüentar pela manhã a sagrada mesa e o baile à tarde; passar uma parte do dia na igreja e outra parte na taberna ou no jogo, falar um pouco do bom Deus e outro tanto de obscenidades ou de calúnias contra teu próximo; fazer hoje um favor a teu vizinho e amanhã uma ofensa; em uma palavra, ser bom e portar-se bem e falar de Deus em companhia dos bons, e obrar o mal em companhia dos malvados.
Ai! Meus filhos! A companhia dos perversos nos leva a agir mal. Quantos pecados não evitaríamos, se tivéssemos a felicidade de apartar-nos de pessoas sem religião! Refere Santo Agostinho que muitas vezes, achando-se entre pessoas perversas, sentia vergonha de não iguala-las na maldade, e, para não ser tido por menos, ainda se gloriava do mal que não havia cometido.
Pobre cego! Quão digno és de lástima! Que triste vida!... Ah! Maldito respeito humano! Quantas almas arrastas ao inferno! De quantos crimes és a causa! Ah! Quão culpável é o desprezo das graças que Deus nos quer conceder para salvar-nos Ai! Quantos e quantos tem começado o caminho de sua reprovação pelo respeito humano, porque, à medida que iam desprezando as graças que Deus lhes concedia, a fé ia se amortecendo em suas almas; e pouco a pouco iam sentindo menos a gravidade do pecado, a perda do céu, as ofensas, que pecando faziam a Deus. Assim acabaram por cair em uma completa paralisia, ou seja, por não dar-se conta do infeliz estado de sua alma; dormiram no pecado e a maior parte morreu nele.
No Sagrado Evangelho lemos que Jesus Cristo em suas missões cumulava de toda a sorte de graças os lugares por onde passava. Uma vez era um cego, a quem devolvia a vista; um surdo a quem devolvia a audição, um leproso a quem curava de sua lepra, mais além um defunto, a quem restituía a vida. Contudo, vemos que eram muito poucos os que anunciavam os benefícios que acabavam de receber. E por que isto meus filhos? É que temiam os judeus, por que não se podia ser amigo dos judeus e de Jesus. E assim, quando se achavam com os judeus,pareciam aprová-los com o seu silêncio. Eis aqui precisamente o que nós fazemos: quando nos achamos a sós, ao refletirmos sobre todos os benefícios que temos recebido do Senhor não podemos senão testificar-lhe nosso reconhecimento por havermos nascidos cristãos, por havermos sido confirmados; mas quando estamos com os libertinos, parece que compartilhamos de seus sentimentos, aplaudindo com nossos sorrisos ou nosso silêncio suas impiedade. Oh, que indigna preferência, exclama São Máximo! Ah! Maldito respeito humano, que arrastas almas ao inferno! Que tormento não passará, meus filhos, uma pessoa que assim quer viver e agradar a dois contrários! Temos disso um eloqüente exemplo no Evangelho. Lemos ali que o rei Herodes se havia enredado em um amor criminoso com Herodíades. Tinha esta infame cortesã uma filha que dançou diante dele com tanta graça que lhe prometeu o rei quanto ela lhe pedisse, ainda que fosse a metade de seu reino. Absteve-se bem a infeliz de pedi-lo, porque não era bastante; foi-se a encontrar com sua mãe para tomar conselho sobre o que devia pedir ao rei, e a mãe mais infame que sua filha, apresentando-lhe uma bandeja, lhe disse: “Vá e pede que ponha neste prato a cabeça de João Batista, para trazê-la.”. Fez isso para vingar-se, por haver-lhe João Batista jogado em sua cara, sua má vida. Ficou o rei surpreendido de espanto ante este pedido; pois por um lado apreciava a São João Batista, e lhe pesava a morte de um homem tão digno de viver. Que iria fazer? Que partido iria tomar? Ah! Maldito respeito humano, o decidirás? Herodes não quisera decretar a morte de João Batista; mas por outro lado, teme que zombem dele, porque, sendo rei, não manteve sua palavra. Vê, diz por fim o infeliz a um dos verdugos, vai e corta a cabeça de João Batista; prefiro deixar que grite minha consciência, a que zombem de mim. Mas que horror! Ao aparecer a cabeça na sala, os olhos e a boca, ainda que fechados, pareciam reprovar-lhe seu crime e ameaçar-lhe com os mais terríveis castigos. Ante sua vista, Herodes empalidece e se estremece. Ai! Que o que se deixa guiar pelo respeito humano é bem digno de lástima.
È verdade, que o respeito humano não nos impede de fazer algumas boas obras. Mas quantas vezes, nas mesmas boas obras, nos fazem perder os méritos, que não faríamos se não esperássemos ser por elas louvados e estimados pelo mundo! Quantos não vêm à igreja, senão por respeito humano, pensando que, desde o momento em que uma pessoa não pratica a religião, pelo menos exteriormente, não se tem confiança nela, pois como se costuma dizer: Onde não há religião, tampouco há consciência! Quantas mães que parecem ter muito cuidado com seus filhos, o fazem somente para serem estimadas aos olhos do mundo! Quantos que se reconciliam Com seus inimigos somente para não perder a estima das pessoas! Quantos que não seriam tão corretos, se não soubessem que sem isso perderiam o louvor mundano! Quantos que são mais reservados na igreja por causa do mundo! Oh! Maldito respeito humano, que com suas boas obras feitas em vão, ao invés de conduzir muitos cristãos ao céu, nada fazem senão empurra-los ao inferno!
Mas- me direis – é que é muito difícil que o mundo se intrometa em tudo que alguém faz. (...) Não temos de esperar nossa recompensa do mundo, mas sim, somente de Deus. Se me louvam, sei bem que não mereço, porque sou pecador; se me desprezam, nada há de extraordinário nisso, tratando-se de um pecador como eu, que tantas vezes tem desprezado com seus pecados ao senhor; muito mais mereceria. Por outro lado, não nos tem dito Jesus Cristo: Bem aventurados os que são desprezados e perseguidos? E quem são os que os desprezam? Ai! São alguns pecadores infelizes, que, não tendo o valor de fazer o que vós fazeis, para dissimular sua vergonha queriam que obrásseis como eles; algum pobre cego que, bem longe de desprezá-los, deveria passar a vida chorando sua infelicidade. Suas zombarias demonstram o quão são dignos de lástima e de compaixão. São como uma pessoa que tem perdido o juízo, que corre pelos bosques, se arrasta pela terra ou se atira aos precipícios, gritando aos demais que façam o mesmo; grite o quanto quiser, deixai-o fazer, e compadecei-vos, porque não conhece a sua desgraça. Da mesma forma meus filhos, deixemos a esses pobres infelizes que gritem e zombem dos bons cristãos; deixemos a esses insensatos em sua demência; deixemos a esses cegos em suas trevas; escutemos os gritos e gemidos dos réprobos; mas nada temamos, sigamos nosso caminho; fazem mal a si mesmos e não a nós; tenhamos compaixão, e não nos separemos de nossa linha de conduta.
Sabeis por que zombam de vós? Porque vêem que tens medo e que pela menor coisa se envergonham. Não é de vossa piedade que eles zombam, mas sim de vossa inconstância, e de vossa frouxidão em seguir a vosso capitão. Tomai o exemplo dos mundanos; olhai com que audácia eles seguem aos seus. Não vês como se orgulham de serem libertinos, bebedores, astutos, vingativos? Olhai a um impuro; se envergonha acaso de vomitar suas obscenidades diante das pessoas? E por que isto, meus filhos? Porque os mundanos se vêem constrangidos a seguir seu amo, que é o mundo; não pensam nem se ocupam mais do que em agradar-lhe; por mais sofrimentos que lhes custem, nada é capaz de detê-los. Vede aqui, meus filhos, o que faríeis também vós se quisesse imitá-los. Não temerias ao mundo nem ao demônio; não buscarias nem quererias mais que o que possa agradar ao vosso Senhor, que é o próprio Deus. Há de se convir, que os mundanos, são muito mais constantes em todos os sacrifícios que fazem para agradar a seu amo, que é o mundo, que nós em fazer o que devemos para agradar a nosso Senhor, que é Deus.

II – Mas agora comecemos de outra maneira. Diga-me amigo, porque zombas dos que fazem profissão de piedade, ou, para que o entendas melhor, dos que gastam mais tempo que você na oração, dos que freqüenta mais constantemente do que você os Sacramentos, dos que fogem dos aplausos do mundo? Uma de três, meus filhos: ou é que considerais estas pessoas como hipócritas, ou que zombas da piedade em si, ou é, enfim, que lhe causa nojo ver que eles valem mais que vós.
Iº. Para chamá-los de hipócritas seria preciso que houvésseis lido em seu coração, e estivésseis plenamente convencidos de que toda a sua devoção é falsa. Pois bem, meus filhos, não parece natural, quando vemos uma pessoa fazer alguma boa obra, pensar que seu coração é bom e sincero? Sendo assim, vede quão ridículos resultam vossa linguagem e vossos juízos. Vês em vosso próximo um exterior bom, e dizeis ou pensais que seu exterior nada vale. Se lhe mostram um fruto bom; indubitavelmente pensais que a árvore de onde ele veio é de boa qualidade; e formais dele, um bom juízo. Por outro lado, tratando-se de julgar as pessoas de bem, dizeis o contrário: o fruto é bom, mas a árvore que o deu, não vale nada. Não, meus filhos, não, não sois tão cegos nem tão insensatos para disparatar desta maneira.
2º. Digo, em segundo lugar, que zombais da piedade em si, mas me engano; não zombais de tal pessoa porque suas orações são longas, freqüentes ou feitas com reverência. Não, não é isto, porque também vós orais (pelo menos, se não o fazeis faltais a um de vossos primeiros deveres). É acaso porque ela freqüenta os Sacramentos? Mas tampouco vós haveis passado o tempo de vossa vista sem aproximar-vos dos santos Sacramentos; se os tem visto no tribunal da penitência, se os tem visto aproximar-se à sagrada mesa. Não desprezais, pois, a tal pessoa porque cumpre melhor que vós seus deveres de religião, estando perfeitamente convencidos do perigo em que estamos de nos perdermos, e, por conseguinte, da necessidade que temos de recorrer constantemente à oração e aos Sacramentos para perseverar na graça do Senhor, e sabendo que depois deste mundo nenhum recurso resta: bem ou mal, forçoso será permanecer na sorte que, ao sair dele, nos espera por toda a eternidade.
3ª. Não, meus filhos, nada disto é o que nos enoja na pessoa de nosso próximo. É que, não tendo, a coragem de imitá-lo, não queremos sofrer a vergonha de nossa frouxidão; antes queremos arrastar-nos a seguir nossas desordens e nossa vida indiferente. Quantas vezes nos permitimos dizer: para que servem tanta dissimulação, estar tanto ( tempo) na igreja, madrugar tanto para ir à ela, e outras coisas do tipo? Ah! Meus filhos! È que a vida das pessoas seriamente piedosas é a condenação de nossa vida frouxa e indiferente. Bem fácil é compreender que sua humildade e o desprezo que elas têm de si mesmas condena nossas vidas orgulhosas, que nada sabe sofrer, que queria a estima e o louvor de todos. Não há dúvida de que sua doçura e sua bondade para com todos, condena* nossas impetuosidades e nossa cólera; é coisa certa que sua modéstia, sua circunspeção em toda a sua conduta condena nossa vida mundana e cheia de escândalos. Não é realmente só isso o que nos molesta na pessoa de nossos próximos? Não é isto o que nos enfada quando ouvimos falar bem dos demais e anunciar suas boas obras? Sim, não há dúvida de que sua devoção, seu respeito à Igreja nos condena, e contrasta com nossa salvação. Da mesma maneira que nos sentimos naturalmente inclinados a escusar, nos demais os defeitos que há em nós mesmos, somos propensos a desaprovar neles as virtudes que não temos a coragem de praticar. Assim estamos vivendo todos os dias. Um libertino se alegra de achar outro libertino que lhe aplauda em suas desordens; longe de desaconselhá-lo, lhe alenta a prosseguir nelas. Um vingativo se compraz na companhia de outro vingativo, para que se aconselhem mutuamente, a fim de achar o meio de vingar-se de seus inimigos. Mas ponha uma pessoa regrada em companhia de um libertino, uma pessoa sempre disposta a perdoar com outra vingativa; vereis como em seguida os malvados se desenfreiam contra os bons e se lhes caem em cima. E porque isto, meus filhos, senão porque, não tendo a virtude de obrar como eles, queriam poder arrastá-los para o seu lado, a fim de que a vida santa que estes levam não seja uma contínua censura às usas próprias vidas? Mas, se quereis compreender a cegueira, dos que zombam das pessoas que cumprem melhor do que eles seus deveres cristãos, escuta-me um momento.
Que pensarias de um pobre que tivesse inveja de um rico, se ele não fosse rico senão porque não quer sê-lo? Não lhe dirias: amigo, por que hás de dizer mal desta pessoa por causa de sua riqueza? De ti somente depende ser tão rico como ela, e ainda mais se quiseres, pois, de igual maneira, meus filhos, por que nos permitimos vituperar aos que levam uma vida mais regrada do que a nossa? Somente de nós depende ser como eles e ainda melhores. O (fato de) que os outros praticam a religião com mais fidelidade que nós, não nos impede de sermos tão honestos e perfeitos como eles, e mais, todavia, se quisermos sê-lo.
Digo, em terceiro lugar, que as pessoas sem religião que desprezam a quem faz profissão dela...; mas me engano: não é que os desprezem, apenas aparentam, pois em seus corações os têm em grande estima. Quereis uma prova disso? A quem recorrerá uma pessoa, ainda que não tenha piedade, para achar algum consolo em suas penas, algum alívio em sua tristeza e dores? Crê que irá buscá-lo em outra pessoa como ela? Não, meus amigos, não. Conhece muito bem que uma pessoa sem religião não pode consolar-lhe e dar-lhe bons conselhos. Irá aos mesmos de quem antes zombava. Fartamente convencido está de que somente uma pessoa prudente, honesta e temerosa de Deus pode consolá-lo e dar-lhe algum alívio em suas penas. Quantas vezes, de fato, filhos meus, achando-nos agoniados pela tristeza ou por qualquer outra miséria, temos acudido a alguma pessoa prudente, e boa e, ao cabo de um quarto de hora de conversação, nos temos sentido totalmente mudados e nos retiramos dizendo: Que ditosos são os que amam a Deus e também os que vivem ao seu lado. Eis que eu me entristecia, não fazia mais que chorar, me desesperava; e, com uns momentos na companhia desta pessoa, me tenho sentido totalmente consolado. Bem certo é quanto ela me tem dito: que o Senhor não tem permitido isto senão para o meu bem, e que todos os santos e santas haviam passado penas maiores, e que mais vale sofrer neste mundo que no outro. E assim acabamos por dizer: quando se me apresentar outra pena, não demorarei em acudir-me a ele de novo me busca de consolação. Oh, santa e formosa religião! Quão felizes são os que te praticam sem reservas, e quão grandes e preciosos são os conselhos e doçuras que nos proporcionas...!
Já vês, pois, meus filhos, que zombais de quem não merecem. Que deveis pelo contrário, estar infinitamente agradecidos a Deus por ter entre vós algumas almas boas que sabem aplacar a cólera do Senhor, sem o qual pronto seríamos esmagados por sua justiça. Se o pensais bem, uma pessoa que faz bem suas orações, que não busca senão agradar a Deus, que se compraz em servir ao próximo, que sabe desprender-se até mesmo do necessário para ajudar-lhe, que perdoa de bom grado aos que lhes fazem alguma injúria, não podes dizer, que se porte mal, antes ao contrário. Tal pessoa não é senão mui digna de ser louvada e estimada por todo mundo. Sem dúvida, a esta pessoa é a quem criticais; mas, não é verdade que ao fazê-lo, não pensais no que dizes? Ah! É certo, os diz vossa consciência; ela é mais feliz que nós. Ouve amigo meu, escuta-me, e eu te direi o que deves fazer: bem longe de vituperar desta classe de pessoas e zombar-te delas, hás de fazer todos os esforços possíveis por imitar-las, unir-te todas as manhãs às suas orações e a todos os atos de piedade que elas façam durante o dia. Mas direis para fazer o que elas fazem é necessário violentar-se e sacrificar-se demasiadamente. Custa muito trabalho! ... Não tanto como quereis vós supor, Meus filhos. Tanto custa fazer bem as orações da manhã e da noite? Tão difícil é escutar a palavra de Deus com respeito, pedindo ao Senhor a graça de aproveitá-la? Tanto se necessita para não se sair da Igreja durante as instruções? Para abster-se de trabalhar aos domingos? Para não comer carne nos dias proibidos e desprezar aos mundanos empenhados em perder-se?
Se é que temeis que os chegue a faltar à coragem dirigi vossos olhos à Cruz donde morreu Jesus Cristo e vereis como não os faltará alento. Olhai as multidões de mártires, que sofreram dores que vós não podeis compreender, por temor de perderem suas almas. Os parece que se arrependem agora de haverem desprezados o mundo e o que dirão?
Concluamos meus filhos, dizendo: Quão poucas são as pessoas que verdadeiramente servem a Deus! Uns ocupam-se de destruir a religião, se fosse possível, com a força de suas armas, como os reis e imperadores pagãos; outros com seus escritos ímpios quiseram desonrá-la e destruí-la se pudessem; outros zombam dela nos que a praticam; outros, enfim, sentem desejo de praticá-la, mas têm medo de fazê-lo diante do mundo. Ai! Meus filhos! Quão pequeno é o número dos que andam pelo caminho do céu, pois só contam nele os que, continua e valorosamente combatem ao demônio e suas sugestões, e desprezam ao mundo com todos os seus enganos! Posto que, esperamos nossa recompensa e nossa felicidade somente de Deus, por que, meus filhos, amar ao mundo, havendo prometido com juramento aborrecê-lo e despreza-lo para não seguir a não ser Jesus Cristo, levando nossa cruz todos os dias de nossa vida? Feliz, filhos meus, aquele que não busca senão a Deus e despreza todo o resto. Esta é a felicidade...



Extraído do Livro "Sermones Escogidos Vol. I " Editora Apostolado Mariano, tradução livre por Marcos Paulo de Jesus Siqueira: marquitosiq@yahoo.com.br

UM PEQUENO APERITIVO SOBRE: O PRIMADO DE PEDRO

Um pequeno aperitivo sobre:

O PRIMADO DE PEDRO

Ao analisar a passagem de Mateus 16,17-19, conservada em grego, embora tenha sido escrita em hebraico, os especialistas analisando as construções das frases de Jesus, chegaram às seguintes conclusões:
1. O Macarismo “Feliz és tu...”, nos leva a traduzir o texto no sentido de uma proclamação de felicidade, muito freqüente nas Escrituras.
2. Simão Bar - Jona... Jesus menciona a filiação do discípulo, conforme o costume judeu. Modo de falar aramaico;
3. “Carne e Sangue” em linguagem semita designa a natureza humana com suas faculdades naturais;
4. “O Pai que está no céu” é outro semitismo;
5. O trocadilho “Tu és Pedro e sobre esta pedra...” não se entenderia em grego ( Petros, petra) nem em latim ( Petrus, petra). Supões o aramaico, em que o termo Kepha permanece invariável. “Tu és Kepha e sobre esta Kepha edificarei minha Igreja...”;
6. “As portas do inferno...” ora construída sobre a rocha que é Pedro, a Igreja de Cristo não sucumbirá aos ataques do mal, será indefectível;
7. “Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus”. Sinal do poder, conforme a linguagem semítica do profeta Isaías22, 20-22: “Naquele dia, chamarei o meu servo Eliacim filho de Helcias... Porei sobre seus ombros a chave da Casa de Davi; ele abrirá, e não haverá quem feche; fechará, e não haverá quem abra.”.
8. “Tudo que ligares sobre a terra... tudo o que desligares...” tanto a linguagem nos céus, como “ligar-desligar” típica linguagem semítica, como na linguagem rabínica, designando poder de excomunhão que podia ser imposta (de modo a ligar) ou retirada (de modo a desligar).

Assim concluíram os especialistas, após o exame crítico do texto de Mateus 16,17-19, que Jesus quis confiar a São Pedro a sua Igreja (como detentor das chaves do Reino), o poder de admitir neste Reino ou de excluir a quem Pedro julgasse oportuno. As sentenças do Apóstolo Pedro têm caráter decisivo e são confirmados no céu pelo Senhor Deus.
Há, porém, quem objete que a rocha sobre a qual Jesus quis construir a sua Igreja, não era Pedro, mas a confissão de Pedro. Em resposta, os especialistas observam: Todo o contexto de Mt 16,18 versa em torno da pessoa do Apóstolo: é a São Pedro diretamente que Jesus dirige as palavras: “Bem-aventurado és tu..., te revelou..., eu te digo”. Foi o nome de Pedro que Cristo mudou e é este nome mudado que Cristo alude interpretando-o conforme o costume bíblico, como sinal de uma nova tarefa confiada a Pedro: “Simão, filho de Jonas... Pedro (pedra)”.


SÃO PEDRO EM ROMA

Os Santos Padres dos primeiros séculos do cristianismo falam assiduamente do martírio de São Pedro e São Paulo em Roma. A presença de Pedro em Roma é insinuada pela 1ª Pedro, que foi redigida em 64 da Babilônia (5,13) que designa segundo o Novo Testamento a capital do Império Romano.
Alguns anos mais tarde em 96-98, São Clemente de Roma, escrevia aos Coríntios:
“Lancemos os olhos sobres os excelentes Apóstolos: Pedro foi para a glória que lhe era devida. Foi por efeito da inveja e da discórdia que Paulo mostrou o preço da paciência... Depois de ter ensinado a justiça ao mundo inteiro... ele deu testemunho diante daqueles que governaram e assim deixou o mundo... A esses homens juntou-se grande multidão de eleitos que, em conseqüência da inveja, padeceram muitos ultrajes e torturas, deixando entre nós magníficos exemplos”. (5,3-7; 6,1).
Por volta de 107 (!), Santo Inácio de Antioquia escrevia aos Romanos:
“Não é como Pedro e Paulo que vos dou ordens; eles foram Apóstolos: eu não sou senão um condenado” (Rm 4,3).
Entre 165 e 170, o bispo Dionísio de Corinto atestava aos romanos:
“Tendo vindo ambos a Corinto, os dois Apóstolos Pedro e Paulo nos formaram na doutrina evangélica: a seguir indo-se para a Itália (Roma), eles vos transmitiram os mesmos ensinamentos e sofreram o martírio simultaneamente”. (em Eusébio de Cesaréia, História da Igreja II 25,8).
E no início do século III, era Orígenes quem escrevia:
“Pedro finalmente, tendo ido para Roma, lá foi crucificado com a cabeça para baixo” ( ibid, III,1).

OS PAPAS SÃO OS SUCESSORES DE SÃO PEDRO

Seria longo demais se quisesse apresentar aqui todos os documentos e fatos históricos que comprovam o primado do Bispo de Roma, ou seja, dos Papas. Limitar-me-ei aos cinco primeiros séculos, a partir dos Apóstolos.

· SÉCULO I

1. São Clemente de Roma: terceiro sucessor de São Pedro enviou delegados e uma carta em mãos próprias aos fiéis de Corinto, exortando-os à mútua concórdia e submissão a seus superiores eclesiásticos, em virtude de haver nesta Igreja distúrbios e desavenças provocadas por alguns jovens. Os fiéis de Corinto receberam os delegados e a mensagem do PAPA com muita alegria e júbilo, e conservaram a epístola junto às Escrituras durante quase um século.

“Devido às calamidades súbitas e repetidas e infortúnios que nos aconteceram, temos que reconhecer que nos atrasamos em nossa atenção sobre as disputas entre vocês,... Se qualquer um desobedece às coisas que foram ditas por Deus através de nós, isto é, que vocês restabeleçam seus líderes, estarão se envolvendo em transgressão e num grande perigo. Muito nos alegrará se vocês obedecerem às coisas que nós escrevemos pelo Espírito Santo...”.
(Carta aos Coríntios 1:1, 58:2-59:1, 63:2 – Ano 80).

2. Pastor de Hermas: Escreve na mesma época de São Clemente, o seguinte: “Então escrevi duas cartas reservadas e enviei para Clemente (o bispo de Roma) e uma para Grapte. Clemente enviará para as cidades, porque é o seu dever (como Papa)...” (O Pastor 2:4, 3).

3. Santo Inácio de Antioquia: escreve por volta dos anos 107-110: “Inácio... também para a Igreja que preside, no local dos romanos, merecedora de Deus, de honra, de benção, de elogio, de sucesso, de santificação, e porque preside o amor...” (Carta para os romanos 1:1).
“Você não invejou ninguém, mas a outros ensinou. Eu só desejo que aquilo que foi ordenado em suas instruções possa permanecer em vigor” (ibid, 3:1).

4. Dionísio de Corinto: Ano 170, escreve: “Desde o princípio foi costume fazer o bem a todos os irmãos de vários modos e enviar contribuições para todas as Igrejas em toda a cidade...Este é o costume que o seu santificado bispo Soter não só preservou, mas está aumentando, fornecendo uma abundância de materiais aos santos e urgindo com palavras consoladoras, como um pai amoroso aos seus filhos, os irmãos peregrinos...! ( Carta para o Papa Soter, História da Igreja, Eusébio de Cesaréia 4:23:9).
“Hoje nós observamos o dia santo do Senhor, no qual lemos sua carta (Papa Soter). Sempre que nós lemos cesta carta na igreja, nos alegramos, como também lemos a antiga carta de Clemente ( Papa)...” ( ibid, 4:23:11).

5. Os Mártires de Lion: Ano 175, relatam: “E quando uma dissensão surgiu sobre estas pessoas ditas montanistas, os irmãos na Gália mais uma vez... enviaram cartas para os irmãos na Ásia e na Panfília e, além disso, para Eleutério que era então o bispo dos romanos que negociava para a Igreja a paz...” ( ibid, 5:3:4).
“E os mártires recomendaram a Irineu também, naquele momento (ano 175), era presbítero (padre) da comunidade de Lion, para bispo de Roma, fazendo um elogio especial...” Mais uma vez e sempre rezaremos e nos alegraremos em Deus por vós. Papa Eleutério. Esta carta encomendamos a nosso irmão e companheiro Irineu, nós imploramos recebei-o com carinho...” ( ibid. 5:41-2).

6. Santo Irineu de Lion: Escreve em 189: “já que seria demasiado longo enumerar os sucessores dos Apóstolos em todas as comunidades, só nos ocuparemos com uma destas: a maior e a mais antiga, conhecida por todos, fundada e constituída pelos dois gloriosíssimos Apóstolos Pedro e Paulo. Mostraremos que a Tradição Apostólica que ela guarda, e a fé que ela comunicou aos homens chegaram a nós através da sucessão regular dos bispos, confundindo assim todos aqueles que... querem procurar a verdade onde não se pode encontrar. Com esta comunidade, de fato, dada a sua autoridade superior, é necessário que esteja de acordo toda a comunidade, isto é os fiéis do mundo inteiro; nela sempre foi considerada a tradição dos Apóstolos.” (Contra Heresias 3:3, 2).

7. Sobre o Papa Vítor, ano 190, há um importante relato do historiador Eusébio de Cesaréia (ano 312): “Uma pequena interrogação surgiu naquele momento, ano 190. Para as paróquias de toda a Ásia, como a mais velha tradição assegurada que no décimo quarto dia da lua, os judeus sacrificavam cordeiro, e neste dia era observado o banquete da Páscoa do Salvador... Mas não era o costume no resto do mundo... eles observavam a prática que, de origem apostólica, prevaleceu ao tempo presente, de terminar o jejum da Quaresma no dia da ressurreição do Senhor, domingo. Foram feitos vários Sínodos e Assembléias de bispos neste sentido, e tudo , com mútuo consentimento , prepararam um decreto eclesiástico, no que o mistério da Páscoa deveria ser celebrado no domingo, O DIA DO SENHOR, e que todos deveriam observar o fim do jejum pascal neste dia...”

“Logo após o Papa Vítor, que tudo presidiu como bispo de Roma, tentou cortar imediatamente da comunhão as igrejas de toda a Ásia, o dia 14 de Nissan. E ele escreveu cartas e declarou quem não obedecesse, estaria excomungado. Isto não agradou todos os bispos, e eles pediram para reconsiderar a excomunhão em nome da paz e da unidade, no amor da Igreja... Enviaram Irineu para prevenir o Papa, para não cortar as igrejas que observavam um costume tão antigo...” (História da Igreja 5:23 1-24:11).

8. Cipriano de Cartago, ano 251, nos relata sobre a Cátedra de Roma: “... cátedra de Pedro, a Igreja principal, donde se origina a unidade sacerdotal, isto é, a unidade dos bispos”. (Epist. 55,14).

“O julgamento de Atanásio deveria ser feito, não como está ocorrendo, mas de acordo com o cânon ecelsiástico. É ignorante aquele que esquece que o costume é escrever primeiro a nós, assim então, ser dada uma decisão justa deste lugar ( Roma?) Se então, qualquer suspeita foi levantada contra o bispo de Alexandria ( Santo Atanásio), isto deveria antes ter sido escrito à Igreja daqui em Roma. Mas agora depois de passarem por cima disto, eles querem nosso consentimento... Não é assim a Tradição que recebemos. O que escrevo é para o bem comum...Isto declaro, na pessoa do Santo Apóstolo Pedro, que represento ( o Papa Júlio)...” ( Carta em favor de Athanasius, conservada por Santo Atanásio no ano 341).

9. O Concílio de Sárdica, no ano 341, solenemente declara em seus cânones: “... quando um bispo perde o julgamento em algum caso (decidido pelos bispos da mesma categoria), se quiser pode ser julgado novamente... em honra do Apóstolo Pedro, deve escrever ao bispo de Roma, Júlio, de forma que se ele quiser, pode ser feito um novo julgamento, agora sob a supervisão dos legados de Júlio... “ (cânon 3).

“... Se algum bispo for deposto, pelo julgamento dos bispos de alguma província, e se ele assim desejar, pode recorrer ao bispo de Roma, para se familiarizar com o caso e emitir o julgamento final...” (cânon 4).


10. Optato de Milevi, no ano 367, nos deixa escritos que comprovam a obediência ao sucessor de Pedro, ao Bispo de Roma: “Na cidade de Roma, quem por primeiro se sentou na cátedra episcopal foi o Apóstolo Pedro, ele que era a CABEÇA DE TODA A IGREJA, denominado CEPHAS (ROCHA, PEDRA) de todos os Apóstolos, cátedra que mantém a unidade de todos. Os apóstolos nada decidiam sem estar em comunhão com esta ÚNICA cátedra ( de Roma)...
“Recorde a origem desta cátedra, todos que reinvidicam o nome da SANTA IGREJA CATÓLICA...” (O Cisma Donatista 2:2).

11. O Papa Damaso I, No ano 382, deixou por escrito o seguinte decreto: “Igualmente é decretado... anunciado a todos... A Santa Igreja Romana está colocada À FRENTE DE TODAS AS IGREJAS nas decisões de conciliar a paz entre outras igrejas ( espalhadas no mundo inteiro, fazendo a unidade da Igreja Católica), pois recebeu a primazia da Voz Evangélica de nosso Deus e Salvador que diz: TU ÉS PEDRO, E SOBRE ESTA PEDRA EU EDIFICAREI A MINHA IGREJA, E AS PORTAS DO INFERNO NÃO PREVALECERÃO CONTRA ELA, E EU DAREI A TI AS CHAVES DO REINO DOS CÉUS, E TUDO AQUILO QUE LIGARES NA TERRA SERÁ LIGADO NO CÉU, E TUDO AQUILO QUE DESLIGARES NA TERRA, SERÁ DESLIGADO NO CÉU. ( Mateus 16,18-19). Então reconheça a primazia da Igreja Romana, isto é do Apóstolo Pedro, que não tem mancha, e não manchará a ninguém...” ( Decreto de Damasus 3).

12. O documento do Sínodo de Ambrósio, no ano 389, nos relata o respeito e a obediência de toda a Igreja ao Papa: “Nós reconhecemos na carta de SUA SANTIDADE, o Papa Sirício, a vigilância do Bom Pastor. Ele que administra com fiel zelo, o poder a ele confiado, e como guarda do redil de Nosso Senhor Jesus Cristo ( Jô 10,7s), merece ser ouvido por todas as ovelhas de Deus e seguido por elas...” ( Carta Sinodal para o Papa Sirício).

13. São Jerônimo, no ano 396, escreve uma importante carta para o Papa Damaso, que em seu teor demonstra todo respeito, amor e obediência ao Santo Padre o Papa. Confira: “A nenhum outro eu quero seguir e estar em comunhão senão com Cristo e vossa beatitude (ele escreve ao Papa Damaso), quero dizer, com a cátedra de Pedro. Eu sei que SOBRE ESTA PEDRA A IGREJA FOI CONSTRUÍDA. Quem come o Cordeiro fora desta casa é profano. Qualquer um que não está com esta arca de Noé, isto é, com esta cátedra perecerá quando a inundação prevalecer...( Epístola 15:20)

Extraído do livro: Eu sou feliz por ser católico, de autoria do Padre Marcelo Rossi, págs. 51-60.

NOTA DO ADMINISTRADOR: De fato, estes textos são apenas uma pequena introdução ao tema do PRIMADO DE PEDRO, o texto do livro “LEGÍTIMA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA” de Lúcio Navarro, é sobremodo mais completo e, por conseguinte muito mais trabalhoso para digitar, mas eu vou fazê-lo nem que demore um tempão! Em breve vocês terão a disposição um dos melhores e mais completas apologias que existem sobre o tema! Obrigado!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O CULTO DOS SANTOS (PARTE FINAL)

A CIÊNCIA DOS SANTOS NA VISÃO BEATÍFICA

375. Diante deste argumento, os protestantes respondem: Depois de mortos é diferente: eles não podem saber o que se passa na terra.

Quer dizer então que a coisa mudou completamente de figura. Os santos não podem rezar pro nós e isto já não pelo fato de ser Cristo o único Mediador, é pelo fato de não podermos ter comunicação com eles; a ligação está interrompida. Mas esta afirmação é por sua vez completamente gratuita e quem vai responder aos protestantes é outro protestante, o célebre escritor holandês Grotius. Quando Calvino e Vossius alegam que não podem admitir o culto dos santos, porque estes não podem ter conhecimento de nossas preces, Grotius discorda inteiramente deles, dizendo: “Os profetas, enquanto estavam na terra, tiveram conhecimento daquilo que se passava em lugares onde eles não estavam presentes... os anjos assistem a nossas assembléias e se empenham por tornar agradáveis a Deus as nossas orações; é assim que não somente os cristãos, mas também os judeus creram em todos os tempos. Depois destes exemplos, um leitor sem preconceito deve crer que é mais razoável admitir nos mártires um conhecimento das preces que nós lhe dirigimos, do que negá-lo.” (Grotius. Votum pro pace).

É o caso de dizermos aos protestantes: Expliquem-se, por favor... A Escritura não diz em parte alguma que aqueles que se encontram no Céu estão completamente alheios ao que se passa na terra. Qual o argumento, a prova que Vocês apresentam, para afirmar com tanta segurança que os santos não podem ter conhecimento das nossas súplicas?

É porque, dizem eles, os santos gozam diante de Deus de uma felicidade imperturbável; ora se soubessem o que se passa aqui na terra, já não seria mais felicidade e sim uma série de preocupações. Além disto, era preciso que fossem oniscientes, onipresentes, onipotentes (Maria Santíssima, sobretudo, que tem milhões e milhões de devotos em toda a terra) para poderem estar atendendo a todas as orações que se fazem a eles nos mais variados lugares da terra e a cada instante.

Toda esta objeção se baseia, desde logo, numa frustrada tentativa para fazer uma idéia exata daquilo que se passa com os bem-aventurados lá no Céu, quando isto ESTÁ MUITO ACIMA DE TUDO QUANTO POSSAMOS IMAGINAR. A felicidade do Céu é uma felicidade SOBRENATURAL, é a visão beatífica de Deus, da qual a nossa natureza por si não é capaz, mas vai recebê-la por um dom especial do Criador. É inútil fazer cálculos tirando conclusões daquilo que se passa aqui na terra, dentro do nosso conhecimento natural. Uma pessoa aqui na terra não pode ter conhecimento de tudo o que se passa no mundo; mas suponhamos que o tivesse; não se seguiria daí que fosse onisciente nem onipotente, porque o próprio mundo é por sua natureza limitado; e este limitado conhecimento não seria coisa alguma em comparação com A CIÊNCIA INFINITA que só existe em Deus.

Ninguém pode tornar-se igual a Deus, mas uma criatura pode tornar-se mais ou menos semelhante a Ele, participar mais ou menos das suas perfeições de ciência, santidade, felicidade etc., e ai existe uma graduação infinita. Desde que no Céu esta penetração nas grandezas de Deus tem graus, porque nem todos têm os mesmos merecimentos e “na casa de meu Pai Há muitas moradas” (João 14,2), não há nenhum absurdo em dizer-se que Maria Santíssima, mesmo continuando criatura e permanecendo limitada, tem maior semelhança com Deus, recebeu no Céu maiores perfeições do que qualquer outra criatura humana.

E se no Céu a felicidade consiste em nos tornarmos em grau muito mais elevado do que aqui na terra “participante da natureza divina” (2ª Pedro 1,4), a alegação de que o conhecimento das coisas da terra acabaria com a felicidade não tem nenhum fundamento. Deus não vê tudo o que se passa no mundo e em todos os mundos? Não vê praticar-se aqui na terra tanta coisa que não é do seu agrado? Nem por isto sofre a mínima alteração a sua eterna, imensa infinita, imperturbável felicidade.

Os anjos também são imperturbavelmente felizes. Mas a Escritura no-los apresenta interessados pelas coisas humanas. Jacó abençoa os filhos de José dizendo: O ANJO QUE ME LIVROU DE TODOS OS MALES ABENÇOE ESTES MENINOS (Gênesis 48, 6). Nos Salmos se lê: “O anjo do Senhor acampa ao redor dos que O temem e os livrará” (Salmos 33,8). (...) No livro de Zacarias se mostra a súplica do anjo pelo povo hebreu: E respondeu o ANJO do Senhor e disse: Senhor dos exércitos, até quando diferirás tu o compadecer-te de Jerusalém e das cidades de Judá , contra as quais te iraste? Este é já o ano septuagésimo. Então o Senhor, dirigindo-se ao anjo que falava em mim, lhe disse boas palavras de consolação (Zacarias 1,12-13). No Novo Testamento, Jesus diz claramente que as criancinhas têm os seus anjos “Vede não desprezeis nenhum destes pequeninos; porque eu vos declaro que OS SEUS ANJOS nos Céus incessantemente estão vendo a face de meu Pai que está nos Céus”. (Mateus 18,10) E São Paulo, falando à Timóteo, invoca a presença dos anjos: “Eu te esconjuro diante de Deus e de Jesus Cristo e dos seus anjos escolhidos que guardes estas coisas sem preocupação.” (1ª Timóteo 5,21).

Está mais do que provado que os anjos sabem o que se passa na terra, eles vêem a Deus e em Deus vêem todas as coisas e não é isto que os impede de serem felizes. Assim também os santos. Por isto disse com razão o protestante Leibnitz: “Como os espíritos bem aventurados estão presentes a nossas vicissitudes muito mais agora ao que quando viviam na terra... e sua caridade e desejo de nos socorrer são muito mais vivos, como, enfim as suas preces são muito mais eficazes de agora por diante; como vemos por outro lado tudo o que Deus concedia às intercessões dos santos vivos, bem como a utilidade de ajuntar às nossas preces à de nossos irmãos, não vejo por que motivo se haveria de considerar um crime o invocar uma alma bem-aventurada ou um santo anjo”. (Leibnitz. Systema Theologicum)


NOTA DO ADMINISTRADOR: A exposição de Lúcio Navarro sobre o culto dos santos, não termina aqui, mas creio que estes textos já são mais do que suficientes para desmentir as frívolas e insidiosas acusações daqueles que atacam a Santa Igreja de Deus, ainda que, sem qualquer base para isso, movido apenas pelo ódio e pelo preconceito. Que todos os santos e santas de Deus intercedam por nós, para que, com o auxílio da Divina Graça, possamos defender, sempre e a cada dia com mais afinco a VERDADEIRA FÉ CATÓLICA.

Em breve...

O PRIMADO DE SÃO PEDRO

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O CULTO DOS SANTOS (PARTE IV)

O CONTEXTO

374. S. Paulo começa recomendando a Timóteo que se façam orações por todos os homens: “Eu te rogo, pois, antes de tudo, que se FAÇAM SÚPLICAS, ORAÇÕES, PETIÇÕES, ações de graças POR TODOS OS HOMENS, pelos reis e por todos os que estão elevados em dignidade, para que vivamos uma vida sossegada e tranqüila em toda a sorte de piedade e de honestidade, porque isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador (1ª Timóteo 2,3-4).

Aconselhando que se reze POR TODOS OS HOMENS e apresentando isto como agradável aos olhos de Deus, S. Paulo dá o motivo:

“Isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que TODOS OS HOMENS SE SALVEM e que cheguem a ter o conhecimento da verdade” (1ª Timóteo 2,3-4).

Digamos, entre parênteses que à primeira vista parece haver aí um contra-senso. Devemos rezar por todos, porque Deus quer que todos se salvem. Mas se Deus quer que todos se salvem. Ele que pode tudo e que tem todas as graças nas suas mãos, que necessidade há de que rezemos?

Não há nenhum contra-senso, desde que se considerem os desígnios sapientíssimos de Deus. Deus dá a todos a graça suficiente para a salvação. Se o homem rejeita esta graça, está necessitando de graças maiores e mais abundantes. Estas graças, Deus não está obrigado a conceder, mas quis na sua imensa sabedoria e benevolência, subordiná-las aos nossos pedidos e orações. Rezemos, e graças maiores e mais abundantes cairão do Céu, tanto para nós, como também para os outros. E será maior o número dos que se salvam.

Continuando a ilustrar a sua tese de que devemos rezar por todos os homens, S. Paulo acrescenta uma nova razão: Porque SÓ HÁ UM DEUS E SÓ HÁ UM MEDIADOR ENTRE DEUS E HOMENS, que é Jesus Cristo homem, QUE SE DEU A SI MESMO PARA REDENÇÃO DE TODOS (1ª Timóteo 2,5-6).

Eis aí por que havemos de rezar por todos: somos todos irmãos, uma vez que há um só Deus, Deus é o Pai de todos; somos todos irmãos, porque fomos todos remidos pelo sangue de Jesus Cristo. Jesus não morreu só pelos cristãos ou só pelos eleitos, como têm ensinado muitos protestantes, mas morreu por todos. Se muitos não se salvam, a culpa é deles; pois a morte de Cristo alcançou a graça suficiente para dar a salvação a todos, mesmo àqueles que, sem culpa sua, nunca ouviram falar no Divino Salvador. De modo que S. Paulo mesmo se encarrega de dizer em que sentido Ele chama Jesus ÚNICO MEDIADOR; é neste sentido de que SE DEU A SI MESMO PARA REDENÇÃO DE TODOS (1ª Timóteo 2,6).

Ora, isto é claramente o que ensina a Igreja Católica. Jesus é o Único Salvador, porque só Ele podia oferecer a Deus uma reparação suficiente pelos nossos pecados e assim se pôs como um MEDIADOR, como UM INTERMEDIÁRIO entre Deus e os homens, a fim de operar a nossa reconciliação com Deus. Para efetuar esta reconciliação, era preciso que Ele fosse homem e ao mesmo tempo Deus, pois como diz S. Anselmo: “Os homens eram mortais e pecadores e Deus, com quem haviam de reconciliar-se para serem salvos, era imortal e sem pecado. Era preciso que O MEDIADOR ENTRE DEUS E OS HOMENS, tivesse algo de igual aos homens, porque sendo só igual a Deus estaria longe dos homens e sendo igual aos homens estaria longe de Deus, e assim não seria MEDIADOR. De modo que entre os mortais pecadores e o Justo Imortal apareceu Aquele que era mortal como os homens e justo como Deus.”.

Se chamamos os santos MEDIADORES no sentido de que eles oram a Deus por nós, então já é outro assunto, porque não dizemos absolutamente que Maria Santíssima, nem que nenhum SANTO DEU A SUA VIDA PELA NOSSA REDENÇÃO. E a prova de que S. Paulo chamando Cristo ÚNICO MEDIADOR, estava tomando esta palavra no sentido de SALVADOR e não no de INTERCESSOR, é que exatamente neste mesmo momento, neste mesmo trecho, ele estava aconselhando Timóteo a rezar por todos os homens, portanto a INTERCEDER por eles; estava aconselhando que os cristãos rezassem por todos os homens, portanto fossem INTERCESSORES perante Deus em favor de todos eles. E se aqui na terra, podemos rezar pelos homens sem que isto seja injúria a Nosso Senhor Jesus Cristo, Único Mediador, por que motivo então os santos não podem rezar também por eles lá na glória celeste? Se Jesus Cristo, como entendem os protestantes, quer ser o Único Intercessor, não quer que ninguém reze pelos outros, então S. Paulo estaria errado, pedindo aos fiéis que rezassem por todos os homens, São Paulo estaria errado recomendando-se tantas vezes às orações dos fiéis.

Com efeito, pede aos Efésios que rezem por todos os fiéis e POR ELE: Tomai, outrossim, o capacete da salvação e a espada do espírito ( que é a palavra de Deus) orando em todo o tempo... E ROGANDO POR TODOS OS SANTOS E POR MIM, para que me seja dada no abrir da minha boca palavra com confiança, para fazer conhecer o mistério do Evangelho (Efésios 6,17 -19). Aos Romanos pede também o auxílio das orações: “rogo-vos, pois, ó irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito Santo, que ME AJUDEIS COM AS VOSSAS ORAÇÕES POR MIM A DEUS, para que eu seja livre dos infiéis que há na Judéia e seja grata aos santos de Jerusalém a oferenda do meu serviço.” ( Romanos 15,30-31). Em ambas as epístolas aos Tessalonicenses pede orações: “Irmãos, ORAI POR NÓS (1ª Tessalonicenses 5,25). “Irmãos, ORAI POR NÓS, para que a palavra de Deus se propague e seja glorificada como também no é entre vós, para que sejamos livres de homens importunos e maus, porque a fé não é de todos” ( 2ª Tessalonicenses 3,1-2). Aos Hebreus diz: “ORAI POR NÓS, porque temos a confiança de dizer que em nenhuma coisa nos acusa a consciência, desejando em tudo portar-vos bem. E com mais instância vos rogo que façais isto, para que eu vos seja mais depressa restituído (Hebreus 13,18-19). Aos Colossenses diz, em seu nome e no de Timóteo, que oram sempre por eles: “Graças damos a Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, ORANDO SEMPRE POR VÓS” (Colossenses 1,3).

Quando Pedro é encarcerado, a Igreja em peso se põe a orar por ele: “E Pedro estava guardado na prisão a bom recado. Entretanto PELA IGREJA se fazia sem cessar ORAÇÃO A DEUS POR ELE.” (Atos 12,5).

Se Cristo é o Único Mediador, neste sentido de que só Ele é que pode interceder a Deus pelos homens, não se explicam absolutamente estas orações que devem ser feitas de uns pelos outros.

Vendo estes exemplos das Escrituras, todos os protestantes costumam pedir reciprocamente dentro da sua seita, o auxílio das orações. E aí é que se mostra toda a sua falta de lógica. Se eles pedem as orações dos outros, se S. Paulo dizia aos fiéis que ainda estavam aqui na terra: ORAI POR NÓS (1ª Tessalonicenses 5,25,2ª Tessalonicenses 3,1-2, Hebreus 13,18), por que é, então, que não podemos dizer: ORAI POR NÓS, àqueles que já se encontram na glória, na presença de Deus? Era já o argumento que o grande Doutor da Igreja, São Jerônimo empregava contra o herege Vigilâncio: “Dizes no teu libelo que, enquanto vivemos, podemos orar por nós reciprocamente; depois que morrermos, não há de ser ouvida a oração de ninguém por outro apesar de que os mártires não cessam de pedir a vingança do seu sangue ( Apocalipse 6,10). Se os Apóstolos e os mártires, ainda quando estão em seu corpo, ainda quando devem estar solícitos a respeito de si próprios, podem rezar pelos outros, quanto mais depois das coroas, das vitórias e dos triunfos!... Depois que começaram a estar com Cristo, valerão menos? Será que Paulo Apóstolo... não poderá nem tugir nem mugir, em favor daqueles que em todo mundo creram no Evangelho que em todo mundo creram no Evangelho que ele pregou?.... Tu, vigilando dormes, dormindo escreves.” ( Contra Vigilâncio nº6).

O CULTO DOS SANTOS ( PARTE III)

ÚNICO MEDIADOR

372. Os protestantes dizem enfaticamente: É um crime pedir aos santos que sejam mediadores que intercedam por nós, porque S. Paulo nos diz claramente que Jesus é o ÚNICO MEDIADOR entre Deus e os homens. (1ª Timóteo 2,5).
“Eis aí um grandíssimo e notabilíssimo SOFISMA BASEADO NUM JOGO DE PALAVRAS”.

A coisa mais conhecida deste mundo é que muitas e muitas vezes uma palavra pode ter mais de um sentido. Isto acontece com quase todas as palavras. Já tivemos ocasião de mostrar ao leitor que S. Paulo, nesta 1ª Epístola a Timóteo diz a este seu amigo e companheiro que ele tem por missão SALVAR A SI MESMO E SALVAR OS OUTROS (fazendo isto te SALVARÁS tanto a ti mesmo, como AOS QUE TE OUVEM – 4,16), Quando todos sabem que o Único Salvador é Jesus. É porque, (...) isto depende do sentido em que se tome a palavra: SALVAR.

Às vezes até se observa na Escritura que numa pequenina frase a mesma palavra toma 2 sentidos diversos, dando lugar a um trocadilho: Segue-me e deixa que os MORTOS sepultem os seus MORTOS (Mateus 8,22). Ora, um defunto não pode ir ao enterro de outro defunto. A frase significa: Deixa aqueles que estão MORTOS ESPIRITUALMENTE sepultem os que estão CORPORALMENTE MORTOS. Outra frase em que se mostra um trocadilho assim é aquela de S. Paulo, que diz respeito de Deus com relação a Jesus cristo: “Aquele que não havia conhecido PECADO, o fez PECADO por nós” (2ª Coríntios 5,21). Chamava-se pecado o ato mal cometido pelo homem; e chamava-se também pecado a vítima que se oferecia a Deus pelos pecados nos sacrifícios antigos: “Eles comerão dos PECADOS do meu povo” ( Oséias 4,8) e assim, segundo a frase de S. Paulo: Jesus não conhecia pecado, era santo e inocente e por isto Deus o tornou pecado, isto é, vítima pelo pecado para nos salvar.

A objeção dos protestantes é também um trocadilho, mas não como o de Jesus ou o de Paulo que só diziam a verdade, que não eram capazes de enganar, mas um trocadilho da pior espécie, feito manhosamente para iludir o povo rude e inexperiente.
Não; caros amigos protestantes. Deixemo-nos de brigas e cavilações por uma mera questão de nomes.

Os anjos e os santos SÃO MEDIADORES. E Jesus Cristo é o ÚNICO MEDIADOR. Não existe ai nenhuma contradição; PORQUE TODA A QUESTÃO ESTÁ EM SABER EM QUE SENTIDO JESUS CRISTO É O ÚNICO MEDIADOR E EM QUE SENTIDO OS ANJOS E OS SANTOS SÃO MEDIADORES TAMBÉM.

MEDIAÇÃO E SUAS FINALIDADES.

373. A palavra MEDIADOR (no grego MESÍTES) significa simplesmente isto: INTERMEDIÁRIO.
Esta função de intermediário varia de acordo com a finalidade com que é exercida.

Um homem poder ser mediador ou intermediário – Para fazer a reconciliação entre duas pessoas;
Pode ser mediador ou intermediário – Para transmitir a mensagem de uma para outras, servindo, por exemplo, de intérprete;
Pode ser mediador ou intermediário – Para julgar uma questão que há entre duas pessoas ou dois grupos, servindo de árbitro;
Pode ser mediador ou intermediário – Para pedir uma coisa em nome de outro.


Precisamos saber em que sentido Jesus é apresentado na Escritura como ÚNICO MEDIADOR, porque a própria Escritura dá este nome também a Moisés. Desde que no Antigo Testamento a lei divina foi entregue ao povo, servindo Moisés de INTERMEDIÁRIO para transmitir a mensagem celeste (portanto no segundo sentido que apontamos acima), Moisés neste sentido foi MEDIADOR. E é por isto que S. Paulo chama a Jesus MEDIADOR DE UM NOVO TESTAMENTO (Hebreus 9,15; 12,24), dando a entender claramente que Moisés o era do Antigo. E realmente faz o contraste entre Moisés e Jesus chegando à conclusão de que Jesus é MEDIADOR DE UM MELHOR TESTAMENTO: .... Os quais servissem de modelo e sombra das coisas celestiais, como foi respondido a Moisés, quando estava para acabar o tabernáculo: olha (disse), faze todas as coisas conforme o modelo que te foi mostrado no monte. Mas agora AQUELE alcançou tanto melhor ministério, quanto é MEDIADOR ainda de MELHOR TESTAMENTO, o qual está estabelecido em melhores promessas (Hebreus 8,5-6) já a palavra MEDIADOR é tomada noutro sentido, pois Jesus, sendo O ÚNICO MEDIADOR entre Deus e os homens, o é para todos os homens, desde o princípio do mundo, homens do Antigo e do Novo Testamento: não entrou para se oferecer muitas vezes a si mesmo... doutra maneira lhe seria necessário padecer muitas vezes desde o princípio do mundo ( Hebreus 9,26-26).


Moisés podia muito bem no seu tempo qualificar-se de mediador entre Deus e os homens, mas mediador em certo sentido, no de transmitir aos homens as palavras de Deus: Então eu fui o que intervim como MEDIADOR ENTRE O SENHOR E VÓS PARA VOS ANUNCIAR AS SUAS PALAVRAS (Deuteronômio 5,5). Ora se tomamos a palavra MEDIADOR neste sentido, já todos os profetas são MEDIADORES, porque servem de intermediários para transmitir aos homens os avisos e ensinamentos divinos. E o próprio São Paulo era também MEDIADOR, porque era intermediário entre Deus e os homens. Que é um embaixador senão um intermediário? “Nós fazemos o ofício de embaixadores em nome de Cristo, como que Deus vos admoesta por nós outros. Por Cristo vos rogamos que vos reconcilieis com Deus” (2ª Coríntios 5,20).

A questão está, portanto, em saber EM QUE SENTIDO JESUS É O ÚNICO MEDIADOR, O ÚNICO INTERMEDIÁRIO ENTRE DEUS E OS HOMENS. E para isto é indispensável examinar o contexto da célebre frase de S. Paulo, porque o forte dos protestantes, nesta matéria de sofismas, consiste em separar as palavras do seu verdadeiro contexto.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O CULTO DOS SANTOS (PARTE II)

AS DECISÕES DOS CONCÍLIOS

367. Queremos chamar atenção também para um TRUQUE muito usual entre os protestantes, com o qual aqueles que conhecem mais um pouquinho de história da Igreja procuram enganar os incautos e inexperientes.

Quando vê AS SUAS DOUTRINAS serem negadas pelos hereges ou serem mal interpretadas, ou aparecem questões sobre os verdadeiros termos em que devem ser propostas ou defendidas, a Igreja Católica nos seus concílios ecumênicos, isto é, universais, faz as solenes definições para esclarecer, eliminando qualquer dúvida, afim de que se preserve a UNIDADE DA FÉ. Aproveitam-se disto os protestantes para dizerem que nesta ocasião foi a doutrina INTRODUZIDA na Igreja, o que é inteiramente falso. Foi o que se deu, pro exemplo, com o dogma da presença real de Cristo na Eucaristia. Está clarissimamente ensinado na Bíblia, sempre foi admitido pelos católicos, era um dogma que fazia parte da vida dos cristãos, que comungavam, ouviam a Santa Missa, etc. Até o século XI nunca foi negado diretamente, nem mesmo pelos hereges. Quando aparecem seitas heréticas combatendo este dogma a Igreja solenemente o define, como o fez no 4º Concílio de Latrão, em 1215. Dizer que só ai é que a doutrina foi introduzida na Igreja é uma enorme falsidade histórica como é inexato pensar que só é de fé, para nós católicos, o que é definido nos Concílios, pois é de fé para nós tudo quanto ensina a Bíblia, e a Igreja não vai definir os ensinos da Bíblia versículo por versículo.

USOS E QUESTÕES DISCIPLINARES

368. Outra observação que temos a fazer é a seguinte: Uma coisa é a DOUTRINA; e outra são as questões disciplinares, os usos e costumes e devoções, que podem variar de um século para o outro, conservando-se inalterada a parte doutrinária. A Igreja é autônoma, tem o direito de impor leis que não sejam contrárias às leis divinas, tem o direito de governar-se a si mesma: Tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus, e tudo o que desatares sobre a terra será desatado também nos céus. (Mateus 16,19)., foi dito por Jesus Cristo a Pedro, o chefe da Igreja. E o mesmo poder de ligar e desligar foi concedido ao colégio apostólico (Mateus 18,18).Estes poderes persistem no sucessor de Pedro e naqueles que ocupam o lugar dos Apóstolos aqui na terra, como legítimos continuadores de sua missão.

A Igreja vai durar até o fim do mundo em circunstâncias as mais diversas no meio das mais diversas raças. Tem que conservar intacto, inalterado o depósito da fé, da sua DOUTRINA. Mas as leis disciplinares, pelas quais internamente se governa tem que variar de acordo com as circunstâncias. Os métodos de ensino, as devoções especiais, os meios de apostolado vão sendo pouco a pouco inspirados pelo Divino Espírito Santo que vela sempre sobre ela.

Querer, portanto, que por todos os séculos, a Igreja tenha que restringir-se a fazer exclusivamente o que fizeram os Apóstolos, naqueles primeiros dias de sua história, dias, aliás, extraordinários, em que havia certos dons e carismas que seriam limitados àqueles primórdios, seria evidentemente um absurdo.

Põem-se então muitos protestantes a “demonstrar” que a Igreja Católica não é mais a Igreja de Cristo, porque em tal época impôs a obrigação do jejum na Quaresma, ou em tal época os padres começaram a usar vestuário diferente dos seculares ou começaram a usar tonsura na cabeça, porque em tal época se começou a recitar o Rosário, a fazer procissão com o Santíssimo Sacramento, ou a usar campainhas na celebração da Missa ou a acender velas nas igrejas, ou a canonizar os santos ou usar o latim como língua litúrgica – e nada disto havia nos tempos dos Apóstolos... Os Pentecostais acham que a Igreja Católica não é a mesma Igreja de Cristo porque nelas os fiéis não recebem mais o Espírito Santo com o DOM DAS LÍNGUAS como acontecia algumas vezes nos tempos primitivos... E uma das provas mais evidentes que os protestantes vêem de que a Igreja não é mais a Igreja de Cristo é o celibato eclesiástico. (...) Nestas circunstâncias, S. Paulo recomenda que só seja escolhido para bispo um homem que tenha sido “esposo de uma só mulher” (1º Timóteo 3,2), não servindo para o cargo aqueles que já andaram às voltas com muitas mulheres. E S. Paulo, note-se bem, afirma claramente que pratica o celibato e, além disto, o aconselha ( 1ª Coríntios 8,7-8), e bem como ensina A DOUTRINA das vantagens da continência perfeita sobre o estado do matrimônio ( 1ª Coríntios 7,25-35). Isto era doutrina do próprio Jesus que alude àqueles que sacrificam seus instintos carnais POR AMOR DO REINO DOS CÉUS (Mateus 19,12). Pois bem, quando a Igreja resolveu só aceitar para sacerdotes aqueles que espontaneamente queiram fazer o voto de castidade perfeita, deixou por isto de ser a Igreja Verdadeira de Jesus Cristo? ... Agora repara bem o leitor A LÓGICA PROTESTANTE. Os Apóstolos proibiram aos cristãos comer do sangue e das carnes sufocadas ( Atos 15,29). Tinham os cristãos que fazer como faziam os judeus: matar o animal, fazer escorrer todo o sangue para depois comer. NA BÍBLIA NÃO CONSTA A REVOGAÇÃO DESTE DECRETO. Mais tarde a Igreja, com o seu poder de ligar e desligar, uma vez que não havia mais as razões pelas quais esta proibição tinha sido feita, resolveu revogar tal MEDIDA DISCIPLINAR imposta pelos Apóstolos. E, no entanto os protestantes que acham que a Igreja tem que se limitar a fazer exclusivamente o que está na Bíblia, que só admitem aquilo que se vê em letra de fôrma no Livro Sagrado, comem a carne dos animais com sangue, comem as carnes sufocadas, sem nenhum remorso, autorizados exclusivamente pela Igreja!

E durma-se com um barulho desses!

O CULTO DOS SANTOS (PARTE I)

Os próximos textos serão todos dedicados a um assunto que é um verdadeiro “CAVALO DE BATALHA” utilizado contra nós católicos pelos protestantes: O Culto dos Santos


POR QUE SÓ A BÍBLIA?

366. Assegurando à SUA IGREJA que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela, Jesus estava garantindo que ela jamais seria invadida pelo erro, porque seria de fato uma grande vitória do poder das trevas, se conseguisse transformar a Igreja de Deus Vivo de mestra infalível da verdade em propagadora do erro, ainda que fosse num só ponto de usa doutrina. As heresias de todos os tempos foram sempre fomentadas pelas potestades infernais, para ver se conseguiam realizar este ideal satânico. E entre as heresias que têm lutado contra a Igreja ocupa um lugar muito importante o Protestantismo.

Na ânsia de justificar a sua atitude, aparecendo no séc. XVI , a ensinar uma doutrina muitíssimo diversa daquela que a Igreja vinha ensinando desde muitos séculos, esforçam-se os protestantes por demonstrar que essa Igreja errou , ou melhor, encheu-se de erros, o que é o mesmo que dizer, esforçam-se por demonstrar que falhou miseravelmente a PROMESSA DE JESUS.

Nesta pretensa demonstração, eles recorrem a argumentos que não poderiam deixar de ser falhos e improcedentes.

Um deles é o seguinte: A Igreja está errada em tais e tais pontos que ela ensina, porque SÃO COISAS QUE NÃO ESTÃO NA BÍBLIA.

Este argumento é falso, porquanto se baseia numa falsa suposição: a de que a Bíblia tenha sido escrita para ser nossa única regra de fé.

Cristo disse aos Apóstolos: PREGAI O EVANGELHO A TODA A CRIATURA ( Marcos 16,15), não disse que o meio para conhecerem os homens a verdade religiosa era só exclusivamente a leitura da Bíblia. Mandou-lhes ENSINAR TODAS AS GENTES, prometeu-lhes a sua assistência neste ensino. E a idéia que fazem os protestantes é esta: Os Apóstolos pensaram assim: Cristo nos mandou ensinar, quer dizer que nós pregamos enquanto estamos nesta terra. E também escrevemos o Novo Testamento e o deixamos, para que cada um aprenda a doutrina cristã, após a nossa morte.

Mas esta idéia é errônea. O Novo Testamento não foi escrito segundo este plano. Começa logo por não ter sido escrito só pelos Apóstolos: Marcos que escreveu o 2º evangelho e Lucas que escreveu o 3º e os Atos dos Apóstolos, não haviam recebido a missão de ensinar a todos os povos. E vários Apóstolos como S. Tomé, S. Bartolomeu, S. André, S. Simão Cananeu, que foram para bem longe, pregar a povos de línguas diversas, aos quais não seria fácil manusear o grego do NOVO TESTAMENTO, no entanto NENHUM LIVRO DA BÍBLIA DEIXARAM ESCRITO. Não foi composto o Novo Testamento com a preocupação de ensinar a doutrina e toda a doutrina; neste caso deveria ter seguido o método adequado, apresentando ordenadamente a matéria ponto por ponto e em linguagem clara e acessível a todos, afim de que não deixasse margem alguma para a dúvida; não teria tantos trechos de interpretação tão difícil. (...) foram escritos os seus livros ocasionalmente, de acordo com as necessidades do momento. Deus os inspirou e de certo são eles a palavra escrita infalível que CONSOLIDA o ensino da Igreja e que lhe serve de orientação proveitosíssima neste ensino; são também os documentos , pelos quais a Igreja prova contra os hereges a sua legitimidade, a sua origem divina. Mas não há nenhuma palavra de Jesus, o qual deixou a Igreja com a missão de ENSINAR e num tempo em que não havia sido escrito nenhum livro do Novo Testamento, não há nenhum texto sagrado que nos indique que só devemos aceitar o ensino da Igreja, se ele estiver contido EXPLICITAMENTE na Bíblia. Antes, o que ela ensina, está também implicitamente recomendado pela Escritura Sagrada que a apresenta como COLUNA E FIRMAMENTO DA VERDADE ( 1ª Timóteo 3,15) e como detentora das divinas promessas. E muitas discussões, hesitações e controvérsias que há entre os próprios protestantes, por exemplo, a respeito do Batismo, do pecado original, do número dos sacramentos etc., nascem precisamente disto: A Bíblia não oferece elementos suficientes para se resolverem definitivamente estas questões; e os protestantes, surgindo no século XVI e rejeitando toda a tradição, querem resolvê-las exclusivamente pelos dados da Bíblia, ao passo que a Igreja Católica, vindo dos tempos apostólicos, está firme e segura na sua doutrina porque sabe , pela tradição, qual foi o verdadeiro ensino que os Apóstolos legaram à Cristandade.