quinta-feira, 25 de setembro de 2008

EM BREVE MAIS TEXTOS.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Uma das coisas mais ridículas que eu já li!! Acusação frívola, absurda, ridícula, ou seja, bem protestante...

IRMÃS – Convento-prostíbulo – 6.000 esqueletos de crianças - OSW
AGORA UMA BEM DESCARADA MESMO!
“Santo Ulrico, bispo de Augsburgo, contou que o papa Gregório VII, anos 1703-85, ordenara que se esvaziasse um aquário num convento de Monjas em Roma e encontraram 6.000 esqueletos de bebês! Diante desse horror, esse papa aboliu o Celibato, mas seus sucessores restabeleceram-no”.
VER: http://www.jesussite.com.br/acervoprint.asp?Id=200
Primeiro, uma correção: Gregório VII reinou no período 1073-1085. Não se trata, porém, de mentira; é apenas erro de digitação verificando-se a troca do 0 pelo 7.
A MENTIRA VEM AQUI: Segundo sua biografia, Santo Ulrico nasceu na Alemanha no ano 890. Ver:
http://www.effata.org.br/?system=news&action=read&id=306&eid=159&SID=e0b2c90422af51e6b6c44a8e3bf6730b.
Para contar alguma coisa do Papa Gregório VII, Santo Ulrico deveria ter pelo menos 183 anos de idade (faça a conta: 1073 - 890 = 183)
Outra: Para que a água encobrisse, ocultando os 6.000 esqueletos, deveria ter, pelo menos 240 m³ o que corresponde a seis piscina médias de 40 m³. Era um aquário um tanto!!! everia ter sido colocado dentro do convento das freirinhas sem-vergonha talvez para enfeitar o seu refeitório!!!!
Agora gostaria que os evangélicos encontrassem uma mentira semelhante nos sites católicos. Puts!!! E tem evangélico que acredita em histórias deste jaez, por sinal, muito mal contadas!
Esta sim, tanto católico como evangélico tem que admitir que é uma baita de uma mentira!
Imagine só quantas freiras tinham neste convento?6000 fetos é aborto pra caramba esta mentira foi das grossas mesmo…

Extraído do blog: cai a farsa.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Loucuras de Lutero

Lutero, Martinho. "Carta aberta sobre a Tradução". Trad. de Mauri Furlan. In: Clássicos da Teoria da Tradução. Antologia bilíngüe, vol. 4, Renascimento. Florianópolis: NUPLITT, 2006. (p. 95-115)

Martinho Lutero
CARTA ABERTA SOBRE A TRADUÇÃO
Ao honorável e distinto N., meu estimado senhor e amigo.
Graça e paz em Cristo, honorável, distinto, caro senhor e amigo! Recebi sua carta com as duas questões ou perguntas, sobre as quais solicita minha posição: primeiramente, por que eu, no terceiro capítulo da Epístola aos Romanos, versículo 28, traduzi as palavras de Paulo, Arbitramur hominem iustificari ex fide absque operibus, como "Sustentamos que o homem é justificado somente pela fé, sem as obras da lei"; e além disso, nela também observa que os papistas se enfurecem extremamente porque no texto de Paulo não consta a palavra sola (somente) e não se poderia tolerar um tal acréscimo de minha parte à Palavra de Deus etc. Depois, se também os santos mortos intercedem por nós, porque lemos que até os anjos intercedem por nós etc. À primeira pergunta, se desejarem, podem responder aos papistas de minha parte o seguinte:
Em primeiro lugar, se eu, doutor Lutero, tivesse podido enganar-me de que todos os papistas juntos fossem tão hábeis a ponto de saberem traduzir bem e corretamente um único capítulo da Escritura, então teria sido muito humilde e lhes teria solicitado ajuda e assistência para a tradução em alemão do Novo Testamento. Mas como eu sabia e ainda posso ver que nenhum deles sabe realmente como se deve traduzir ou falar em alemão, poupei-me a mim e a eles um tal esforço. No entanto, percebe-se bem que eles aprendem a falar e a escrever em alemão a partir de minha tradução e de meu alemão, e roubam-me em muito minha língua, que até então pouco conheciam; porém não me agradecem por isso, mas preferem utilizá-la contra mim. Contudo, é com prazer que lhes proporciono isso, pois me agrada estar ensinando a falar a meus discípulos ingratos, que ademais são meus inimigos.
Por outro lado, podem dizer que eu traduzi o Novo Testamento como melhor pude e o mais consciencioso possível; e não obriguei ninguém a lê-lo, mas dei liberdade, apenas prestando um serviço àqueles que não podem fazê-lo melhor. A ninguém está proibido apresentar uma tradução melhor. Quem não quiser lê-lo que o deixe estar. Não peço nem louvo a ninguém por isso. É meu Testamento e minha tradução, e deve ser e permanecer meu. Se nalguma parte dele eu errei (coisa que não sei, pois não quis traduzir conscientemente errado uma letra sequer por deliberação), não vou por causa disso tolerar os papistas como juízes, pois eles ainda têm orelhas muito longas e seu zurro é muito fraco para julgar minha tradução. Eu sei muito bem, e eles sabem muito menos que o animal do moleiro, quanta arte, aplicação, razão e entendimento compete ao bom tradutor, pois que nunca tentaram.
Diz-se: "Quem constrói junto ao caminho tem muitos mestres". O mesmo acontece comigo. Os que nem sabiam falar corretamente, quanto mais traduzir, tornaram-se sobretudo meus mestres, e devo ser discípulo de todos eles. Mas se eu tivesse que lhes perguntar como se deveria traduzir as duas primeiras palavras do primeiro capítulo do Evangelho de Mateus, "liber generationis", nenhum deles teria sabido dar um cacarejo sequer, e agora julgam, os bons companheiros, a obra inteira. O mesmo aconteceu a São Jerônimo. Porque ele traduziu a Bíblia, todo mundo foi seu mestre, e ele era o único que não sabia nada, e julgavam a obra do bom homem aqueles que não teriam sido dignos de limpar-lhe os sapatos. Por isso é necessária muita paciência àquele que quiser fazer algo bom para o público, pois o mundo quer ser especialista e tem sempre que enfrear o cavalo pelo rabo, ensinar tudo sem nada saber. É sua maneira de ser, da qual não conseguem abdicar.
Contudo, gostaria sinceramente de ver um papista que se sobressaísse e traduzisse, por exemplo, uma das Epístolas de São Paulo ou de um profeta, desde que para isso não se servisse do alemão e da tradução de Lutero; então veríamos um alemão ou uma tradução elegante, bela, admirável! Pois já vimos o embusteiro de Dresden1, que se apropriou de meu Novo Testamento (não quero mais mencionar seu nome em meus livros; ademais, ele também tem agora seus juízes e é bem conhecido). Ele confessa que meu alemão é suave e bom; percebeu que não podia fazer melhor e quis destroçá-lo. Assim, tomou meu Novo Testamento, quase palavra por palavra, da forma como eu o compus, retirou meu prefácio, comentários e meu nome, depois acrescentou seu nome, prefácio e comentários, e desta forma vendeu meu Novo Testamento com seu nome. Ah, queridos filhos, quanta dor me causou quando seu príncipe, num prefácio horroroso, condenou e proibiu ler o Novo Testamento de Lutero, e além disso recomendou a leitura do Novo Testamento do embusteiro, que na verdade é o mesmo que Lutero compôs.
E para que ninguém aqui pense que estou mentindo, coloque ambos os Testamentos diante de si, o de Lutero e o do embusteiro, compare-os entre si, e verá quem é o tradutor de ambos. Pois o que ele remendou e alterou em uns poucos trechos, ainda que nem tudo me agrade, bem o posso tolerar, e não me incomoda particularmente, enquanto diz respeito ao texto. Por isso eu nunca quis escrever algo em contra, mas tive que rir da grande sabedoria com que se caluniou, condenou e proibiu tão horrendamente meu Novo Testamento quando foi publicado sob meu nome, mas tiveram que lê-lo quando foi publicado sob outro nome. No entanto, que virtude é essa de difamar e desonrar o livro de alguém, depois roubá-lo e publicá-lo sob nome próprio, buscando assim honras e renome através do caluniado trabalho alheio; deixo aos seus juízes classificar. Entrementes, para mim é o bastante e estou contente que meu trabalho (como também se gloria São Paulo2) seja também fomentado por meus inimigos, e o livro de Lutero sem o nome de Lutero seja lido sob o nome de seus inimigos. Como poderia eu vingar-me melhor?
Voltando novamente à questão. Se o seu papista quer incomodar-se bastante com a palavra sola-somente, diga-lhe logo: o doutor Martinho Lutero quer assim e diz que papista e asno é a mesma coisa. "Sic uolo, sic iubeo, sit pro ratione uoluntas"3 ["assim quero, assim ordeno, tome-se a vontade por razão"]. Pois não queremos ser alunos nem discípulos dos papistas, mas seus mestres e juízes. Queremos por uma vez também gabar-nos e vangloriar-nos com essas cabeças de asno. E como São Paulo se gloria contrapondo-se aos santos insensatos4, assim também eu quero gloriar-me contrapondo-me a esses meus asnos. Eles são doutores? Eu também. Eles são eruditos? Eu também. Eles são pregadores? Eu também. Eles são teólogos? Eu também. Eles são argumentadores? Eu também. Eles são filósofos? Eu também. Eles são dialéticos? Eu também. Eles são preletores? Eu também. Eles escrevem livros? Eu também.
E quero continuar gloriando-me: Eu sei interpretar os salmos e os profetas; eles não sabem. Eu sei traduzir; eles não sabem. Eu sei rezar; eles não sabem. E para falar de coisas menores: eu entendo sua própria dialética e filosofia melhor do que todos eles juntos. E além disso sei deveras que nenhum deles entende seu Aristóteles. E se há alguém entre todos eles que entenda corretamente um prefácio ou um capítulo de Aristóteles, deixarei que me açoitem. Não estou agora exagerando, pois fui educado e adestrado desde a juventude em toda sua arte, e sei muito bem quão profunda e vasta ela é. Da mesma forma eles sabem muito bem que eu sei e posso tudo o que eles podem. Não obstante, essa gente insana se comporta comigo como se eu fosse um hóspede em sua arte, que tivesse chegado apenas hoje pela manhã e nunca tivesse visto nem ouvido o que eles estão aprendendo ou podem fazer; assim tão maravilhosamente ostentam sua arte e me ensinam o que eu há vinte anos gastei em solas de sapato; de forma que eu também, em resposta a todos seus berros e gritos, tenho que cantar com aquela rameira: "Faz sete anos que eu sei que os pregos das ferraduras são de ferro".
Valha isto como resposta à sua primeira pergunta; e rogo-lhes que a tais asnos e seus berros inúteis por causa da palavra sola não respondam nada mais nem diferente disso: Lutero quer mantê-la assim e diz que é doutor acima de todos os doutores do papado inteiro; por isso deve permanecer aí. Doravante quero apenas desprezá-los e tê-los desprezado, enquanto são pessoas – queria dizer asnos – desta classe. Pois entre eles há uns patetas descarados que nunca aprenderam nem sua própria arte, a dos sofistas, como o doutor Schmidt e o doutor Rotzlöffel5 e seus semelhantes, e colocam-se contra mim nesta questão, que está acima não apenas da sofistaria, mas também, como diz São Paulo6, acima da sabedoria e da razão de todo mundo. Realmente, um asno não precisa cantar muito: é logo reconhecido pelas orelhas.
A vocês, porém, e aos nossos quero mostrar por que eu quis usar a palavra sola, embora em Romanos 3, 28 não tenha utilizado sola, mas solum ou tantum. Com quanta exatidão vêem meu texto, os asnos! Contudo, utilizei em outro lugar sola fide, e quero manter ambas, solum e sola. Ao traduzir, esforcei-me em escrever um alemão puro e claro. E aconteceu-nos muitas vezes passarmos catorze dias, três, quatro semanas, buscando e perguntando-nos por uma única palavra, e, contudo, às vezes não a encontramos. Em Jó trabalhamos o mestre Philipp, Aurogallus e eu, e, às vezes, em quatro dias conseguíamos aprontar apenas três linhas. Meu caro, agora está traduzido e pronto. Qualquer um pode ler e entendê-lo. Doravante pode um leitor percorrer com os olhos três, quatro páginas sem tropeçar uma vez sequer, mas não percebe quantos paus e pedras havia ali onde agora caminha como que sobre uma tábua aplainada, onde tivemos que suar e nos angustiar até tirarmos os paus e as pedras do caminho para que se pudesse prosseguir tão bem. É fácil arar quando o campo está limpo! Mas arrancar a floresta e os tocos e preparar o terreno, isso ninguém quer fazer. Não se deve esperar do mundo qualquer gratidão. Nem o próprio Deus recebe gratidão por causa do sol, do céu e da terra, nem pela morte de seu próprio filho. Que o mundo seja e continue sendo em nome do diabo, porque não quer outra coisa.
Do mesmo modo, eu sabia muito bem que em Romanos 3 não havia a palavra solum no texto latino ou grego, e não precisavam me ensinar isso os papistas. É verdade, estas quatro letras s-o-l-a, que as cabeças de asno admiram como as vacas a uma nova porteira, não estão no texto. Eles não vêem que isso corresponde perfeitamente ao sentido do texto, e, quando se quer traduzir com clareza e consistência em alemão, deve estar presente, porque eu quis falar em alemão, não em latim nem em grego, quando me propus falar em alemão ao traduzir. Isso, porém, é propriedade de nossa língua alemã, que, quando usada para tratar de duas coisas, das quais uma é afirmada e outra negada, necessita da palavra solum-allein, acompanhando a palavra nicht ou kein. Assim, por exemplo, quando se diz: "Der Baur bringt allein Korn, und kein Geld" ["O camponês traz somente grãos e nenhum dinheiro"]. "Nein, ich hab wahrlich jetzt nicht Geld, sondern allein Korn" ["Não, realmente agora não tenho dinheiro, mas apenas grãos"]. "Ich habe allein gegessen und noch nicht getrunken" ["Eu somente comi e ainda não bebi"]. "Hast du allein geschrieben und nicht durchgelesen?" ["Apenas escreveste e não leste?"]. E inúmeras formas semelhantes no uso diário.
Se tanto a língua latina como a grega não procedem desta forma em todos estes idiomatismos, a alemã procede assim, e é de sua propriedade usar a palavra allein a fim de que a palavra nicht ou kein resulte mais plena e clara. Pois, embora eu também possa dizer: "Der Baur bringt Korn und kein Geld", assim dita, a expressão kein Geld não soa tão plena e clara como quando eu digo: "Der Baur bringt allein Korn und kein Geld" ["O camponês traz somente grãos e nenhum dinheiro"]: aqui a palavra allein ajuda a palavra kein a produzir uma fala plena, alemã, clara. Pois não se tem que perguntar às letras na língua latina como se deve falar alemão, como fazem os asnos, mas sim há que se perguntar à mãe em casa, às crianças na rua, ao homem comum no mercado, e olhá-los na boca para ver como falam e depois traduzir; aí então eles vão entender e perceber que se está falando em alemão com eles.
Assim, quando Cristo fala: "Ex abundantia cordis os loquitur"7, se eu fosse seguir esses asnos, eles me apresentariam a letra e traduziriam assim: Aus dem Überfluss des Herzens redet der Mund ["Da abundância do coração fala a boca"]. Diga-me: isso é falar alemão? Que alemão entenderia uma coisa dessas? Que coisa é "abundância do coração"? Nenhum alemão poderia dizer isso, a não ser que quisesse dizer que alguém tem um coração demasiado grande ou tem coração demais; embora isto também não seja correto. Pois, "abundância do coração" não é alemão, assim como não é alemão "abundância da casa", "abundância da estufa", "abundância do banco", porém assim fala a mãe em casa e o homem comum: Wes das Herz voll ist, des gehet der Mund über ["A boca fala daquilo de que o coração está cheio"8]. Isto é falar um bom alemão, pelo que eu me esforcei, e infelizmente nem sempre consegui ou o encontrei. Pois as letras latinas dificultam muito a formulação para se falar em bom alemão.
Do mesmo modo, quando Judas o traidor diz em Mateus 26, 8: "Vt quid perditio haec?" ["A troco de que esse desperdício?"9] E em Marcos 14, 4: "Vt quid perditio ista unguenti facta est?" ["A troco de que esse desperdício do perfume?"10]. Se eu fosse seguir os asnos e os literalistas, eu deveria traduzir assim: Warum ist diese Verlierung der Salben geschehen? ["Por que aconteceu esta perdição de bálsamo?"] Mas que alemão é este? Que alemão fala desta forma: "Aconteceu a perdição do bálsamo?" E se ele entendesse corretamente, isso acreditaria ele, o bálsamo estaria perdido e teria que ser novamente buscado; embora isto também ainda soe obscuro e incerto. E se isto é um bom alemão, por que eles não se apresentam e nos fazem um novo, distinto e belo Testamento em alemão e deixam de lado o Testamento de Lutero ? Acredito mesmo que eles deveriam revelar sua arte. Mas o homem alemão fala assim ("Vt quid" etc.): Was soll doch solcher Unrat, ou, Was soll doch solcher Schade? Nein, es ist schade um die Salbe ["Que bobagem é essa?", ou, "Pra que isso?", "Não, que pena pelo bálsamo!"]; isto é um bom alemão, e assim se entende que Madalena se portou inapropriadamente e esbanjou derramando o bálsamo; era a opinião de Judas, que imaginava fazer um uso melhor.
Igualmente quando o anjo saúda Maria e fala: Gegrüßet seist du, Maria voll Gnaden, der Herr mit dir ["Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo"11]. Pois bem, até agora isto foi simplesmente traduzido segundo as letras latinas. Mas diga-me se algo assim também é um bom alemão. Onde é que um homem alemão fala desta forma: Du bist voll Gnaden ["estás cheia de graça"]? Que alemão entende o que significa voll Gnaden ["cheia de graça"]? Ele deve pensar num barril cheio de cerveja, ou num saco cheio de dinheiro; por isso eu traduzi: Du Holdselige ["agraciada"], com o que um alemão pode imaginar muito melhor o que o anjo quer dizer com sua saudação. Mas aqui os papistas se enfurecem comigo porque eu teria pervertido a saudação angelical, muito embora eu com isso ainda não tenha encontrado o melhor alemão. Se eu tivesse aqui tomado o melhor alemão e traduzido a saudação: Gott grüße dich, du liebe Maria ["Deus te saúda, querida Maria"] (pois isto tudo o anjo quer dizer, e assim ele teria falado, se tivesse querido saudá-la em alemão), creio que eles mesmos se enforcariam por excesso de zelo para com a querida Maria, porque eu teria aniquilado a saudação .
Mas que me importa se eles vociferam ou se enfurecem? Não pretendo impedir que eles traduzam o que quiserem em alemão; mas pretendo também eu traduzir em alemão, não como eles querem, mas como eu quero. Quem não gostar, que me deixe em paz e guarde sua maestria para si, pois não quero vê-la nem ouvi-la; eles não precisam responder à minha tradução nem prestar contas dela. Você está ouvindo bem: eu quero dizer: du holdselige Maria, du liebe Maria ["agraciada Maria, querida Maria"], deixe-os dizerem: Du voll Gnaden Maria ["Maria cheia de graça"]. Quem sabe alemão, sabe bem quão delicada palavra é esta que vai ao coração: querida Maria, querido Deus, querido imperador, querido príncipe, querido homem, querida criança. Eu não sei se se pode expressar a palavra liebe ["querido, amado"], de tanta cordialidade e plenitude, também em latim ou em outras línguas, de forma que igualmente penetre e ressoe no coração através de todos os sentidos, como o faz em nossa língua.
Pois eu considero que São Lucas, enquanto um mestre nas línguas hebraica e grega, quis fazer a palavra hebraica, na forma como o anjo a utilizou, corresponder à grega kexaritwme&nh e torná-la clara. Imagino que o anjo Gabriel falou com Maria como fala com Daniel, chamando-o hamudoth e isch hamudoth12, uir desideriorum, ou seja, "querido Daniel". Pois esta é a maneira de Gabriel falar, como vemos em Daniel. Se eu fosse traduzir em alemão a palavra do anjo conforme a arte dos asnos, segundo a letra, eu teria que dizer: Daniel, du Mann der Begierungen ["Daniel, homem dos apetites"] ou Daniel, du Mann der Lüste ["Daniel, homem dos desejos"]. Oh, que belo alemão! Um alemão entende bem que Mann, Lüste, ou Begierungen são palavras alemãs, embora não sejam palavras totalmente próprias alemãs, melhor estariam se no singular Lust e Begier. Mas quando são unidas deste modo: Du Mann der Begierungen, nenhum alemão sabe o que se disse, e acredita que Daniel talvez esteja cheio de desejos maus. Esta seria uma delicada tradução! Por isso aqui eu tenho que abandonar as letras e investigar como o homem alemão expressa isso que o homem hebraico denomina Isch hamudoth: então eu reconheço que o homem alemão fala assim: "querido Daniel", "querida Maria", ou "agraciada jovem", "graciosa donzela", "doce mulher" e semelhantes. Pois quem quiser traduzir deve possuir um grande acervo de palavras, a fim de que possa ter à mão a melhor quando uma delas não soar bem em nenhum lugar.
Mas para que falar tanto e tanto tempo sobre tradução? Se eu fosse assinalar as causas e as reflexões sobre todas minhas palavras, provavelmente teria que escrever durante todo um ano. Que arte e trabalho é a tradução experimentei muito bem! Por isso não vou tolerar como juiz ou crítico nenhum asno papista ou mulo, que nunca tentaram nada. Quem não quer minha tradução que a deixe estar. O diabo agradece aquele que não gosta dela ou a aperfeiçoa sem minha vontade e conhecimento. Se deve ser aperfeiçoada, quero fazê-lo eu mesmo. Se eu mesmo não o faço, deixem-me em paz com minha tradução, e que cada um faça o que quiser para si mesmo e passe bem!
Posso afirmar com a consciência tranqüila que dediquei a ela minha mais alta fidelidade e diligência, e nunca tive falsas intenções, pois não aceitei, nem procurei, nem ganhei qualquer centavo por isso. Da mesma forma, não busquei nela minha honra, sabe-o Deus, meu Senhor, porém a fiz por serviço aos amados cristãos e para honra daquele que está sentado no alto, e que em todas as horas tanto bem me faz, que mesmo se eu tivesse traduzido mil vezes tanto e tão diligentemente, não mereceria contudo viver por uma hora ou ter um olho são: tudo deve-se à sua graça e misericórdia, também o que eu sou e tenho, sim, deve-se a seu precioso sangue e amargo suor; por isso, tudo, pela vontade de Deus, deve servi-lo para sua honra, com alegria e de coração. Se os embusteiros e os papistas me difamam, me louvam os cristãos piedosos junto a Cristo, seu Senhor, e eu também estaria ricamente recompensado se fosse apenas um único cristão a me considerar um trabalhador leal. Não me preocupam os asnos papistas, que não são dignos de avaliar meu trabalho, e eu lamentaria do fundo do coração se eles me absolvessem. Sua calúnia é minha maior fama e honra. Contudo, quero ser um doutor, e até um doutor exemplar, e eles não hão de tomar-me este nome até o dia do juízo final, disso tenho certeza.
Por outro lado, não abandonei completamente a letra, mas observei-a com grande cuidado junto a meus ajudantes, de maneira que, quando necessário, mantive-a e dela não me afastei tão livremente; como em João 6, 27, onde Cristo fala: Diesen hat Gott der Vater versiegelt ["A este, Deus Pai o selou"]. Certamente teria sido um alemão melhor: Diesen hat Gott der Vater gezeichnet, ou, diesen meinet Gott der Vater ["A este, Deus Pai o marcou", ou, "A este, referiu-se Deus Pai"]. Mas preferi corromper a língua alemã a negligenciar a palavra. Ah, a tradução não é em absoluto uma arte para qualquer um, como acreditam os santos insensatos!; a ela pertence um coração reto, piedoso, fiel, diligente, temente, cristão, erudito, experiente, treinado. Por isso penso que nenhum falso cristão ou espírito sectário sabe traduzir fielmente, como se depreende da tradução dos Profetas, em Worms13, em que certamente se aplicou grande diligência e observou-se muito meu alemão. Mas havia judeus presentes, que não mostraram muita benevolência para com Cristo; no demais houve suficiente arte e cuidado.
Isto é o que havia para ser dito quanto à tradução e à propriedade das línguas. Eu, porém, não confiei somente na propriedade das línguas e a observei ao acrescentar solum, "somente", em Romanos 3, 28, mas também o texto e o pensamento de São Paulo o exigem e o reclamam com força; pois ele trata ali mesmo do elemento principal da doutrina cristã, ou seja, que nós somos salvos pela fé em Cristo, sem qualquer obra da lei; e exclui todas as obras tão claramente que chega a dizer que as obras da lei (que obviamente é a lei e a Palavra de Deus) não colaboram para a salvação; e dá como exemplo Abraão, que foi salvo tão isento das obras que, inclusive a maior delas, que então fora um novo mandamento de Deus acima de todas as outras leis e obras, a saber, a circuncisão, não lhe ajudou para a salvação, mas foi salvo pela fé, sem a circuncisão e sem qualquer obra, como ele fala no capítulo 414: "Se Abraão foi salvo pelas obras, ele pode se vangloriar, mas não diante de Deus". Pois bem, onde se exclui tão completamente todas as obras – e esse deve ser o sentido de que somente a fé salva – e quer-se falar claramente e diretamente de uma tal exclusão das obras, tem-se que afirmar: Somente a fé e não as obras nos salvam. Isso é exigido pela própria questão além da propriedade da língua.
Sim, eles dizem que soa escandaloso e com isso as pessoas aprendem que não precisam fazer boas obras. Mas meu caro, o que se lhes pode responder? Muito mais escandaloso é o fato de que o próprio São Paulo não diga somente a fé, mas descarregue ainda mais duramente encerrando a questão: sem as obras da lei, e em Gálatas 2, 16: não pelas obras da lei, e semelhantes em outras passagens. A expressão somente a fé ainda admitiria um comentário, mas a expressão sem as obras da lei é tão dura, escandalosa e abominável, que não pode ser amenizada com nenhum comentário. Muito mais poderiam as pessoas aprender com isso a não fazerem boas obras, pois elas ouvem das próprias obras pregar com palavras tão duras e fortes: Nenhuma obra, sem obras, não pelas obras. Se não é escandaloso que se pregue: Sem obras, nenhuma obra, não pelas obras, por que seria escandaloso então pregar somente a fé?
É algo ainda mais escandaloso que São Paulo rejeite não apenas obras simples e comuns, mas também as da própria lei. Com isso alguém bem poderia irritar-se ainda mais e dizer que a lei é condenada e maldita diante de Deus e se deveria fazer só o mal, como se dizia em Romanos 3, 8: "Façamos o mal para que se torne o bem", como começou a fazer também um espírito sectário em nossa época. Por causa de um tal escândalo se deveria então renegar a palavra de São Paulo ou não falar francamente e livremente da fé? Meu caro, precisamente São Paulo e nós desejamos tais escândalos e é esta a única razão por que pregamos tão fortemente contra as obras e insistimos somente na fé, a fim de que as pessoas se escandalizem, tropecem e caiam para poderem aprender e saber que não se santificam através de suas boas obras, mas somente pela morte e ressurreição de Cristo. Se elas não podem se santificar pelas boas obras da lei, muito menos poderão se santificar pelas más obras e sem a lei. Disso não se pode concluir que se as boas obras não ajudam, as más obras ajudam, assim como não se pode concluir que se o sol não pode ajudar o cego a ver, então a noite e a escuridão hão de ajudá-lo a ver.
Tradução de Mauri Furlan

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

TU ÉS PEDRO E SOBRE ESTA PEDRA EDIFICAREI A MINHA IGREJA





SIMÃO RECEBE UM NOVO NOME.


158. Um dia Nosso Senhor teve ocasião de frisar o contraste entre o entre o homem sábio que EDIFICOU a sua casa sobre ROCHA; e veio a chuva e transbordaram os rios e assopraram os ventos e combateram aquela casa e ela não caiu, porque estava FUNDADA sobre a rocha (Mateus 7,24-25); e o homem sem consideração que edificou a sua casa sobre a areia; e veio a chuva e transbordaram os rios e assopraram os ventos e combateram aquela casa, e ela caiu e foi grande a sua ruína (Mateus 7,26-27).

Ora, Nosso Senhor mesmo nos ensina que a sua obra, fundando e organizando a Igreja, é semelhante à obra de um homem levantando um edifício: EDIFICAREI a minha Igreja (Mateus 16,18).

Foi por isto que Ele, logo quando viu a Pedro pela primeira vez, depois de olhar para o seu futuro Apóstolo de uma maneira tão significativa e profunda que o Evangelista registrou este olhar, lhe mudou o nome de Simão para Cefas. “E Jesus, depois de OLHAR para ele, disse: tu és Simão, filho de Jonas, tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro” (João 1,42).

Se Jesus fosse um simples homem, não deixaria de causar estranheza o fato de um homem ver a outro pela primeira vez e ir imediatamente mudando o seu nome. Mas Jesus era Deus. Conhecia perfeitamente todos os segredos das almas e todos os acontecimentos do futuro. Sabia muito bem o que ia fazer. E também não fazia nenhuma ação inútil, nem sem significação.

Nem era a primeira vez, Na Bíblia, que Deus mudava o nome de uma pessoa, antes de lhe confiar uma missão importante. O mesmo acontecera com Abraão. A princípio ele se chamava Abrão que quer dizer pai excelso, ou que pensa em coisas excelsas. Deus lhe mudou o nome para Abraão, isto é, pai de uma excelsa multidão, ou pai de muitos excelsos: “Daqui em diante não te chamarás mais Abrão; mas chamar-te-ás Abraão, PORQUE EU TE TENHO DESTINADO PARA PAI DE MUITAS GENTES. E farei crescer a tua posteridade infinitamente e te farei chefe das nações e de ti sairão reis” (Gênesis 17,5-60). “O nome de Abraão observa S. João Crisóstomo, é como a coluna que inscreve para a eternidade a promessa da posteridade e de uma prole fiel e eleita”.

Ora, na língua que Nosso Senhor falava, ou seja, o aramaico ou sírio-caldaico, a mesma palavra KEPHA com que Nosso Senhor designou menor alteração. O mesmo acontece na língua francesa em que Pierre serve para designar um homem chamado Pedro, como serve também para significar pedra. Um caso semelhante acontece na nossa língua, em que um homem poder ser conhecido por Rocha (Sr. Rocha, Dr. Rocha) e a mesma palavra Rocha quer dizer pedra.

Por isto, tanto o Evangelista podia ter dito: tu serás chamado Cefas que quer dizer Pedro, como podia ter dito: tu serás chamado Cefas que quer dizer pedra; porque Cefas significava uma coisa e outra. Preferiu dizer que Cefas significa Pedro, para mostrar a que nome próprio de pessoa correspondia o nome imposto a Simão.

Jesus não explicou na mesma hora qual o motivo por que fazia aquela mudança de nome; era cedo ainda para isto, deixou para explica-lo solenemente mais tarde, como verdadeiro prêmio de uma bela profissão de fé.

PEDRO, PEDRA FUNDAMENTAL DA IGREJA.

159. Um dia Jesus faz aos seus discípulos uma pergunta; quer saber o que é que dizem os homens a respeito dEle: “ quem dizem os homens que é o Filho do Homem? ( Mateus 16,13). E eles responderam: uns dizem que João Batista, mas outros que Elias e outros que Jeremias ou algum dos profetas ( Mateus 16,14). Mas Jesus lhes perguntou: E vós quem dizeis que sou eu? ( Mateus 16,16). A questão foi, portanto, apresentada por Jesus de propósito, de ânimo pensado, a fim de provocar a confissão de Pedro. Os outros Apóstolos calam e hesitam, com receio de dizer alguma coisa que não seja bem expressiva, que não seja inteiramente exata. Pedro porém, o mais fervoroso, o mais decidido, o mais ilustrado por Deus, antes que alguém dê uma resposta fraca e inadequada e falando com convicção de que se reveste o bom aluno quando sabe qual a resposta que quer o seu mestre, responde por eles: Tu és o Cristo o Filho de Deus vivo ( Mateus 16,16). Tu és o Cristo, ou seja, és o Messias prometido. És mais do que isto: és o filho de Deus vivo, Segunda Pessoa igual ao Pai, filho de Deus por natureza.

Cristo gostou imensamente da resposta de Pedro, a qual era um sinal de que Deus iluminava de maneira toda particular aquele espírito simples e bem formado de rude pescador. E já que Pedro disse tão brilhantemente que é Cristo, qual é a sua missão, qual é a sua grandeza, Jesus Cristo vai dizer, em retribuição, quem é Pedro, qual o seu cargo, quais são as suas prerrogativas. Pedro é a pedra sobre a qual Jesus vai construir a sua Igreja; vai ter nesta Igreja o supremo poder, pois Cristo lhe dará as chaves do Reino dos Céus, com plenos poderes para ligar e desligar.

Desde que, como dissemos na língua que Jesus falava a mesma palavra KEPHA quer dizer Pedro e quer dizer pedra percebe-se perfeitamente o trocadilho usado por Nosso Senhor: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, trocadilho este que se exprime exatamente na língua francesa:

Tu és PIERRE et sur cette PIERRE JE BÂTIRAI MON Église.

O siríaco é uma língua irmã do sírio-caldaico ou aramaico, que Jesus falou, de modo que diz o comentador M. J. Lagrange: “As versões siríacas têm uma muito grande importância para a exegese do Novo Testamento, porque de certo modo nos fornecem a expressão primitiva dos catequistas e, sobretudo das palavras e, sobretudo das palavras de Nosso Senhor”. Pois bem, as versões siríacas, tanto a chamada Peshitta que é usada oficialmente pelos cristãos sírios, católicos e acatólicos, como a chamada Cureton pelo nome daquele que a descobriu e divulgou, trazem a mesma forma para as 2 palavras: Pedro e pedra; pois no siríaco (língua, repetimos, muito semelhante àquela que Jesus falou) KIPHA é Pedro e KIPHA é pedra. Na versão persa e na etiópica também é exatamente a mesma palavra para designar Pedro e para designar pedra, mostrando-se assim o trocadilho tão perfeitamente como sem mostra no francês.

Embora nossa língua não exprima com tanta perfeição, como o francês, o trocadilho usado por Nosso Senhor, todavia que lê o texto português o percebe logo facilmente, pois entre nós até as crianças sabem que Pedro quer dizer pedra. Também no grego o substantivo apelativo PÉTROS quer dizer pedra. Veja-se o dicionário de Bailly que assinala pedra, rochedo (pierre, rocher) como os 2 únicos significados desta palavra. Se o intérprete grego chamou a Pedro PÉTROS e não PÉTRA, é porque no grego os nomes próprios masculinos terminam em regra geral em as,es,is,os,us.

O que se deu na língua falada por nosso Senhor foi o que se teria dado na nossa língua p.ex., se um homem tivesse imposto a outro o nome de rocha, para depois dizer-lhe abertamente: Tu és a ROCHA e sobre esta ROCHA é que vou edificar a associação que quero instituir. Sendo que nos lábios de Nosso Senhor o trocadilho ainda foi mais perfeito, porque em sírio-caldaico ou aramaico a palavra KEPHA é sempre masculina, ou signifique Pedro ou signifique pedra: Tu és KEPHA e sobre esta KEPHA edificarei minha Igreja.

É natural a luta dos hereges para tentar desfazer o valor deste texto de suma importância para se conhecer qual é a VERDADEIRA IGREJA, porque, como diz o teólogo acatólico Palmer: “a doutrina a respeito do primado do Bispo de Roma sobre a Igreja Universal é o eixo, em torno do qual giram todas as controvérsias entre a Igreja Romana e as demais igrejas, porque se Cristo Nosso Senhor instituiu um primado ex-ofício de algum Bispo na Igreja Católica, primado este que deva perdurar, e se este primado o herdou o Bispo de Roma, daí se segue que a Igreja Universal se reduz a uma só Igreja, de obediência romana; e os concílios, doutrina e tradições desta Igreja são revestidos de autoridade para todo mundo cristão”. (p.7 de Romano Pontífice c. 1).

Nada mais compreensível, portanto do que o esforço dos protestantes, procurando violentar o texto, querendo afirmar que aquelas palavras se referem a todos os Apóstolos, pelo fato de ter falado Pedro em nome de todos eles: Ou que se referem à fé, e não a Pedro; ou que aquela pedra, de que aí se trata não é Pedro, mas o próprio Cristo.

Mas Nosso Senhor faz tudo sempre bem feito. Ele tomou tantas precauções para mostrar que se referia diretamente e exclusivamente à pessoa de Pedro, que, como observa o Cardeal Mazzella, “os notários, quando fazem documentos públicos e querem designar uma certa e determinada pessoa, não usam de mais minúcias do que usou Jesus Cristo”.

“Bem - aventurado és SIMÃO, FILHO DE JOÃO” (Mateus 16,17). Cristo lhe dá o nome de nascimento e lhe acrescenta o nome do pai, para não se confundir com outros;

“Porque não foi a carne e sangue quem te revelou, mas sim meu Pai que está nos Céus” – fala numa revelação oculta feitas diretamente a Pedro;

Cristo vai fazer também a Pedro uma revelação contínua insistentemente tratando por TU, insistentemente tratando por Tu, insistentemente mostrando que fala só a Pedro: Também eu TE digo que TU és Pedro (Mateus 16,18) – para que ainda não se confunda com nenhum outro, acrescenta-lhe o nome especial que deu a Simão e vai explicar o motivo por que lhe impôs este nome:

“E sobre ESTA PEDRA edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”- a palavra ESTA mostra claramente que Ele se refere a um termo usado anteriormente que no caso é o termo Pedro que quer dizer: Pedra ( Pedro e pedra era a mesmíssima palavra na língua que Jesus estava falando); e continua Cristo dirigindo-se exclusivamente a Pedro, como se prova pelo contínuo emprego de TU:”Eu TE darei as chaves do reino dos Céus; e tudo o que LIGARES sobre a terra será ligado também nos Céus, e tudo o que DESATARES sobre a terra será desatado também nos céus ( Mateus 16,19).

Os protestantes passaram muito tempo sustentando que na frase – “sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” – “esta pedra” se referia a Cristo e não a Pedro. Depois é que muitos deles resolveram desistir dessa interpretação, por eles mesmos, considerada antigramatical e por demais TORCIDA e ILÓGICA (destaque do administrador).

No meio de um discurso que se refere, todo ele, a Pedro (Bem aventurado és... Eu te digo... Tu és Pedro... Eu te darei... Tudo quanto ligares...) aquela expressão – sobre esta pedra – só podia referir-se a Simão, que por Cristo foi chamado especialmente KEPHA, isto é, pedra. Do contrário Cristo estaria ludibriando a S. Pedro; deu-lhe o nome de pedra, mas Pedro não o seria. Cristo o teria chamado pedra só para levá-lo na troça; na hora de lhe explicar por que motivo lhe dera este nome, teria dito que a pedra era só Ele, Cristo e ninguém mais.

Além disto, para justificar sua interpretação, os protestantes são obrigados a inventar uma hipótese que não consta absolutamente do texto, ou seja, que Jesus dizendo – “esta pedra” APONTOU COM O DEDO PARA SI PRÓPRIO. Além da falta de nexo, de ilação entre as palavras: Eu te digo que TU és Pedro – e as outras: sobre esta pedra que sou eu (é claro que devia ser: que és tu) edificarei a minha Igreja; como provam os protestantes, os quais admitem só o que está na Bíblia, que Cristo apontou com o dedo para si próprio?

Respondem eles: Isto não é preciso provar, porque também Cristo disse: “Desfazei esta templo e eu o levantarei em três dias” (Jo 2,19), certamente apontou para si próprio e o Evangelista não o diz.

Sim, o evangelista não disse que Cristo apontou para si próprio, porém fez ainda melhor: explicou bem claramente a que templo se referia Jesus: “Mas ele falava do templo do seu corpo” (Jo 2,21). Se Cristo dizendo – sobre esta pedra – se referisse a si próprio, S. Mateus deveria explicá-lo claramente, porque dentro daquelas palavras todas dirigidas exclusivamente a São Pedro, não haveria ninguém de bom senso que fosse capaz de decifrar semelhante enigma.

(CONTINUA...)













sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

ORAÇÃO DO ABANDONO

(Beato Charles de Foucould)

Meu Pai
A Ti me abandono
Faze de mim o que quizeres
O que de mim fizeres
Eu te agradeçoEstou pronto para tudo
Aceito tudoContanto que a tua vontade
Se faça em mim
E em todas as tuas criaturas
Não quero outra coisa meu Deus
Entrego a minha vida
Em tuas mãos,
Eu a dou meu Deus
Com todo o amor
Do meu coração
Porque eu te amo
E porque é para mim
Uma necessidade de amor
Dar-me,
Entregar-me em tuas mãos
Sem medida
Com infinita confiança
Porque Tu és meu Pai

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

SERMÃO DE SÃO JOÃO MARIA VIANNEY SOBRE O PURGATÓRIO

Sobre o Purgatório
Por que será que eu me encontro de pé hoje nesse púlpito, meus caros irmãos? O que será que eu venho dizer para vocês? Ah! Eu venho em nome do próprio Deus. Eu venho em nome de seus pobres pais, para despertar em vocês aquele amor e gratidão que vocês lhes devem . Eu venho pra refrescar nas suas memórias novamente, toda a ternura e todo o amor que eles deram a vocês enquanto eles ainda estavam sobre essa terra. Eu venho pra dizer a vocês que eles sofrem no Purgatório, que eles choram e reclamam com urgentes gritos o auxílio de suas orações e boas-obras. Eu os tenho visto gritando das profundezas daquelas chamas que os devoram: -"Digam aos nossos amigos, aos nossos filhos, aos nossos parentes, como é grande o mal que eles estão nos fazendo sofrer. Nós nos atiramos aos seus pés para implorar o auxílio de suas orações! Ah! Diga -lhes que desde que nós fomos separados deles, nós temos estado queimando em chamas! Oh! Quempoderia permanecer tão indiferente diante dos sofrimentos que estamos enfrentando!" Você vê, meu caro irmão, você escuta aquela terna mãe, aquele pai devotado e todos aqueles parentes que lhe ajudaram e fizeram parte de sua vida? Meus amigos, eles gritam: -"Livrai-nos dessa dor, você pode!" Considerem então meus caros amigos: 1°- A magnitude desses sofrimentos pelos quais passam as almas do purgatório e 2°- os meios dos quais dispomos para mitigar esses sofrimentos: nossas boas obras, nossas orações e acima de tudo, o santo sacrifício da Missa. Eu não quero parar neste estágio para provar a existência do Purgatório, pois isso seria uma perda de tempo. Espero que nenhum de vocês tenha a menor dúvida a este respeito. A Igreja, à qual Jesus Cristo prometeu a guia do Espírito Santo e a qual, conseqüentemente, não pode se enganar nem nos enganar, ensina-nos sobre o Purgatório de um modo bem claro e positivo. Isto é uma certeza mais que certa, de que lá é um lugar onde as almas dos justos completam a expiação por seus pecados, antes de serem finalmente admitidas na glória do Paraíso, o qual, diga-se de passagem, já está assegurado a elas. Sim meus caros irmãos, isto é um artigo de Fé: se nós não tivermos feito penitência proporcional à gravidade de nossos pecados, ainda que tenhamos sido absolvidos no Sagrado Tribunal da Confissão, nós seremos obrigados a expiar por eles. Nas Sagradas Escrituras há muitos textos que mostram claramente, que embora nossos pecados possam ser perdoados, Deus ainda impõe-nos a obrigação de sofrer neste mundo duros trabalhos temporais ou no próximo através das chamas do Purgatório.Veja o que aconteceu com Adão. Porque ele se arrependeu logo depois de ter cometido o pecado original, Deus garantiu a ele que o havia perdoado,mas ainda assim Ele o condenou a passar nove séculos sobre esta terra fazendo penitência. Penitências que ultrapassam qualquer coisa que possamos imaginar:..."maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de sua vida. Ela te produzirá espinhos e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que fostes tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar..."(Gênesis 3.17). Veja novamente: Davi ordenou, contrariando a vontade de Deus, que se fizesse o recenseamento de Israel. Atingido pelo remorso de consciência, ele reconheceu o seu pecado, atirou-se ao chão suplicando ao Senhor que o perdoasse. Conseqüentemente, Deus tocado pelo seu arrependimento, o perdoou. Mas apesar disso,ele enviou Gad para dizer a Davi que ele teria que escolher entre 3 tipos de punições que Ele havia preparado para Davi reparar pelo seu pecado: a peste,a fome ou a guerra. Davi então respondeu: "Ah! Caia eu nas mãos do Senhor, porque imensa é a sua misericórdia; mas que eu não caia nas mãos do homem..."(ICrônicas 21). Ele escolheu a peste e esta durou apenas 3 dias, mas matou 7 mil pessoas de seu povo. Se o Senhor não tivesse detido a mão do Anjo que estava estendida sobre Israel, Jerusalém inteira teria ficado despovoada! Davi ao ver todo omal causado pelo seu pecado, implorou a graça de Deus pedindo que Deus punisse apenas ele mesmo, mas que poupasse o seu povo que era inocente. Vejam também as penitências de Santa Maria Madalena! Quem sabe não sirvam para amolecer um pouco seus corações?Meus caros irmãos, o que serão então, o número de anos que nós teremos que sofrer no Purgatório, nós que cometemos tantos pecados e que sob o pretexto de já o termos confessado, não fazemos penitências e nem choramos por eles? Quantos anos de sofrimento nos esperam na próxima vida?Como poderia eu pintar um quadro dos sofrimentos que essas pobres almas suportam, quando os santos padres da Igreja dizem-nos que os tormentos que elas sofrem são comparáveis ao que passou Nosso Senhor Jesus Cristo durante sua dolorosa paixão? Uma coisa é certa, se o menor sofrimento que Nosso Senhor suportou tivesse sido compartilhado por toda a humanidade, todos estariam mortos devido à violência de seus sofrimentos. O fogo do Purgatório é o mesmo que o fogo do Inferno. A diferença entre eles é que o fogo do Purgatório não é eterno.Oh! Se Deus permitisse que uma daquelas pobres almas que está mergulhada nas chamas, aparecesse agora neste lugar, toda envolvida pelas chamas que a consome e desse ela mesma um recital dos sofrimentos que ela está suportando! Toda essa Igreja, meus caros irmãos, seria sacudida pelo eco de seus gritos e soluços e talvez quem sabe isso amoleceria os seus corações? Esta pobre alma nos diria: - "Como nós sofremos! Ó irmãos, livrai-nos desses tormentos! Ah, se vocês pudessem experimentar o que é viver separado de Deus!... Cruel separação! Queimar no fogo aceso pela justiça de Deus!.. Sofrer dores incompreensíveis para a mente humana!... Ser devorado pelo remorso, sabendo que poderíamos facilmente ter evitado esses tormentos!... Oh! Meus filhos!- gritam os pais e as mães- como podem vocês nos abandonar nessas horas, nós que tanto osamamos quando estávamos sobre essa terra! Como vocês podem ir dormir tranqüilamente em suas camas, enquanto nós queimamos em uma cama de fogo? Como vocês tem coragem de se entregar aos prazeres e alegrias, enquanto nós sofremos e choramos dia e noite? Vocês herdaram nossos bens, nossas propriedades, vocês se divertem com o fruto de nossos trabalhos, enquanto nós sofremos males tão indescritíveis e por tantos anos!.. E não são capazes de oferecer uma pequena oração em nossa intenção, nem uma simples Missa que tanto ajudaria para nos livrar dessas chamas!... Vocês podem aliviar nosso sofrimento, vocês podem abrir nossas prisões e vocês simplesmente nos abandonam. Oh! Quão cruel são estes sofrimentos!..."Sim meus irmãos, as pessoas julgam de um modo muito diferente, o que é estar nas chamas do Purgatório por todas essas culpas leves. Se é que é possível chamar de "leve" algo que nos faz suportar punição tão rigorosa! Que espanto seria para o homem, grita o profeta real, se mesmo o mais justo dos homens fosse julgado por Deus sem nenhuma misericórdia! Se Deus achou manchas até no sol e malícia nos anjos, o que será então do homem pecador? E para nós que cometemos tantos pecados mortais e praticamente não fazemos nada para satisfazer a justiça de Deus. Quantos anos de Purgatório! Meu Deus!-disse Santa Tereza de Ávila- "que alma seria suficientemente pura para entrar diretamente no Céu sem ter que passar pelas chamas da justiça?" Em sua última doença, ela de repente gritou: "Oh Justiça e Poder do meu Deus, quão terrível sois!" Durante sua agonia, Deus permitiu que ela contemplasse por alguns segundos a Sua Santidade, assim como os anjos e os santos do Céu O contemplam. E isso causou nela um pavor tão grande, que ela se pôs a tremer e ficou agitada de um modo tão extraordinário que as irmãs perguntaram-lhe chorando: -"Ah! Madre, o que está se passando? Certamente que a senhora não teme a morte depois de tantos anos de penitência e lágrimas amargas!" - Não, minhas filhas, eu não temo a morte, muito pelo contrário, eu a desejo porque só assim estarei unida eternamente a Deus. - Oh! Madre, seriam os teus pecados então, que ainda te aterrorizam depois de tantas mortificações? - Sim minhas filhas- respondeu Tereza- eu temo pelos meus pecados, mas temo por algo ainda maior! - Seria então, o julgamento? - Sim, eu temo pela formidável conta que terei que prestar diante de Deus. Principlamente porque nesse momento seremos julgados pela justiça e não pela misericórdia. Mas tem algo que ainda me faz morrer de terror. As pobres irmãs já estavam profundamente angustiadas. - Madre, seria por acaso o Inferno? -Não -respondeu ela - O inferno, Graças a Deus não é pra mim. Oh! Minhas filhas, é a Santidade de Deus. Meus Deus, tende misericórdia de mim! Minha vida será confrontada face a face com o próprio Cristo! Ai de mim se eu tiver a menor mancha ou falha! Ai de mim, se eu tiver a menor sombra de pecado! - Ai de nós! - gritaram as pobres irmãs - O que será então no dia das nossas mortes?O que será então de nós, meus caros irmãos? Nós que talvez em todas as nossas penitências e boas obras, talvez nunca tenhamos conseguido satisfazer por um único pecado perdoado no tribunal da Confissão? Ah! Quantos anos e séculos de tormento para nos punir?... Vamos pagar muito caro por todas essas "pequenas falhas" que nós vemos como algo que não tem a menor importância, como aquelas "pequenas mentirinhas" que nós falamos para evitar problemas para nós mesmos, aqueles pequenos escândalos, o desprezo pelas graças que Deus nos concede a cada momento, aquelas pequenas murmurações nas dificuldades que Ele nos envia! Não, meus caros irmãos, nós não teríamos nunca a coragem de cometer o menor pecado, se pudéssemos entender o quanto isto ultraja a Deus e o quão merecemos ser rigorosamente punidos, já ainda nesse mundo.Meus irmãos, Deus é justo em tudo que Ele faz. Quando Ele recompensa-nos até pela menor boa ação que fazemos, Ele nos dá muito mais do que qualquer um de nós merecemos. Um bom pensamento, uma boa ação, um bom desejo, ou seja, o desejo de fazer uma boa obra, mesmo quando não somos capazes de fazê-la, Ele nunca nos deixa sem uma recompensa. Mas também, quando se trata de uma matéria de punição, isto é feito com o maior rigor e ainda que tenhamos a menor falta seremos enviados para o Purgatório. Isto é verdade absoluta e nós comprovamos isto pela vida dos santos. Muitos deles não chegaram ao Céu, sem antes terem passado pelas chamas do Purgatório.São Pedro Damião conta-nos que sua irmã permaneceu vários anos no Purgatório porque ela ouviu com prazer certos tipos de músicas. Conta-se também que dois religiosos fizeram um pacto um com o outro, acertando que quem morresse primeiro viria contar ao sobrevivente em que estado ele se encontrava. Deus permitiu que isso acontecesse e quando um deles morreu, apareceu ao seu amigo. Ele contou ao seu amigo que tinha permanecido 15 anos no Purgatório por seu orgulho de sempre querer fazer as coisas a seu modo. Então seu amigo o cumprimentou por ter permanecido lá por tão pouco tempo! O morto então respondeu: - Eu teria preferido ser queimado vivo por 10 mil anos ininterruptos nessa terra, pois esse sofrimento nem poderia ser comparado com o que eu sofri 15 anos naquelas chamas! Um sacerdote contou a um de seus amigos que Deus o havia condenado a permanecer no Purgatório por vários meses, por ter segurado a execução de uma boa-obra que era Vontade de Deus que fosse feita. Coitados de nós, meus irmãos! Quantos de nós não temos faltas semelhantes? Quantos de nós recebemos a tarefa de nossos parentes e amigos de mandarmos celebrar Missas e dar esmolas e simplesmente fazemo-nos de esquecidos! Quantos de nós evitamos fazer boas-obras apenas por respeito humano? E todas essas almas presas nas chamas, porque não temos coragem de satisfazer seus desejos! Pobres pais e pobres mães, vocês agora estão sendo sacrificados pela felicidade de seus filhos e parentes! Vocês talvez tenham negligenciado sua própria salvação para construírem suas fortunas. E agora vocês estão sendo traídos pelas boas-obras que vocês deixaram de fazer enquanto ainda estavam vivos! Pobres pais! Quanta cegueira é esquecer de nossa própria salvação!Você talvez me dirá: -Nossos pais eram pessoas boas e honestas. Eles não fizeram nada de tão grave para merecerem essas chamas! Ah! Se vocês soubesses que eles precisavam de muito menos do que eles fizeram para cair nessas chamas! Vejam o que disse a esse respeito, Alberto, o Grande, um homem cujas virtudes brilharam de modo extraordinário! Ele revelou a um de seus amigos, que Deus o havia levado ao Purgatório por ter se orgulhado de um pensamento sobre seu próprio conhecimento. A coisa mais surpreendente foi que ali haviam verdadeiros santos, muitos que inclusive já tinham sido canonizados pela Igreja e que estavam passando pelas chamas do Purgatório.São Severino, Arcebispo de Colônia, apareceu a um de seus amigos muito tempo depois de sua morte e disse-lhe que ele havia passado um longo tempo no Purgatório por ter adiado pra de noite, as orações do breviário que ele devia ter recitado pela manhã.Oh! Quantos anos de Purgatório não passarão aqueles cristãos que não tem o menor escrúpulo em adiar suas orações para uma outra hora, apenas pela desculpa de terem algo mais importante a fazer! Se nós realmente desejássemos a felicidade de possuir a visão beatífica de Deus, nós evitaríamos tanto os pecados mortais como os veniais, uma vez que a separação de Deus constitui-se um tormento tão terrível para essas almas!
Retirado do livro "O Espírito do Cura D'Árs".

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

SERMÃO DE SÃO JOÃO MARIA VIANNEY

Sinceramente, este sermão deveria ser lido por todos os católicos !


SOBRE O RESPEITO HUMANO


Beatus qui non fuerit scandalizatus in me
(S. Mat, XI. 6)


Nada mais glorioso e honroso para um cristão, que levar o nome sublime de filho de Deus, de irmão de Jesus Cristo. Mas, ao mesmo tempo, nada mais infame que envergonhar-se de ostentá-lo cada vez que se apresente ocasião para isso. Não, não vos maravilheis ao ver homens hipócritas, que fingem o quanto podem um exterior de piedade para atrair a estima e os aplausos dos demais, enquanto que seu pobre coração se acha devorado pelos mais infames pecados. Querem, estes cegos, gozar das honras inseparáveis da virtude, sem ter o incômodo de praticá-las. Mas maravilhemo-nos ainda menos ao ver a outros, bons cristãos, ocultarem, enquanto podem suas boas obras aos olhos do mundo, temerosos de que a vanglória se insinue em seus corações e de que os vãos aplausos dos homens lhes façam perder o mérito e a recompensa delas. Mas, onde encontrar, meus irmãos, covardia mais criminosa e abominação mais detestável que a nossa, que, professando crer em Jesus Cristo, estando obrigados pelos mais sagrados juramentos a seguir suas pisadas, a defender seus interesses e sua glória, ainda que à custa de nossa própria vida, somos tão vis, que, na primeira ocasião, violamos as promessas que lhe fizemos nas sagradas fontes batismais? Ah! , infelizes! Que fazemos? Quem é Aquele a quem renegamos? Ai! Abandonamos o nosso Deus, o nosso Salvador, para nos tornamos escravos do demônio, que nos engana e não busca outra coisa senão a nossa ruína e nossa eterna infelicidade. Oh, maldito respeito humano, que arrasta as almas ao inferno. Para melhor fazê-los ver sua baixeza, os mostrarei: 1º. O quanto ofende a Deus o respeito humano, ou seja, a vergonha de fazer o bem; 2º. Quão débil e mesquinho de espírito, revela ser àquele que o comete.

I – Não nos ocupemos, meus irmãos, daquela primeira classe de ímpios que empregam seu tempo, sua ciência e sua miserável vida em destruir, se pudessem, nossa santa religião. Estes desgraçados parecem não viver senão para tornar insignificantes os sofrimentos e os méritos da morte e paixão de Jesus Cristo. Têm empregado uns, sua força, outros sua ciência, para quebrar a pedra sobre a qual Jesus Cristo edificou Sua Igreja, que é nossa santa religião, a qual subsistirá a despeito de todos os seus esforços.
Com efeito, meus irmãos, no que resultou toda a fúria dos perseguidores da Igreja, dos Neros, dos Maximinianos, dos Dioclecianos, de tantos outros que julgaram faze-la desaparecer da terra com a força de suas armas? Sucedeu-se exatamente o contrário: O sangue de tantos mártires, como disse Tertuliano, somente serviu para fazer florescer ainda mais a religião; aquele sangue era uma semente de cristãos, que produzia a cem por um. Desgraçados! O que fez a eles esta santa e nobre religião para que assim a persigais, quando somente ela, pode fazer o homem feliz aqui na terra? Ai! Como choram e gemem agora nos infernos, onde conhecem claramente que esta religião, contra a qual se desenfrearam, poderia ter-lhes levado ao Paraíso! Mas, vãos e inúteis lamentos!
Olhai igualmente a esses outros ímpios que fizeram o quanto esteve em suas mãos para destruir nossa santa religião com seus escritos, um Voltaire, Um Rousseau, um Diderot, um D’Alembert, um Volney e tantos outros que passaram a vida vomitando com seus escritos quanto podia inspirar-lhes o demônio. Ai! Muito mal fizeram, é verdade; muitas almas perderam, arrastando-as consigo ao inferno; mas não puderam destruir a religião como pensavam. Longe de quebrar a pedra sobre a qual Jesus Cristo edificou sua Igreja, que há de durar até o fim do mundo, se chocaram contra ela. Onde estão agora estes desventurados ímpios? Ai! No inferno onde choram sua desgraça e a de todos aqueles, que consigo arrastaram.
Nada digamos tampouco, irmãos, de outra classe de ímpios que, sem manifestarem-se abertamente inimigos da religião, da qual conservam, todavia algumas práticas externas se permitem, não obstante, certos gracejos, sobre a virtude ou piedade daqueles a quem não se sentem com ânimo de imitar. Diz-me, amigo, que te tem feito esta religião que herdastes dos teus antepassados, que eles tão fielmente praticaram diante de seus olhos, da qual tantas vezes lhe disseram que somente ela pode fazer a felicidade do homem na terra, e que, ao abandoná-la, não podíamos senão sermos infelizes? E aonde pensas que te conduziram amigo, teus comentários ímpios? Ai! Pobre amigo! Ao inferno, para chorares a tua cegueira.
Tampouco nada diremos desses cristãos que só o são de nome; que praticam seus deveres de cristãos de um modo tão miserável, que há de morrer-se de compaixão (por eles). Vereis que fazem suas orações com fastio, dissipados, sem respeito. Os vereis na Igreja sem devoção; para eles, a santa Missa começa sempre tão prontamente e acaba demasiado tarde; o sacerdote nem ( bem) desceu do altar, e eles já estão na rua. Da freqüência dos Sacramentos, nem falemos; se alguma vez se aproximam deles para recebê-los, seu ar de indiferença vai apregoando que absolutamente não sabem o que fazem. Tudo o que diz respeito ao serviço de Deus o praticam com um tédio espantoso. Bom Deus! Quantas almas perdidas por toda a eternidade! Deus meu! Quão pequeno há de ser o número dos que entram no reino dos céus, quando tão poucos fazem o que devem por merecê-lo!
Mas onde estão – me direis – os que se fazem culpáveis de respeito humano? Atentai-me um instante, meus filhos, e já saberão. Prontamente vos direi com São Bernardo que por qualquer ângulo que se olhe o respeito humano, que é a vergonha de cumprir os deveres da religião por causa do mundo, em tudo revela ele, menosprezo de Deus, de suas graças e cegueira da alma. Digo, em primeiro lugar, meus filhos, que a vergonha de praticar o bem, por medo do desprezo e dos escárnios de alguns ímpios miseráveis ou de alguns ignorantes, é um assombroso menosprezo que fazemos da presença de Deus, ante a qual, estamos sempre e que no mesmo instante poderia nos lançar no inferno. E por que motivo, meus filhos, esses maus cristãos zombam de vós e ridicularizam a vossa devoção? Ah! Meus filhos! Eu vos direi a verdadeira causa: é que, não tendo virtude para fazer o que vós fazeis, lhes têm aversão, porque com vossa conduta, despertais remorsos em suas consciências; mas estais bem seguros de que seus corações, longe de despreza-los, os têm em grande estima. Se eles têm necessidade de um bom conselho ou de alcançar de Deus alguma graça, não creiais que procuram os que se portam como eles, mas sim àqueles mesmos de quem zombaram, pelo menos com palavras. Envergonhas-te, amigo, de servir a Deus, por temor de ver-te desprezado? Olha Àquele que morreu nesta cruz; pergunta-lhe se se envergonhou de ser desprezado, e de morrer da maneira mais humilhante naquele infame patíbulo. Ah! Que ingratos somos para com Deus, que parece achar sua glória em fazer publicar de século em século que nos têm escolhido por filhos seus! Oh! Deus meu! Que cego e desprezível é o homem que teme um miserável “que dirão?”, e não teme ofender a um Deus tão bom! Digo, além disso, que o respeito humano nos faz desprezar todas as graças que o Senhor nos mereceu com sua paixão e morte. Sim, filhos meus, pelo respeito humano inutilizamos todas as graças que Deus tem destinado para salvar-nos. Oh! Maldito respeito humano, que às almas arrasta ao inferno!
Em segundo lugar, digo que o respeito humano encerra a cegueira mais deplorável. Ai! Não detemos a atenção no que perdemos. Ah! Filhos meus! Que desgraça para nós! Perdemos a Deus, ao qual nenhuma coisa poderá jamais substituir. Perdemos o céu, com todos os seus bens e delícias. Mas há ainda outra desgraça, é que tomamos o demônio por pai e ao inferno com todos os seus tormentos por nossa herança e recompensa. Trocamos nossas doçuras e gozos eternos em penas e lágrimas. Ai! Amigo, em que pensas? Como terás que arrepender-se por toda a eternidade! Oh! Meu Deus! Podemos pensar nisso e ainda assim vivermos escravos do mundo?
É verdade – me direis – que quem por temor ao mundo não cumpre seus deveres de religião é bem desgraçado, posto que nos diz o Senhor que a quem se envergonhar de servi-lO diante dos homens, Ele se envergonhará de reconhece-lo diante de seu Pai no dia do juízo ( cf. S. Mat; X,33). Deus meu! Temer ao mundo; e por quê? Sabendo como sabemos que é absolutamente necessário ser desprezado pelo mundo para agradar a Deus. Se temias ao mundo, não devias haver-te feito cristão. Sabias bem que nas sagradas águas do batismo fazias juramento na presença do próprio Jesus Cristo; que renunciavas ao mundo e ao demônio; que te obrigavas a seguir a Jesus Cristo levando sua cruz, coberto de opróbrios e desprezos. Temes ao mundo? Pois bem, renuncia ao teu batismo, e entrega-te a esse mundo, ao qual temes tanto desagradar.
Mas quando é – me direis – que agimos nós por respeito humano? Escuta bem, meu amigo. É um dia em que, estando na feira, ou em uma casa onde se come carne em dia proibido, se te convidam a comê-la também, e tu contentando-te em baixar os olhos e ruborizar-te em vez de dizer que és cristão e que tua religião te proíbe, a come com os demais, dizendo: Se não faço como eles, debocharão de mim – Debocharão de ti amigo? Ah! Tens razão; e é uma verdadeira lástima! – Oh! É que faria, ainda muito mais mal, sendo a causa de todos os disparates que diriam contra a religião, que o que faço comendo carne – como assim? – farias ainda mais mal? Parece-te bem que os mártires, por temor das blasfêmias e juramentos de seus perseguidores, houvesse todos, renunciado a sua religião? Se outros agem mal, tanto pior para eles. Ah! Diga-se melhor, não é bastante que outros desgraçados crucifiquem a Jesus com sua má conduta, para que tu também te juntes a eles para fazer sofrer ainda mais a Jesus Cristo? Temes que zombem de ti? Ah! Infeliz! Olha a Jesus Cristo na cruz, e verás quanto por ti (ele) tem feito.
De modo que, não sabes tu quando negas a Jesus Cristo? É um dia em que, estando em companhia de duas ou três pessoas, parece que caíram suas mãos, ou que não sabes fazer o sinal da cruz, e olhas se tem os olhos fixos em ti, e te contentas em dizer sua benção e ação de graças na mesa mentalmente, ou te retiras a um canto para dizê-las. É quando, ao passar diante de uma cruz, te fazes de distraído, ou dizes que não foi por nós que Deus morreu nela.
Não sabes tu quando tens respeito humano? É um dia em que, achando-te em um lugar* onde se dizem obscenidades contra a santa virtude da pureza ou contra a religião, não tens coragem para repreender aos que assim falam, antes ]ao contrário, por temor de suas gozações, tu sorris. – É que não há – dizes – outro remédio, se não quero ser objeto de contínua zombaria. – Temes que zombem de ti? Por este mesmo temor negou São Pedro ao divino Mestre; mas o temor não lhe livrou de cometer um grande pecado, que chorou em seguida toda a sua vida.
Não sabes tu quando tens respeito humano? É quando o Senhor te inspira o pensamento de ir confessar-te, e sentes que tens necessidade disso, mas pensas que zombariam de ti chamando – o de devoto. É quando te vem o pensamento de assistir a santa Missa durante a semana, e nada te impede de ir; mas dizes a ti mesmo que zombariam de ti e que diriam: Isto é bom para quem nada tem a fazer, para os que vivem de renda.
Quantas vezes este maldito respeito humano te tem impedido de assistir ao catecismo e à oração da tarde! Quanta vez, estando em tua casa, ocupado em algumas orações e leituras, tens te escondido por vergonha ao ver que alguém chegava! Quantas vezes, este respeito humano te tem feito quebrar a lei do jejum ou da abstinência por não atrever-te a dizer que jejuavas ou comias de vigília! Quantas vezes deixas, de dizer o Ângelus diante das pessoas, ou te tens contentado em dizê-lo para ti, ou tens saído do local donde estavas com outros para dizê-lo fora!
Quanta vez tem omitido as orações da manhã ou da noite por achar-se com outros que não as fazem; e tudo isto por temor de que zombassem de ti! Anda pobre escravo do mundo, aguarda o inferno donde serás precipitado; não te faltará ali tempo para lamentar a falta do bem que o mundo te tem impedido de praticar.
Oh, bom Deus! Que triste vida leva o que quer agradar ao mundo e a Deus! Não, amigo, te enganas. Além de que viverás sempre infeliz, não hás de conseguir agradar a Deus e ao mundo; é coisa tão impossível quanto por fim a eternidade. Ouve um conselho que eu vou te dar, e serás menos desgraçado: entrega-te inteiramente a Deus ou ao mundo; não busques nem sigas mais que a um amo; mas uma vez escolhido, não lhe deixes já. Acaso não te recordas do que te disse Jesus Cristo no Evangelho: Não podes servir a Deus e ao mundo, ou seja, não podes seguir ao mundo com seus prazeres e a Jesus Cristo com sua cruz. Não é que te faltem planos para ser, ora de Deus, ora do mundo. Digamo-lo com mais clareza: é lastimável que tua consciência, que teu coração te permita freqüentar pela manhã a sagrada mesa e o baile à tarde; passar uma parte do dia na igreja e outra parte na taberna ou no jogo, falar um pouco do bom Deus e outro tanto de obscenidades ou de calúnias contra teu próximo; fazer hoje um favor a teu vizinho e amanhã uma ofensa; em uma palavra, ser bom e portar-se bem e falar de Deus em companhia dos bons, e obrar o mal em companhia dos malvados.
Ai! Meus filhos! A companhia dos perversos nos leva a agir mal. Quantos pecados não evitaríamos, se tivéssemos a felicidade de apartar-nos de pessoas sem religião! Refere Santo Agostinho que muitas vezes, achando-se entre pessoas perversas, sentia vergonha de não iguala-las na maldade, e, para não ser tido por menos, ainda se gloriava do mal que não havia cometido.
Pobre cego! Quão digno és de lástima! Que triste vida!... Ah! Maldito respeito humano! Quantas almas arrastas ao inferno! De quantos crimes és a causa! Ah! Quão culpável é o desprezo das graças que Deus nos quer conceder para salvar-nos Ai! Quantos e quantos tem começado o caminho de sua reprovação pelo respeito humano, porque, à medida que iam desprezando as graças que Deus lhes concedia, a fé ia se amortecendo em suas almas; e pouco a pouco iam sentindo menos a gravidade do pecado, a perda do céu, as ofensas, que pecando faziam a Deus. Assim acabaram por cair em uma completa paralisia, ou seja, por não dar-se conta do infeliz estado de sua alma; dormiram no pecado e a maior parte morreu nele.
No Sagrado Evangelho lemos que Jesus Cristo em suas missões cumulava de toda a sorte de graças os lugares por onde passava. Uma vez era um cego, a quem devolvia a vista; um surdo a quem devolvia a audição, um leproso a quem curava de sua lepra, mais além um defunto, a quem restituía a vida. Contudo, vemos que eram muito poucos os que anunciavam os benefícios que acabavam de receber. E por que isto meus filhos? É que temiam os judeus, por que não se podia ser amigo dos judeus e de Jesus. E assim, quando se achavam com os judeus,pareciam aprová-los com o seu silêncio. Eis aqui precisamente o que nós fazemos: quando nos achamos a sós, ao refletirmos sobre todos os benefícios que temos recebido do Senhor não podemos senão testificar-lhe nosso reconhecimento por havermos nascidos cristãos, por havermos sido confirmados; mas quando estamos com os libertinos, parece que compartilhamos de seus sentimentos, aplaudindo com nossos sorrisos ou nosso silêncio suas impiedade. Oh, que indigna preferência, exclama São Máximo! Ah! Maldito respeito humano, que arrastas almas ao inferno! Que tormento não passará, meus filhos, uma pessoa que assim quer viver e agradar a dois contrários! Temos disso um eloqüente exemplo no Evangelho. Lemos ali que o rei Herodes se havia enredado em um amor criminoso com Herodíades. Tinha esta infame cortesã uma filha que dançou diante dele com tanta graça que lhe prometeu o rei quanto ela lhe pedisse, ainda que fosse a metade de seu reino. Absteve-se bem a infeliz de pedi-lo, porque não era bastante; foi-se a encontrar com sua mãe para tomar conselho sobre o que devia pedir ao rei, e a mãe mais infame que sua filha, apresentando-lhe uma bandeja, lhe disse: “Vá e pede que ponha neste prato a cabeça de João Batista, para trazê-la.”. Fez isso para vingar-se, por haver-lhe João Batista jogado em sua cara, sua má vida. Ficou o rei surpreendido de espanto ante este pedido; pois por um lado apreciava a São João Batista, e lhe pesava a morte de um homem tão digno de viver. Que iria fazer? Que partido iria tomar? Ah! Maldito respeito humano, o decidirás? Herodes não quisera decretar a morte de João Batista; mas por outro lado, teme que zombem dele, porque, sendo rei, não manteve sua palavra. Vê, diz por fim o infeliz a um dos verdugos, vai e corta a cabeça de João Batista; prefiro deixar que grite minha consciência, a que zombem de mim. Mas que horror! Ao aparecer a cabeça na sala, os olhos e a boca, ainda que fechados, pareciam reprovar-lhe seu crime e ameaçar-lhe com os mais terríveis castigos. Ante sua vista, Herodes empalidece e se estremece. Ai! Que o que se deixa guiar pelo respeito humano é bem digno de lástima.
È verdade, que o respeito humano não nos impede de fazer algumas boas obras. Mas quantas vezes, nas mesmas boas obras, nos fazem perder os méritos, que não faríamos se não esperássemos ser por elas louvados e estimados pelo mundo! Quantos não vêm à igreja, senão por respeito humano, pensando que, desde o momento em que uma pessoa não pratica a religião, pelo menos exteriormente, não se tem confiança nela, pois como se costuma dizer: Onde não há religião, tampouco há consciência! Quantas mães que parecem ter muito cuidado com seus filhos, o fazem somente para serem estimadas aos olhos do mundo! Quantos que se reconciliam Com seus inimigos somente para não perder a estima das pessoas! Quantos que não seriam tão corretos, se não soubessem que sem isso perderiam o louvor mundano! Quantos que são mais reservados na igreja por causa do mundo! Oh! Maldito respeito humano, que com suas boas obras feitas em vão, ao invés de conduzir muitos cristãos ao céu, nada fazem senão empurra-los ao inferno!
Mas- me direis – é que é muito difícil que o mundo se intrometa em tudo que alguém faz. (...) Não temos de esperar nossa recompensa do mundo, mas sim, somente de Deus. Se me louvam, sei bem que não mereço, porque sou pecador; se me desprezam, nada há de extraordinário nisso, tratando-se de um pecador como eu, que tantas vezes tem desprezado com seus pecados ao senhor; muito mais mereceria. Por outro lado, não nos tem dito Jesus Cristo: Bem aventurados os que são desprezados e perseguidos? E quem são os que os desprezam? Ai! São alguns pecadores infelizes, que, não tendo o valor de fazer o que vós fazeis, para dissimular sua vergonha queriam que obrásseis como eles; algum pobre cego que, bem longe de desprezá-los, deveria passar a vida chorando sua infelicidade. Suas zombarias demonstram o quão são dignos de lástima e de compaixão. São como uma pessoa que tem perdido o juízo, que corre pelos bosques, se arrasta pela terra ou se atira aos precipícios, gritando aos demais que façam o mesmo; grite o quanto quiser, deixai-o fazer, e compadecei-vos, porque não conhece a sua desgraça. Da mesma forma meus filhos, deixemos a esses pobres infelizes que gritem e zombem dos bons cristãos; deixemos a esses insensatos em sua demência; deixemos a esses cegos em suas trevas; escutemos os gritos e gemidos dos réprobos; mas nada temamos, sigamos nosso caminho; fazem mal a si mesmos e não a nós; tenhamos compaixão, e não nos separemos de nossa linha de conduta.
Sabeis por que zombam de vós? Porque vêem que tens medo e que pela menor coisa se envergonham. Não é de vossa piedade que eles zombam, mas sim de vossa inconstância, e de vossa frouxidão em seguir a vosso capitão. Tomai o exemplo dos mundanos; olhai com que audácia eles seguem aos seus. Não vês como se orgulham de serem libertinos, bebedores, astutos, vingativos? Olhai a um impuro; se envergonha acaso de vomitar suas obscenidades diante das pessoas? E por que isto, meus filhos? Porque os mundanos se vêem constrangidos a seguir seu amo, que é o mundo; não pensam nem se ocupam mais do que em agradar-lhe; por mais sofrimentos que lhes custem, nada é capaz de detê-los. Vede aqui, meus filhos, o que faríeis também vós se quisesse imitá-los. Não temerias ao mundo nem ao demônio; não buscarias nem quererias mais que o que possa agradar ao vosso Senhor, que é o próprio Deus. Há de se convir, que os mundanos, são muito mais constantes em todos os sacrifícios que fazem para agradar a seu amo, que é o mundo, que nós em fazer o que devemos para agradar a nosso Senhor, que é Deus.

II – Mas agora comecemos de outra maneira. Diga-me amigo, porque zombas dos que fazem profissão de piedade, ou, para que o entendas melhor, dos que gastam mais tempo que você na oração, dos que freqüenta mais constantemente do que você os Sacramentos, dos que fogem dos aplausos do mundo? Uma de três, meus filhos: ou é que considerais estas pessoas como hipócritas, ou que zombas da piedade em si, ou é, enfim, que lhe causa nojo ver que eles valem mais que vós.
Iº. Para chamá-los de hipócritas seria preciso que houvésseis lido em seu coração, e estivésseis plenamente convencidos de que toda a sua devoção é falsa. Pois bem, meus filhos, não parece natural, quando vemos uma pessoa fazer alguma boa obra, pensar que seu coração é bom e sincero? Sendo assim, vede quão ridículos resultam vossa linguagem e vossos juízos. Vês em vosso próximo um exterior bom, e dizeis ou pensais que seu exterior nada vale. Se lhe mostram um fruto bom; indubitavelmente pensais que a árvore de onde ele veio é de boa qualidade; e formais dele, um bom juízo. Por outro lado, tratando-se de julgar as pessoas de bem, dizeis o contrário: o fruto é bom, mas a árvore que o deu, não vale nada. Não, meus filhos, não, não sois tão cegos nem tão insensatos para disparatar desta maneira.
2º. Digo, em segundo lugar, que zombais da piedade em si, mas me engano; não zombais de tal pessoa porque suas orações são longas, freqüentes ou feitas com reverência. Não, não é isto, porque também vós orais (pelo menos, se não o fazeis faltais a um de vossos primeiros deveres). É acaso porque ela freqüenta os Sacramentos? Mas tampouco vós haveis passado o tempo de vossa vista sem aproximar-vos dos santos Sacramentos; se os tem visto no tribunal da penitência, se os tem visto aproximar-se à sagrada mesa. Não desprezais, pois, a tal pessoa porque cumpre melhor que vós seus deveres de religião, estando perfeitamente convencidos do perigo em que estamos de nos perdermos, e, por conseguinte, da necessidade que temos de recorrer constantemente à oração e aos Sacramentos para perseverar na graça do Senhor, e sabendo que depois deste mundo nenhum recurso resta: bem ou mal, forçoso será permanecer na sorte que, ao sair dele, nos espera por toda a eternidade.
3ª. Não, meus filhos, nada disto é o que nos enoja na pessoa de nosso próximo. É que, não tendo, a coragem de imitá-lo, não queremos sofrer a vergonha de nossa frouxidão; antes queremos arrastar-nos a seguir nossas desordens e nossa vida indiferente. Quantas vezes nos permitimos dizer: para que servem tanta dissimulação, estar tanto ( tempo) na igreja, madrugar tanto para ir à ela, e outras coisas do tipo? Ah! Meus filhos! È que a vida das pessoas seriamente piedosas é a condenação de nossa vida frouxa e indiferente. Bem fácil é compreender que sua humildade e o desprezo que elas têm de si mesmas condena nossas vidas orgulhosas, que nada sabe sofrer, que queria a estima e o louvor de todos. Não há dúvida de que sua doçura e sua bondade para com todos, condena* nossas impetuosidades e nossa cólera; é coisa certa que sua modéstia, sua circunspeção em toda a sua conduta condena nossa vida mundana e cheia de escândalos. Não é realmente só isso o que nos molesta na pessoa de nossos próximos? Não é isto o que nos enfada quando ouvimos falar bem dos demais e anunciar suas boas obras? Sim, não há dúvida de que sua devoção, seu respeito à Igreja nos condena, e contrasta com nossa salvação. Da mesma maneira que nos sentimos naturalmente inclinados a escusar, nos demais os defeitos que há em nós mesmos, somos propensos a desaprovar neles as virtudes que não temos a coragem de praticar. Assim estamos vivendo todos os dias. Um libertino se alegra de achar outro libertino que lhe aplauda em suas desordens; longe de desaconselhá-lo, lhe alenta a prosseguir nelas. Um vingativo se compraz na companhia de outro vingativo, para que se aconselhem mutuamente, a fim de achar o meio de vingar-se de seus inimigos. Mas ponha uma pessoa regrada em companhia de um libertino, uma pessoa sempre disposta a perdoar com outra vingativa; vereis como em seguida os malvados se desenfreiam contra os bons e se lhes caem em cima. E porque isto, meus filhos, senão porque, não tendo a virtude de obrar como eles, queriam poder arrastá-los para o seu lado, a fim de que a vida santa que estes levam não seja uma contínua censura às usas próprias vidas? Mas, se quereis compreender a cegueira, dos que zombam das pessoas que cumprem melhor do que eles seus deveres cristãos, escuta-me um momento.
Que pensarias de um pobre que tivesse inveja de um rico, se ele não fosse rico senão porque não quer sê-lo? Não lhe dirias: amigo, por que hás de dizer mal desta pessoa por causa de sua riqueza? De ti somente depende ser tão rico como ela, e ainda mais se quiseres, pois, de igual maneira, meus filhos, por que nos permitimos vituperar aos que levam uma vida mais regrada do que a nossa? Somente de nós depende ser como eles e ainda melhores. O (fato de) que os outros praticam a religião com mais fidelidade que nós, não nos impede de sermos tão honestos e perfeitos como eles, e mais, todavia, se quisermos sê-lo.
Digo, em terceiro lugar, que as pessoas sem religião que desprezam a quem faz profissão dela...; mas me engano: não é que os desprezem, apenas aparentam, pois em seus corações os têm em grande estima. Quereis uma prova disso? A quem recorrerá uma pessoa, ainda que não tenha piedade, para achar algum consolo em suas penas, algum alívio em sua tristeza e dores? Crê que irá buscá-lo em outra pessoa como ela? Não, meus amigos, não. Conhece muito bem que uma pessoa sem religião não pode consolar-lhe e dar-lhe bons conselhos. Irá aos mesmos de quem antes zombava. Fartamente convencido está de que somente uma pessoa prudente, honesta e temerosa de Deus pode consolá-lo e dar-lhe algum alívio em suas penas. Quantas vezes, de fato, filhos meus, achando-nos agoniados pela tristeza ou por qualquer outra miséria, temos acudido a alguma pessoa prudente, e boa e, ao cabo de um quarto de hora de conversação, nos temos sentido totalmente mudados e nos retiramos dizendo: Que ditosos são os que amam a Deus e também os que vivem ao seu lado. Eis que eu me entristecia, não fazia mais que chorar, me desesperava; e, com uns momentos na companhia desta pessoa, me tenho sentido totalmente consolado. Bem certo é quanto ela me tem dito: que o Senhor não tem permitido isto senão para o meu bem, e que todos os santos e santas haviam passado penas maiores, e que mais vale sofrer neste mundo que no outro. E assim acabamos por dizer: quando se me apresentar outra pena, não demorarei em acudir-me a ele de novo me busca de consolação. Oh, santa e formosa religião! Quão felizes são os que te praticam sem reservas, e quão grandes e preciosos são os conselhos e doçuras que nos proporcionas...!
Já vês, pois, meus filhos, que zombais de quem não merecem. Que deveis pelo contrário, estar infinitamente agradecidos a Deus por ter entre vós algumas almas boas que sabem aplacar a cólera do Senhor, sem o qual pronto seríamos esmagados por sua justiça. Se o pensais bem, uma pessoa que faz bem suas orações, que não busca senão agradar a Deus, que se compraz em servir ao próximo, que sabe desprender-se até mesmo do necessário para ajudar-lhe, que perdoa de bom grado aos que lhes fazem alguma injúria, não podes dizer, que se porte mal, antes ao contrário. Tal pessoa não é senão mui digna de ser louvada e estimada por todo mundo. Sem dúvida, a esta pessoa é a quem criticais; mas, não é verdade que ao fazê-lo, não pensais no que dizes? Ah! É certo, os diz vossa consciência; ela é mais feliz que nós. Ouve amigo meu, escuta-me, e eu te direi o que deves fazer: bem longe de vituperar desta classe de pessoas e zombar-te delas, hás de fazer todos os esforços possíveis por imitar-las, unir-te todas as manhãs às suas orações e a todos os atos de piedade que elas façam durante o dia. Mas direis para fazer o que elas fazem é necessário violentar-se e sacrificar-se demasiadamente. Custa muito trabalho! ... Não tanto como quereis vós supor, Meus filhos. Tanto custa fazer bem as orações da manhã e da noite? Tão difícil é escutar a palavra de Deus com respeito, pedindo ao Senhor a graça de aproveitá-la? Tanto se necessita para não se sair da Igreja durante as instruções? Para abster-se de trabalhar aos domingos? Para não comer carne nos dias proibidos e desprezar aos mundanos empenhados em perder-se?
Se é que temeis que os chegue a faltar à coragem dirigi vossos olhos à Cruz donde morreu Jesus Cristo e vereis como não os faltará alento. Olhai as multidões de mártires, que sofreram dores que vós não podeis compreender, por temor de perderem suas almas. Os parece que se arrependem agora de haverem desprezados o mundo e o que dirão?
Concluamos meus filhos, dizendo: Quão poucas são as pessoas que verdadeiramente servem a Deus! Uns ocupam-se de destruir a religião, se fosse possível, com a força de suas armas, como os reis e imperadores pagãos; outros com seus escritos ímpios quiseram desonrá-la e destruí-la se pudessem; outros zombam dela nos que a praticam; outros, enfim, sentem desejo de praticá-la, mas têm medo de fazê-lo diante do mundo. Ai! Meus filhos! Quão pequeno é o número dos que andam pelo caminho do céu, pois só contam nele os que, continua e valorosamente combatem ao demônio e suas sugestões, e desprezam ao mundo com todos os seus enganos! Posto que, esperamos nossa recompensa e nossa felicidade somente de Deus, por que, meus filhos, amar ao mundo, havendo prometido com juramento aborrecê-lo e despreza-lo para não seguir a não ser Jesus Cristo, levando nossa cruz todos os dias de nossa vida? Feliz, filhos meus, aquele que não busca senão a Deus e despreza todo o resto. Esta é a felicidade...



Extraído do Livro "Sermones Escogidos Vol. I " Editora Apostolado Mariano, tradução livre por Marcos Paulo de Jesus Siqueira: marquitosiq@yahoo.com.br

UM PEQUENO APERITIVO SOBRE: O PRIMADO DE PEDRO

Um pequeno aperitivo sobre:

O PRIMADO DE PEDRO

Ao analisar a passagem de Mateus 16,17-19, conservada em grego, embora tenha sido escrita em hebraico, os especialistas analisando as construções das frases de Jesus, chegaram às seguintes conclusões:
1. O Macarismo “Feliz és tu...”, nos leva a traduzir o texto no sentido de uma proclamação de felicidade, muito freqüente nas Escrituras.
2. Simão Bar - Jona... Jesus menciona a filiação do discípulo, conforme o costume judeu. Modo de falar aramaico;
3. “Carne e Sangue” em linguagem semita designa a natureza humana com suas faculdades naturais;
4. “O Pai que está no céu” é outro semitismo;
5. O trocadilho “Tu és Pedro e sobre esta pedra...” não se entenderia em grego ( Petros, petra) nem em latim ( Petrus, petra). Supões o aramaico, em que o termo Kepha permanece invariável. “Tu és Kepha e sobre esta Kepha edificarei minha Igreja...”;
6. “As portas do inferno...” ora construída sobre a rocha que é Pedro, a Igreja de Cristo não sucumbirá aos ataques do mal, será indefectível;
7. “Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus”. Sinal do poder, conforme a linguagem semítica do profeta Isaías22, 20-22: “Naquele dia, chamarei o meu servo Eliacim filho de Helcias... Porei sobre seus ombros a chave da Casa de Davi; ele abrirá, e não haverá quem feche; fechará, e não haverá quem abra.”.
8. “Tudo que ligares sobre a terra... tudo o que desligares...” tanto a linguagem nos céus, como “ligar-desligar” típica linguagem semítica, como na linguagem rabínica, designando poder de excomunhão que podia ser imposta (de modo a ligar) ou retirada (de modo a desligar).

Assim concluíram os especialistas, após o exame crítico do texto de Mateus 16,17-19, que Jesus quis confiar a São Pedro a sua Igreja (como detentor das chaves do Reino), o poder de admitir neste Reino ou de excluir a quem Pedro julgasse oportuno. As sentenças do Apóstolo Pedro têm caráter decisivo e são confirmados no céu pelo Senhor Deus.
Há, porém, quem objete que a rocha sobre a qual Jesus quis construir a sua Igreja, não era Pedro, mas a confissão de Pedro. Em resposta, os especialistas observam: Todo o contexto de Mt 16,18 versa em torno da pessoa do Apóstolo: é a São Pedro diretamente que Jesus dirige as palavras: “Bem-aventurado és tu..., te revelou..., eu te digo”. Foi o nome de Pedro que Cristo mudou e é este nome mudado que Cristo alude interpretando-o conforme o costume bíblico, como sinal de uma nova tarefa confiada a Pedro: “Simão, filho de Jonas... Pedro (pedra)”.


SÃO PEDRO EM ROMA

Os Santos Padres dos primeiros séculos do cristianismo falam assiduamente do martírio de São Pedro e São Paulo em Roma. A presença de Pedro em Roma é insinuada pela 1ª Pedro, que foi redigida em 64 da Babilônia (5,13) que designa segundo o Novo Testamento a capital do Império Romano.
Alguns anos mais tarde em 96-98, São Clemente de Roma, escrevia aos Coríntios:
“Lancemos os olhos sobres os excelentes Apóstolos: Pedro foi para a glória que lhe era devida. Foi por efeito da inveja e da discórdia que Paulo mostrou o preço da paciência... Depois de ter ensinado a justiça ao mundo inteiro... ele deu testemunho diante daqueles que governaram e assim deixou o mundo... A esses homens juntou-se grande multidão de eleitos que, em conseqüência da inveja, padeceram muitos ultrajes e torturas, deixando entre nós magníficos exemplos”. (5,3-7; 6,1).
Por volta de 107 (!), Santo Inácio de Antioquia escrevia aos Romanos:
“Não é como Pedro e Paulo que vos dou ordens; eles foram Apóstolos: eu não sou senão um condenado” (Rm 4,3).
Entre 165 e 170, o bispo Dionísio de Corinto atestava aos romanos:
“Tendo vindo ambos a Corinto, os dois Apóstolos Pedro e Paulo nos formaram na doutrina evangélica: a seguir indo-se para a Itália (Roma), eles vos transmitiram os mesmos ensinamentos e sofreram o martírio simultaneamente”. (em Eusébio de Cesaréia, História da Igreja II 25,8).
E no início do século III, era Orígenes quem escrevia:
“Pedro finalmente, tendo ido para Roma, lá foi crucificado com a cabeça para baixo” ( ibid, III,1).

OS PAPAS SÃO OS SUCESSORES DE SÃO PEDRO

Seria longo demais se quisesse apresentar aqui todos os documentos e fatos históricos que comprovam o primado do Bispo de Roma, ou seja, dos Papas. Limitar-me-ei aos cinco primeiros séculos, a partir dos Apóstolos.

· SÉCULO I

1. São Clemente de Roma: terceiro sucessor de São Pedro enviou delegados e uma carta em mãos próprias aos fiéis de Corinto, exortando-os à mútua concórdia e submissão a seus superiores eclesiásticos, em virtude de haver nesta Igreja distúrbios e desavenças provocadas por alguns jovens. Os fiéis de Corinto receberam os delegados e a mensagem do PAPA com muita alegria e júbilo, e conservaram a epístola junto às Escrituras durante quase um século.

“Devido às calamidades súbitas e repetidas e infortúnios que nos aconteceram, temos que reconhecer que nos atrasamos em nossa atenção sobre as disputas entre vocês,... Se qualquer um desobedece às coisas que foram ditas por Deus através de nós, isto é, que vocês restabeleçam seus líderes, estarão se envolvendo em transgressão e num grande perigo. Muito nos alegrará se vocês obedecerem às coisas que nós escrevemos pelo Espírito Santo...”.
(Carta aos Coríntios 1:1, 58:2-59:1, 63:2 – Ano 80).

2. Pastor de Hermas: Escreve na mesma época de São Clemente, o seguinte: “Então escrevi duas cartas reservadas e enviei para Clemente (o bispo de Roma) e uma para Grapte. Clemente enviará para as cidades, porque é o seu dever (como Papa)...” (O Pastor 2:4, 3).

3. Santo Inácio de Antioquia: escreve por volta dos anos 107-110: “Inácio... também para a Igreja que preside, no local dos romanos, merecedora de Deus, de honra, de benção, de elogio, de sucesso, de santificação, e porque preside o amor...” (Carta para os romanos 1:1).
“Você não invejou ninguém, mas a outros ensinou. Eu só desejo que aquilo que foi ordenado em suas instruções possa permanecer em vigor” (ibid, 3:1).

4. Dionísio de Corinto: Ano 170, escreve: “Desde o princípio foi costume fazer o bem a todos os irmãos de vários modos e enviar contribuições para todas as Igrejas em toda a cidade...Este é o costume que o seu santificado bispo Soter não só preservou, mas está aumentando, fornecendo uma abundância de materiais aos santos e urgindo com palavras consoladoras, como um pai amoroso aos seus filhos, os irmãos peregrinos...! ( Carta para o Papa Soter, História da Igreja, Eusébio de Cesaréia 4:23:9).
“Hoje nós observamos o dia santo do Senhor, no qual lemos sua carta (Papa Soter). Sempre que nós lemos cesta carta na igreja, nos alegramos, como também lemos a antiga carta de Clemente ( Papa)...” ( ibid, 4:23:11).

5. Os Mártires de Lion: Ano 175, relatam: “E quando uma dissensão surgiu sobre estas pessoas ditas montanistas, os irmãos na Gália mais uma vez... enviaram cartas para os irmãos na Ásia e na Panfília e, além disso, para Eleutério que era então o bispo dos romanos que negociava para a Igreja a paz...” ( ibid, 5:3:4).
“E os mártires recomendaram a Irineu também, naquele momento (ano 175), era presbítero (padre) da comunidade de Lion, para bispo de Roma, fazendo um elogio especial...” Mais uma vez e sempre rezaremos e nos alegraremos em Deus por vós. Papa Eleutério. Esta carta encomendamos a nosso irmão e companheiro Irineu, nós imploramos recebei-o com carinho...” ( ibid. 5:41-2).

6. Santo Irineu de Lion: Escreve em 189: “já que seria demasiado longo enumerar os sucessores dos Apóstolos em todas as comunidades, só nos ocuparemos com uma destas: a maior e a mais antiga, conhecida por todos, fundada e constituída pelos dois gloriosíssimos Apóstolos Pedro e Paulo. Mostraremos que a Tradição Apostólica que ela guarda, e a fé que ela comunicou aos homens chegaram a nós através da sucessão regular dos bispos, confundindo assim todos aqueles que... querem procurar a verdade onde não se pode encontrar. Com esta comunidade, de fato, dada a sua autoridade superior, é necessário que esteja de acordo toda a comunidade, isto é os fiéis do mundo inteiro; nela sempre foi considerada a tradição dos Apóstolos.” (Contra Heresias 3:3, 2).

7. Sobre o Papa Vítor, ano 190, há um importante relato do historiador Eusébio de Cesaréia (ano 312): “Uma pequena interrogação surgiu naquele momento, ano 190. Para as paróquias de toda a Ásia, como a mais velha tradição assegurada que no décimo quarto dia da lua, os judeus sacrificavam cordeiro, e neste dia era observado o banquete da Páscoa do Salvador... Mas não era o costume no resto do mundo... eles observavam a prática que, de origem apostólica, prevaleceu ao tempo presente, de terminar o jejum da Quaresma no dia da ressurreição do Senhor, domingo. Foram feitos vários Sínodos e Assembléias de bispos neste sentido, e tudo , com mútuo consentimento , prepararam um decreto eclesiástico, no que o mistério da Páscoa deveria ser celebrado no domingo, O DIA DO SENHOR, e que todos deveriam observar o fim do jejum pascal neste dia...”

“Logo após o Papa Vítor, que tudo presidiu como bispo de Roma, tentou cortar imediatamente da comunhão as igrejas de toda a Ásia, o dia 14 de Nissan. E ele escreveu cartas e declarou quem não obedecesse, estaria excomungado. Isto não agradou todos os bispos, e eles pediram para reconsiderar a excomunhão em nome da paz e da unidade, no amor da Igreja... Enviaram Irineu para prevenir o Papa, para não cortar as igrejas que observavam um costume tão antigo...” (História da Igreja 5:23 1-24:11).

8. Cipriano de Cartago, ano 251, nos relata sobre a Cátedra de Roma: “... cátedra de Pedro, a Igreja principal, donde se origina a unidade sacerdotal, isto é, a unidade dos bispos”. (Epist. 55,14).

“O julgamento de Atanásio deveria ser feito, não como está ocorrendo, mas de acordo com o cânon ecelsiástico. É ignorante aquele que esquece que o costume é escrever primeiro a nós, assim então, ser dada uma decisão justa deste lugar ( Roma?) Se então, qualquer suspeita foi levantada contra o bispo de Alexandria ( Santo Atanásio), isto deveria antes ter sido escrito à Igreja daqui em Roma. Mas agora depois de passarem por cima disto, eles querem nosso consentimento... Não é assim a Tradição que recebemos. O que escrevo é para o bem comum...Isto declaro, na pessoa do Santo Apóstolo Pedro, que represento ( o Papa Júlio)...” ( Carta em favor de Athanasius, conservada por Santo Atanásio no ano 341).

9. O Concílio de Sárdica, no ano 341, solenemente declara em seus cânones: “... quando um bispo perde o julgamento em algum caso (decidido pelos bispos da mesma categoria), se quiser pode ser julgado novamente... em honra do Apóstolo Pedro, deve escrever ao bispo de Roma, Júlio, de forma que se ele quiser, pode ser feito um novo julgamento, agora sob a supervisão dos legados de Júlio... “ (cânon 3).

“... Se algum bispo for deposto, pelo julgamento dos bispos de alguma província, e se ele assim desejar, pode recorrer ao bispo de Roma, para se familiarizar com o caso e emitir o julgamento final...” (cânon 4).


10. Optato de Milevi, no ano 367, nos deixa escritos que comprovam a obediência ao sucessor de Pedro, ao Bispo de Roma: “Na cidade de Roma, quem por primeiro se sentou na cátedra episcopal foi o Apóstolo Pedro, ele que era a CABEÇA DE TODA A IGREJA, denominado CEPHAS (ROCHA, PEDRA) de todos os Apóstolos, cátedra que mantém a unidade de todos. Os apóstolos nada decidiam sem estar em comunhão com esta ÚNICA cátedra ( de Roma)...
“Recorde a origem desta cátedra, todos que reinvidicam o nome da SANTA IGREJA CATÓLICA...” (O Cisma Donatista 2:2).

11. O Papa Damaso I, No ano 382, deixou por escrito o seguinte decreto: “Igualmente é decretado... anunciado a todos... A Santa Igreja Romana está colocada À FRENTE DE TODAS AS IGREJAS nas decisões de conciliar a paz entre outras igrejas ( espalhadas no mundo inteiro, fazendo a unidade da Igreja Católica), pois recebeu a primazia da Voz Evangélica de nosso Deus e Salvador que diz: TU ÉS PEDRO, E SOBRE ESTA PEDRA EU EDIFICAREI A MINHA IGREJA, E AS PORTAS DO INFERNO NÃO PREVALECERÃO CONTRA ELA, E EU DAREI A TI AS CHAVES DO REINO DOS CÉUS, E TUDO AQUILO QUE LIGARES NA TERRA SERÁ LIGADO NO CÉU, E TUDO AQUILO QUE DESLIGARES NA TERRA, SERÁ DESLIGADO NO CÉU. ( Mateus 16,18-19). Então reconheça a primazia da Igreja Romana, isto é do Apóstolo Pedro, que não tem mancha, e não manchará a ninguém...” ( Decreto de Damasus 3).

12. O documento do Sínodo de Ambrósio, no ano 389, nos relata o respeito e a obediência de toda a Igreja ao Papa: “Nós reconhecemos na carta de SUA SANTIDADE, o Papa Sirício, a vigilância do Bom Pastor. Ele que administra com fiel zelo, o poder a ele confiado, e como guarda do redil de Nosso Senhor Jesus Cristo ( Jô 10,7s), merece ser ouvido por todas as ovelhas de Deus e seguido por elas...” ( Carta Sinodal para o Papa Sirício).

13. São Jerônimo, no ano 396, escreve uma importante carta para o Papa Damaso, que em seu teor demonstra todo respeito, amor e obediência ao Santo Padre o Papa. Confira: “A nenhum outro eu quero seguir e estar em comunhão senão com Cristo e vossa beatitude (ele escreve ao Papa Damaso), quero dizer, com a cátedra de Pedro. Eu sei que SOBRE ESTA PEDRA A IGREJA FOI CONSTRUÍDA. Quem come o Cordeiro fora desta casa é profano. Qualquer um que não está com esta arca de Noé, isto é, com esta cátedra perecerá quando a inundação prevalecer...( Epístola 15:20)

Extraído do livro: Eu sou feliz por ser católico, de autoria do Padre Marcelo Rossi, págs. 51-60.

NOTA DO ADMINISTRADOR: De fato, estes textos são apenas uma pequena introdução ao tema do PRIMADO DE PEDRO, o texto do livro “LEGÍTIMA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA” de Lúcio Navarro, é sobremodo mais completo e, por conseguinte muito mais trabalhoso para digitar, mas eu vou fazê-lo nem que demore um tempão! Em breve vocês terão a disposição um dos melhores e mais completas apologias que existem sobre o tema! Obrigado!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O CULTO DOS SANTOS (PARTE FINAL)

A CIÊNCIA DOS SANTOS NA VISÃO BEATÍFICA

375. Diante deste argumento, os protestantes respondem: Depois de mortos é diferente: eles não podem saber o que se passa na terra.

Quer dizer então que a coisa mudou completamente de figura. Os santos não podem rezar pro nós e isto já não pelo fato de ser Cristo o único Mediador, é pelo fato de não podermos ter comunicação com eles; a ligação está interrompida. Mas esta afirmação é por sua vez completamente gratuita e quem vai responder aos protestantes é outro protestante, o célebre escritor holandês Grotius. Quando Calvino e Vossius alegam que não podem admitir o culto dos santos, porque estes não podem ter conhecimento de nossas preces, Grotius discorda inteiramente deles, dizendo: “Os profetas, enquanto estavam na terra, tiveram conhecimento daquilo que se passava em lugares onde eles não estavam presentes... os anjos assistem a nossas assembléias e se empenham por tornar agradáveis a Deus as nossas orações; é assim que não somente os cristãos, mas também os judeus creram em todos os tempos. Depois destes exemplos, um leitor sem preconceito deve crer que é mais razoável admitir nos mártires um conhecimento das preces que nós lhe dirigimos, do que negá-lo.” (Grotius. Votum pro pace).

É o caso de dizermos aos protestantes: Expliquem-se, por favor... A Escritura não diz em parte alguma que aqueles que se encontram no Céu estão completamente alheios ao que se passa na terra. Qual o argumento, a prova que Vocês apresentam, para afirmar com tanta segurança que os santos não podem ter conhecimento das nossas súplicas?

É porque, dizem eles, os santos gozam diante de Deus de uma felicidade imperturbável; ora se soubessem o que se passa aqui na terra, já não seria mais felicidade e sim uma série de preocupações. Além disto, era preciso que fossem oniscientes, onipresentes, onipotentes (Maria Santíssima, sobretudo, que tem milhões e milhões de devotos em toda a terra) para poderem estar atendendo a todas as orações que se fazem a eles nos mais variados lugares da terra e a cada instante.

Toda esta objeção se baseia, desde logo, numa frustrada tentativa para fazer uma idéia exata daquilo que se passa com os bem-aventurados lá no Céu, quando isto ESTÁ MUITO ACIMA DE TUDO QUANTO POSSAMOS IMAGINAR. A felicidade do Céu é uma felicidade SOBRENATURAL, é a visão beatífica de Deus, da qual a nossa natureza por si não é capaz, mas vai recebê-la por um dom especial do Criador. É inútil fazer cálculos tirando conclusões daquilo que se passa aqui na terra, dentro do nosso conhecimento natural. Uma pessoa aqui na terra não pode ter conhecimento de tudo o que se passa no mundo; mas suponhamos que o tivesse; não se seguiria daí que fosse onisciente nem onipotente, porque o próprio mundo é por sua natureza limitado; e este limitado conhecimento não seria coisa alguma em comparação com A CIÊNCIA INFINITA que só existe em Deus.

Ninguém pode tornar-se igual a Deus, mas uma criatura pode tornar-se mais ou menos semelhante a Ele, participar mais ou menos das suas perfeições de ciência, santidade, felicidade etc., e ai existe uma graduação infinita. Desde que no Céu esta penetração nas grandezas de Deus tem graus, porque nem todos têm os mesmos merecimentos e “na casa de meu Pai Há muitas moradas” (João 14,2), não há nenhum absurdo em dizer-se que Maria Santíssima, mesmo continuando criatura e permanecendo limitada, tem maior semelhança com Deus, recebeu no Céu maiores perfeições do que qualquer outra criatura humana.

E se no Céu a felicidade consiste em nos tornarmos em grau muito mais elevado do que aqui na terra “participante da natureza divina” (2ª Pedro 1,4), a alegação de que o conhecimento das coisas da terra acabaria com a felicidade não tem nenhum fundamento. Deus não vê tudo o que se passa no mundo e em todos os mundos? Não vê praticar-se aqui na terra tanta coisa que não é do seu agrado? Nem por isto sofre a mínima alteração a sua eterna, imensa infinita, imperturbável felicidade.

Os anjos também são imperturbavelmente felizes. Mas a Escritura no-los apresenta interessados pelas coisas humanas. Jacó abençoa os filhos de José dizendo: O ANJO QUE ME LIVROU DE TODOS OS MALES ABENÇOE ESTES MENINOS (Gênesis 48, 6). Nos Salmos se lê: “O anjo do Senhor acampa ao redor dos que O temem e os livrará” (Salmos 33,8). (...) No livro de Zacarias se mostra a súplica do anjo pelo povo hebreu: E respondeu o ANJO do Senhor e disse: Senhor dos exércitos, até quando diferirás tu o compadecer-te de Jerusalém e das cidades de Judá , contra as quais te iraste? Este é já o ano septuagésimo. Então o Senhor, dirigindo-se ao anjo que falava em mim, lhe disse boas palavras de consolação (Zacarias 1,12-13). No Novo Testamento, Jesus diz claramente que as criancinhas têm os seus anjos “Vede não desprezeis nenhum destes pequeninos; porque eu vos declaro que OS SEUS ANJOS nos Céus incessantemente estão vendo a face de meu Pai que está nos Céus”. (Mateus 18,10) E São Paulo, falando à Timóteo, invoca a presença dos anjos: “Eu te esconjuro diante de Deus e de Jesus Cristo e dos seus anjos escolhidos que guardes estas coisas sem preocupação.” (1ª Timóteo 5,21).

Está mais do que provado que os anjos sabem o que se passa na terra, eles vêem a Deus e em Deus vêem todas as coisas e não é isto que os impede de serem felizes. Assim também os santos. Por isto disse com razão o protestante Leibnitz: “Como os espíritos bem aventurados estão presentes a nossas vicissitudes muito mais agora ao que quando viviam na terra... e sua caridade e desejo de nos socorrer são muito mais vivos, como, enfim as suas preces são muito mais eficazes de agora por diante; como vemos por outro lado tudo o que Deus concedia às intercessões dos santos vivos, bem como a utilidade de ajuntar às nossas preces à de nossos irmãos, não vejo por que motivo se haveria de considerar um crime o invocar uma alma bem-aventurada ou um santo anjo”. (Leibnitz. Systema Theologicum)


NOTA DO ADMINISTRADOR: A exposição de Lúcio Navarro sobre o culto dos santos, não termina aqui, mas creio que estes textos já são mais do que suficientes para desmentir as frívolas e insidiosas acusações daqueles que atacam a Santa Igreja de Deus, ainda que, sem qualquer base para isso, movido apenas pelo ódio e pelo preconceito. Que todos os santos e santas de Deus intercedam por nós, para que, com o auxílio da Divina Graça, possamos defender, sempre e a cada dia com mais afinco a VERDADEIRA FÉ CATÓLICA.