terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Uma das coisas mais ridículas que eu já li!! Acusação frívola, absurda, ridícula, ou seja, bem protestante...

IRMÃS – Convento-prostíbulo – 6.000 esqueletos de crianças - OSW
AGORA UMA BEM DESCARADA MESMO!
“Santo Ulrico, bispo de Augsburgo, contou que o papa Gregório VII, anos 1703-85, ordenara que se esvaziasse um aquário num convento de Monjas em Roma e encontraram 6.000 esqueletos de bebês! Diante desse horror, esse papa aboliu o Celibato, mas seus sucessores restabeleceram-no”.
VER: http://www.jesussite.com.br/acervoprint.asp?Id=200
Primeiro, uma correção: Gregório VII reinou no período 1073-1085. Não se trata, porém, de mentira; é apenas erro de digitação verificando-se a troca do 0 pelo 7.
A MENTIRA VEM AQUI: Segundo sua biografia, Santo Ulrico nasceu na Alemanha no ano 890. Ver:
http://www.effata.org.br/?system=news&action=read&id=306&eid=159&SID=e0b2c90422af51e6b6c44a8e3bf6730b.
Para contar alguma coisa do Papa Gregório VII, Santo Ulrico deveria ter pelo menos 183 anos de idade (faça a conta: 1073 - 890 = 183)
Outra: Para que a água encobrisse, ocultando os 6.000 esqueletos, deveria ter, pelo menos 240 m³ o que corresponde a seis piscina médias de 40 m³. Era um aquário um tanto!!! everia ter sido colocado dentro do convento das freirinhas sem-vergonha talvez para enfeitar o seu refeitório!!!!
Agora gostaria que os evangélicos encontrassem uma mentira semelhante nos sites católicos. Puts!!! E tem evangélico que acredita em histórias deste jaez, por sinal, muito mal contadas!
Esta sim, tanto católico como evangélico tem que admitir que é uma baita de uma mentira!
Imagine só quantas freiras tinham neste convento?6000 fetos é aborto pra caramba esta mentira foi das grossas mesmo…

Extraído do blog: cai a farsa.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Loucuras de Lutero

Lutero, Martinho. "Carta aberta sobre a Tradução". Trad. de Mauri Furlan. In: Clássicos da Teoria da Tradução. Antologia bilíngüe, vol. 4, Renascimento. Florianópolis: NUPLITT, 2006. (p. 95-115)

Martinho Lutero
CARTA ABERTA SOBRE A TRADUÇÃO
Ao honorável e distinto N., meu estimado senhor e amigo.
Graça e paz em Cristo, honorável, distinto, caro senhor e amigo! Recebi sua carta com as duas questões ou perguntas, sobre as quais solicita minha posição: primeiramente, por que eu, no terceiro capítulo da Epístola aos Romanos, versículo 28, traduzi as palavras de Paulo, Arbitramur hominem iustificari ex fide absque operibus, como "Sustentamos que o homem é justificado somente pela fé, sem as obras da lei"; e além disso, nela também observa que os papistas se enfurecem extremamente porque no texto de Paulo não consta a palavra sola (somente) e não se poderia tolerar um tal acréscimo de minha parte à Palavra de Deus etc. Depois, se também os santos mortos intercedem por nós, porque lemos que até os anjos intercedem por nós etc. À primeira pergunta, se desejarem, podem responder aos papistas de minha parte o seguinte:
Em primeiro lugar, se eu, doutor Lutero, tivesse podido enganar-me de que todos os papistas juntos fossem tão hábeis a ponto de saberem traduzir bem e corretamente um único capítulo da Escritura, então teria sido muito humilde e lhes teria solicitado ajuda e assistência para a tradução em alemão do Novo Testamento. Mas como eu sabia e ainda posso ver que nenhum deles sabe realmente como se deve traduzir ou falar em alemão, poupei-me a mim e a eles um tal esforço. No entanto, percebe-se bem que eles aprendem a falar e a escrever em alemão a partir de minha tradução e de meu alemão, e roubam-me em muito minha língua, que até então pouco conheciam; porém não me agradecem por isso, mas preferem utilizá-la contra mim. Contudo, é com prazer que lhes proporciono isso, pois me agrada estar ensinando a falar a meus discípulos ingratos, que ademais são meus inimigos.
Por outro lado, podem dizer que eu traduzi o Novo Testamento como melhor pude e o mais consciencioso possível; e não obriguei ninguém a lê-lo, mas dei liberdade, apenas prestando um serviço àqueles que não podem fazê-lo melhor. A ninguém está proibido apresentar uma tradução melhor. Quem não quiser lê-lo que o deixe estar. Não peço nem louvo a ninguém por isso. É meu Testamento e minha tradução, e deve ser e permanecer meu. Se nalguma parte dele eu errei (coisa que não sei, pois não quis traduzir conscientemente errado uma letra sequer por deliberação), não vou por causa disso tolerar os papistas como juízes, pois eles ainda têm orelhas muito longas e seu zurro é muito fraco para julgar minha tradução. Eu sei muito bem, e eles sabem muito menos que o animal do moleiro, quanta arte, aplicação, razão e entendimento compete ao bom tradutor, pois que nunca tentaram.
Diz-se: "Quem constrói junto ao caminho tem muitos mestres". O mesmo acontece comigo. Os que nem sabiam falar corretamente, quanto mais traduzir, tornaram-se sobretudo meus mestres, e devo ser discípulo de todos eles. Mas se eu tivesse que lhes perguntar como se deveria traduzir as duas primeiras palavras do primeiro capítulo do Evangelho de Mateus, "liber generationis", nenhum deles teria sabido dar um cacarejo sequer, e agora julgam, os bons companheiros, a obra inteira. O mesmo aconteceu a São Jerônimo. Porque ele traduziu a Bíblia, todo mundo foi seu mestre, e ele era o único que não sabia nada, e julgavam a obra do bom homem aqueles que não teriam sido dignos de limpar-lhe os sapatos. Por isso é necessária muita paciência àquele que quiser fazer algo bom para o público, pois o mundo quer ser especialista e tem sempre que enfrear o cavalo pelo rabo, ensinar tudo sem nada saber. É sua maneira de ser, da qual não conseguem abdicar.
Contudo, gostaria sinceramente de ver um papista que se sobressaísse e traduzisse, por exemplo, uma das Epístolas de São Paulo ou de um profeta, desde que para isso não se servisse do alemão e da tradução de Lutero; então veríamos um alemão ou uma tradução elegante, bela, admirável! Pois já vimos o embusteiro de Dresden1, que se apropriou de meu Novo Testamento (não quero mais mencionar seu nome em meus livros; ademais, ele também tem agora seus juízes e é bem conhecido). Ele confessa que meu alemão é suave e bom; percebeu que não podia fazer melhor e quis destroçá-lo. Assim, tomou meu Novo Testamento, quase palavra por palavra, da forma como eu o compus, retirou meu prefácio, comentários e meu nome, depois acrescentou seu nome, prefácio e comentários, e desta forma vendeu meu Novo Testamento com seu nome. Ah, queridos filhos, quanta dor me causou quando seu príncipe, num prefácio horroroso, condenou e proibiu ler o Novo Testamento de Lutero, e além disso recomendou a leitura do Novo Testamento do embusteiro, que na verdade é o mesmo que Lutero compôs.
E para que ninguém aqui pense que estou mentindo, coloque ambos os Testamentos diante de si, o de Lutero e o do embusteiro, compare-os entre si, e verá quem é o tradutor de ambos. Pois o que ele remendou e alterou em uns poucos trechos, ainda que nem tudo me agrade, bem o posso tolerar, e não me incomoda particularmente, enquanto diz respeito ao texto. Por isso eu nunca quis escrever algo em contra, mas tive que rir da grande sabedoria com que se caluniou, condenou e proibiu tão horrendamente meu Novo Testamento quando foi publicado sob meu nome, mas tiveram que lê-lo quando foi publicado sob outro nome. No entanto, que virtude é essa de difamar e desonrar o livro de alguém, depois roubá-lo e publicá-lo sob nome próprio, buscando assim honras e renome através do caluniado trabalho alheio; deixo aos seus juízes classificar. Entrementes, para mim é o bastante e estou contente que meu trabalho (como também se gloria São Paulo2) seja também fomentado por meus inimigos, e o livro de Lutero sem o nome de Lutero seja lido sob o nome de seus inimigos. Como poderia eu vingar-me melhor?
Voltando novamente à questão. Se o seu papista quer incomodar-se bastante com a palavra sola-somente, diga-lhe logo: o doutor Martinho Lutero quer assim e diz que papista e asno é a mesma coisa. "Sic uolo, sic iubeo, sit pro ratione uoluntas"3 ["assim quero, assim ordeno, tome-se a vontade por razão"]. Pois não queremos ser alunos nem discípulos dos papistas, mas seus mestres e juízes. Queremos por uma vez também gabar-nos e vangloriar-nos com essas cabeças de asno. E como São Paulo se gloria contrapondo-se aos santos insensatos4, assim também eu quero gloriar-me contrapondo-me a esses meus asnos. Eles são doutores? Eu também. Eles são eruditos? Eu também. Eles são pregadores? Eu também. Eles são teólogos? Eu também. Eles são argumentadores? Eu também. Eles são filósofos? Eu também. Eles são dialéticos? Eu também. Eles são preletores? Eu também. Eles escrevem livros? Eu também.
E quero continuar gloriando-me: Eu sei interpretar os salmos e os profetas; eles não sabem. Eu sei traduzir; eles não sabem. Eu sei rezar; eles não sabem. E para falar de coisas menores: eu entendo sua própria dialética e filosofia melhor do que todos eles juntos. E além disso sei deveras que nenhum deles entende seu Aristóteles. E se há alguém entre todos eles que entenda corretamente um prefácio ou um capítulo de Aristóteles, deixarei que me açoitem. Não estou agora exagerando, pois fui educado e adestrado desde a juventude em toda sua arte, e sei muito bem quão profunda e vasta ela é. Da mesma forma eles sabem muito bem que eu sei e posso tudo o que eles podem. Não obstante, essa gente insana se comporta comigo como se eu fosse um hóspede em sua arte, que tivesse chegado apenas hoje pela manhã e nunca tivesse visto nem ouvido o que eles estão aprendendo ou podem fazer; assim tão maravilhosamente ostentam sua arte e me ensinam o que eu há vinte anos gastei em solas de sapato; de forma que eu também, em resposta a todos seus berros e gritos, tenho que cantar com aquela rameira: "Faz sete anos que eu sei que os pregos das ferraduras são de ferro".
Valha isto como resposta à sua primeira pergunta; e rogo-lhes que a tais asnos e seus berros inúteis por causa da palavra sola não respondam nada mais nem diferente disso: Lutero quer mantê-la assim e diz que é doutor acima de todos os doutores do papado inteiro; por isso deve permanecer aí. Doravante quero apenas desprezá-los e tê-los desprezado, enquanto são pessoas – queria dizer asnos – desta classe. Pois entre eles há uns patetas descarados que nunca aprenderam nem sua própria arte, a dos sofistas, como o doutor Schmidt e o doutor Rotzlöffel5 e seus semelhantes, e colocam-se contra mim nesta questão, que está acima não apenas da sofistaria, mas também, como diz São Paulo6, acima da sabedoria e da razão de todo mundo. Realmente, um asno não precisa cantar muito: é logo reconhecido pelas orelhas.
A vocês, porém, e aos nossos quero mostrar por que eu quis usar a palavra sola, embora em Romanos 3, 28 não tenha utilizado sola, mas solum ou tantum. Com quanta exatidão vêem meu texto, os asnos! Contudo, utilizei em outro lugar sola fide, e quero manter ambas, solum e sola. Ao traduzir, esforcei-me em escrever um alemão puro e claro. E aconteceu-nos muitas vezes passarmos catorze dias, três, quatro semanas, buscando e perguntando-nos por uma única palavra, e, contudo, às vezes não a encontramos. Em Jó trabalhamos o mestre Philipp, Aurogallus e eu, e, às vezes, em quatro dias conseguíamos aprontar apenas três linhas. Meu caro, agora está traduzido e pronto. Qualquer um pode ler e entendê-lo. Doravante pode um leitor percorrer com os olhos três, quatro páginas sem tropeçar uma vez sequer, mas não percebe quantos paus e pedras havia ali onde agora caminha como que sobre uma tábua aplainada, onde tivemos que suar e nos angustiar até tirarmos os paus e as pedras do caminho para que se pudesse prosseguir tão bem. É fácil arar quando o campo está limpo! Mas arrancar a floresta e os tocos e preparar o terreno, isso ninguém quer fazer. Não se deve esperar do mundo qualquer gratidão. Nem o próprio Deus recebe gratidão por causa do sol, do céu e da terra, nem pela morte de seu próprio filho. Que o mundo seja e continue sendo em nome do diabo, porque não quer outra coisa.
Do mesmo modo, eu sabia muito bem que em Romanos 3 não havia a palavra solum no texto latino ou grego, e não precisavam me ensinar isso os papistas. É verdade, estas quatro letras s-o-l-a, que as cabeças de asno admiram como as vacas a uma nova porteira, não estão no texto. Eles não vêem que isso corresponde perfeitamente ao sentido do texto, e, quando se quer traduzir com clareza e consistência em alemão, deve estar presente, porque eu quis falar em alemão, não em latim nem em grego, quando me propus falar em alemão ao traduzir. Isso, porém, é propriedade de nossa língua alemã, que, quando usada para tratar de duas coisas, das quais uma é afirmada e outra negada, necessita da palavra solum-allein, acompanhando a palavra nicht ou kein. Assim, por exemplo, quando se diz: "Der Baur bringt allein Korn, und kein Geld" ["O camponês traz somente grãos e nenhum dinheiro"]. "Nein, ich hab wahrlich jetzt nicht Geld, sondern allein Korn" ["Não, realmente agora não tenho dinheiro, mas apenas grãos"]. "Ich habe allein gegessen und noch nicht getrunken" ["Eu somente comi e ainda não bebi"]. "Hast du allein geschrieben und nicht durchgelesen?" ["Apenas escreveste e não leste?"]. E inúmeras formas semelhantes no uso diário.
Se tanto a língua latina como a grega não procedem desta forma em todos estes idiomatismos, a alemã procede assim, e é de sua propriedade usar a palavra allein a fim de que a palavra nicht ou kein resulte mais plena e clara. Pois, embora eu também possa dizer: "Der Baur bringt Korn und kein Geld", assim dita, a expressão kein Geld não soa tão plena e clara como quando eu digo: "Der Baur bringt allein Korn und kein Geld" ["O camponês traz somente grãos e nenhum dinheiro"]: aqui a palavra allein ajuda a palavra kein a produzir uma fala plena, alemã, clara. Pois não se tem que perguntar às letras na língua latina como se deve falar alemão, como fazem os asnos, mas sim há que se perguntar à mãe em casa, às crianças na rua, ao homem comum no mercado, e olhá-los na boca para ver como falam e depois traduzir; aí então eles vão entender e perceber que se está falando em alemão com eles.
Assim, quando Cristo fala: "Ex abundantia cordis os loquitur"7, se eu fosse seguir esses asnos, eles me apresentariam a letra e traduziriam assim: Aus dem Überfluss des Herzens redet der Mund ["Da abundância do coração fala a boca"]. Diga-me: isso é falar alemão? Que alemão entenderia uma coisa dessas? Que coisa é "abundância do coração"? Nenhum alemão poderia dizer isso, a não ser que quisesse dizer que alguém tem um coração demasiado grande ou tem coração demais; embora isto também não seja correto. Pois, "abundância do coração" não é alemão, assim como não é alemão "abundância da casa", "abundância da estufa", "abundância do banco", porém assim fala a mãe em casa e o homem comum: Wes das Herz voll ist, des gehet der Mund über ["A boca fala daquilo de que o coração está cheio"8]. Isto é falar um bom alemão, pelo que eu me esforcei, e infelizmente nem sempre consegui ou o encontrei. Pois as letras latinas dificultam muito a formulação para se falar em bom alemão.
Do mesmo modo, quando Judas o traidor diz em Mateus 26, 8: "Vt quid perditio haec?" ["A troco de que esse desperdício?"9] E em Marcos 14, 4: "Vt quid perditio ista unguenti facta est?" ["A troco de que esse desperdício do perfume?"10]. Se eu fosse seguir os asnos e os literalistas, eu deveria traduzir assim: Warum ist diese Verlierung der Salben geschehen? ["Por que aconteceu esta perdição de bálsamo?"] Mas que alemão é este? Que alemão fala desta forma: "Aconteceu a perdição do bálsamo?" E se ele entendesse corretamente, isso acreditaria ele, o bálsamo estaria perdido e teria que ser novamente buscado; embora isto também ainda soe obscuro e incerto. E se isto é um bom alemão, por que eles não se apresentam e nos fazem um novo, distinto e belo Testamento em alemão e deixam de lado o Testamento de Lutero ? Acredito mesmo que eles deveriam revelar sua arte. Mas o homem alemão fala assim ("Vt quid" etc.): Was soll doch solcher Unrat, ou, Was soll doch solcher Schade? Nein, es ist schade um die Salbe ["Que bobagem é essa?", ou, "Pra que isso?", "Não, que pena pelo bálsamo!"]; isto é um bom alemão, e assim se entende que Madalena se portou inapropriadamente e esbanjou derramando o bálsamo; era a opinião de Judas, que imaginava fazer um uso melhor.
Igualmente quando o anjo saúda Maria e fala: Gegrüßet seist du, Maria voll Gnaden, der Herr mit dir ["Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo"11]. Pois bem, até agora isto foi simplesmente traduzido segundo as letras latinas. Mas diga-me se algo assim também é um bom alemão. Onde é que um homem alemão fala desta forma: Du bist voll Gnaden ["estás cheia de graça"]? Que alemão entende o que significa voll Gnaden ["cheia de graça"]? Ele deve pensar num barril cheio de cerveja, ou num saco cheio de dinheiro; por isso eu traduzi: Du Holdselige ["agraciada"], com o que um alemão pode imaginar muito melhor o que o anjo quer dizer com sua saudação. Mas aqui os papistas se enfurecem comigo porque eu teria pervertido a saudação angelical, muito embora eu com isso ainda não tenha encontrado o melhor alemão. Se eu tivesse aqui tomado o melhor alemão e traduzido a saudação: Gott grüße dich, du liebe Maria ["Deus te saúda, querida Maria"] (pois isto tudo o anjo quer dizer, e assim ele teria falado, se tivesse querido saudá-la em alemão), creio que eles mesmos se enforcariam por excesso de zelo para com a querida Maria, porque eu teria aniquilado a saudação .
Mas que me importa se eles vociferam ou se enfurecem? Não pretendo impedir que eles traduzam o que quiserem em alemão; mas pretendo também eu traduzir em alemão, não como eles querem, mas como eu quero. Quem não gostar, que me deixe em paz e guarde sua maestria para si, pois não quero vê-la nem ouvi-la; eles não precisam responder à minha tradução nem prestar contas dela. Você está ouvindo bem: eu quero dizer: du holdselige Maria, du liebe Maria ["agraciada Maria, querida Maria"], deixe-os dizerem: Du voll Gnaden Maria ["Maria cheia de graça"]. Quem sabe alemão, sabe bem quão delicada palavra é esta que vai ao coração: querida Maria, querido Deus, querido imperador, querido príncipe, querido homem, querida criança. Eu não sei se se pode expressar a palavra liebe ["querido, amado"], de tanta cordialidade e plenitude, também em latim ou em outras línguas, de forma que igualmente penetre e ressoe no coração através de todos os sentidos, como o faz em nossa língua.
Pois eu considero que São Lucas, enquanto um mestre nas línguas hebraica e grega, quis fazer a palavra hebraica, na forma como o anjo a utilizou, corresponder à grega kexaritwme&nh e torná-la clara. Imagino que o anjo Gabriel falou com Maria como fala com Daniel, chamando-o hamudoth e isch hamudoth12, uir desideriorum, ou seja, "querido Daniel". Pois esta é a maneira de Gabriel falar, como vemos em Daniel. Se eu fosse traduzir em alemão a palavra do anjo conforme a arte dos asnos, segundo a letra, eu teria que dizer: Daniel, du Mann der Begierungen ["Daniel, homem dos apetites"] ou Daniel, du Mann der Lüste ["Daniel, homem dos desejos"]. Oh, que belo alemão! Um alemão entende bem que Mann, Lüste, ou Begierungen são palavras alemãs, embora não sejam palavras totalmente próprias alemãs, melhor estariam se no singular Lust e Begier. Mas quando são unidas deste modo: Du Mann der Begierungen, nenhum alemão sabe o que se disse, e acredita que Daniel talvez esteja cheio de desejos maus. Esta seria uma delicada tradução! Por isso aqui eu tenho que abandonar as letras e investigar como o homem alemão expressa isso que o homem hebraico denomina Isch hamudoth: então eu reconheço que o homem alemão fala assim: "querido Daniel", "querida Maria", ou "agraciada jovem", "graciosa donzela", "doce mulher" e semelhantes. Pois quem quiser traduzir deve possuir um grande acervo de palavras, a fim de que possa ter à mão a melhor quando uma delas não soar bem em nenhum lugar.
Mas para que falar tanto e tanto tempo sobre tradução? Se eu fosse assinalar as causas e as reflexões sobre todas minhas palavras, provavelmente teria que escrever durante todo um ano. Que arte e trabalho é a tradução experimentei muito bem! Por isso não vou tolerar como juiz ou crítico nenhum asno papista ou mulo, que nunca tentaram nada. Quem não quer minha tradução que a deixe estar. O diabo agradece aquele que não gosta dela ou a aperfeiçoa sem minha vontade e conhecimento. Se deve ser aperfeiçoada, quero fazê-lo eu mesmo. Se eu mesmo não o faço, deixem-me em paz com minha tradução, e que cada um faça o que quiser para si mesmo e passe bem!
Posso afirmar com a consciência tranqüila que dediquei a ela minha mais alta fidelidade e diligência, e nunca tive falsas intenções, pois não aceitei, nem procurei, nem ganhei qualquer centavo por isso. Da mesma forma, não busquei nela minha honra, sabe-o Deus, meu Senhor, porém a fiz por serviço aos amados cristãos e para honra daquele que está sentado no alto, e que em todas as horas tanto bem me faz, que mesmo se eu tivesse traduzido mil vezes tanto e tão diligentemente, não mereceria contudo viver por uma hora ou ter um olho são: tudo deve-se à sua graça e misericórdia, também o que eu sou e tenho, sim, deve-se a seu precioso sangue e amargo suor; por isso, tudo, pela vontade de Deus, deve servi-lo para sua honra, com alegria e de coração. Se os embusteiros e os papistas me difamam, me louvam os cristãos piedosos junto a Cristo, seu Senhor, e eu também estaria ricamente recompensado se fosse apenas um único cristão a me considerar um trabalhador leal. Não me preocupam os asnos papistas, que não são dignos de avaliar meu trabalho, e eu lamentaria do fundo do coração se eles me absolvessem. Sua calúnia é minha maior fama e honra. Contudo, quero ser um doutor, e até um doutor exemplar, e eles não hão de tomar-me este nome até o dia do juízo final, disso tenho certeza.
Por outro lado, não abandonei completamente a letra, mas observei-a com grande cuidado junto a meus ajudantes, de maneira que, quando necessário, mantive-a e dela não me afastei tão livremente; como em João 6, 27, onde Cristo fala: Diesen hat Gott der Vater versiegelt ["A este, Deus Pai o selou"]. Certamente teria sido um alemão melhor: Diesen hat Gott der Vater gezeichnet, ou, diesen meinet Gott der Vater ["A este, Deus Pai o marcou", ou, "A este, referiu-se Deus Pai"]. Mas preferi corromper a língua alemã a negligenciar a palavra. Ah, a tradução não é em absoluto uma arte para qualquer um, como acreditam os santos insensatos!; a ela pertence um coração reto, piedoso, fiel, diligente, temente, cristão, erudito, experiente, treinado. Por isso penso que nenhum falso cristão ou espírito sectário sabe traduzir fielmente, como se depreende da tradução dos Profetas, em Worms13, em que certamente se aplicou grande diligência e observou-se muito meu alemão. Mas havia judeus presentes, que não mostraram muita benevolência para com Cristo; no demais houve suficiente arte e cuidado.
Isto é o que havia para ser dito quanto à tradução e à propriedade das línguas. Eu, porém, não confiei somente na propriedade das línguas e a observei ao acrescentar solum, "somente", em Romanos 3, 28, mas também o texto e o pensamento de São Paulo o exigem e o reclamam com força; pois ele trata ali mesmo do elemento principal da doutrina cristã, ou seja, que nós somos salvos pela fé em Cristo, sem qualquer obra da lei; e exclui todas as obras tão claramente que chega a dizer que as obras da lei (que obviamente é a lei e a Palavra de Deus) não colaboram para a salvação; e dá como exemplo Abraão, que foi salvo tão isento das obras que, inclusive a maior delas, que então fora um novo mandamento de Deus acima de todas as outras leis e obras, a saber, a circuncisão, não lhe ajudou para a salvação, mas foi salvo pela fé, sem a circuncisão e sem qualquer obra, como ele fala no capítulo 414: "Se Abraão foi salvo pelas obras, ele pode se vangloriar, mas não diante de Deus". Pois bem, onde se exclui tão completamente todas as obras – e esse deve ser o sentido de que somente a fé salva – e quer-se falar claramente e diretamente de uma tal exclusão das obras, tem-se que afirmar: Somente a fé e não as obras nos salvam. Isso é exigido pela própria questão além da propriedade da língua.
Sim, eles dizem que soa escandaloso e com isso as pessoas aprendem que não precisam fazer boas obras. Mas meu caro, o que se lhes pode responder? Muito mais escandaloso é o fato de que o próprio São Paulo não diga somente a fé, mas descarregue ainda mais duramente encerrando a questão: sem as obras da lei, e em Gálatas 2, 16: não pelas obras da lei, e semelhantes em outras passagens. A expressão somente a fé ainda admitiria um comentário, mas a expressão sem as obras da lei é tão dura, escandalosa e abominável, que não pode ser amenizada com nenhum comentário. Muito mais poderiam as pessoas aprender com isso a não fazerem boas obras, pois elas ouvem das próprias obras pregar com palavras tão duras e fortes: Nenhuma obra, sem obras, não pelas obras. Se não é escandaloso que se pregue: Sem obras, nenhuma obra, não pelas obras, por que seria escandaloso então pregar somente a fé?
É algo ainda mais escandaloso que São Paulo rejeite não apenas obras simples e comuns, mas também as da própria lei. Com isso alguém bem poderia irritar-se ainda mais e dizer que a lei é condenada e maldita diante de Deus e se deveria fazer só o mal, como se dizia em Romanos 3, 8: "Façamos o mal para que se torne o bem", como começou a fazer também um espírito sectário em nossa época. Por causa de um tal escândalo se deveria então renegar a palavra de São Paulo ou não falar francamente e livremente da fé? Meu caro, precisamente São Paulo e nós desejamos tais escândalos e é esta a única razão por que pregamos tão fortemente contra as obras e insistimos somente na fé, a fim de que as pessoas se escandalizem, tropecem e caiam para poderem aprender e saber que não se santificam através de suas boas obras, mas somente pela morte e ressurreição de Cristo. Se elas não podem se santificar pelas boas obras da lei, muito menos poderão se santificar pelas más obras e sem a lei. Disso não se pode concluir que se as boas obras não ajudam, as más obras ajudam, assim como não se pode concluir que se o sol não pode ajudar o cego a ver, então a noite e a escuridão hão de ajudá-lo a ver.
Tradução de Mauri Furlan