terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O CULTO DOS SANTOS (PARTE FINAL)

A CIÊNCIA DOS SANTOS NA VISÃO BEATÍFICA

375. Diante deste argumento, os protestantes respondem: Depois de mortos é diferente: eles não podem saber o que se passa na terra.

Quer dizer então que a coisa mudou completamente de figura. Os santos não podem rezar pro nós e isto já não pelo fato de ser Cristo o único Mediador, é pelo fato de não podermos ter comunicação com eles; a ligação está interrompida. Mas esta afirmação é por sua vez completamente gratuita e quem vai responder aos protestantes é outro protestante, o célebre escritor holandês Grotius. Quando Calvino e Vossius alegam que não podem admitir o culto dos santos, porque estes não podem ter conhecimento de nossas preces, Grotius discorda inteiramente deles, dizendo: “Os profetas, enquanto estavam na terra, tiveram conhecimento daquilo que se passava em lugares onde eles não estavam presentes... os anjos assistem a nossas assembléias e se empenham por tornar agradáveis a Deus as nossas orações; é assim que não somente os cristãos, mas também os judeus creram em todos os tempos. Depois destes exemplos, um leitor sem preconceito deve crer que é mais razoável admitir nos mártires um conhecimento das preces que nós lhe dirigimos, do que negá-lo.” (Grotius. Votum pro pace).

É o caso de dizermos aos protestantes: Expliquem-se, por favor... A Escritura não diz em parte alguma que aqueles que se encontram no Céu estão completamente alheios ao que se passa na terra. Qual o argumento, a prova que Vocês apresentam, para afirmar com tanta segurança que os santos não podem ter conhecimento das nossas súplicas?

É porque, dizem eles, os santos gozam diante de Deus de uma felicidade imperturbável; ora se soubessem o que se passa aqui na terra, já não seria mais felicidade e sim uma série de preocupações. Além disto, era preciso que fossem oniscientes, onipresentes, onipotentes (Maria Santíssima, sobretudo, que tem milhões e milhões de devotos em toda a terra) para poderem estar atendendo a todas as orações que se fazem a eles nos mais variados lugares da terra e a cada instante.

Toda esta objeção se baseia, desde logo, numa frustrada tentativa para fazer uma idéia exata daquilo que se passa com os bem-aventurados lá no Céu, quando isto ESTÁ MUITO ACIMA DE TUDO QUANTO POSSAMOS IMAGINAR. A felicidade do Céu é uma felicidade SOBRENATURAL, é a visão beatífica de Deus, da qual a nossa natureza por si não é capaz, mas vai recebê-la por um dom especial do Criador. É inútil fazer cálculos tirando conclusões daquilo que se passa aqui na terra, dentro do nosso conhecimento natural. Uma pessoa aqui na terra não pode ter conhecimento de tudo o que se passa no mundo; mas suponhamos que o tivesse; não se seguiria daí que fosse onisciente nem onipotente, porque o próprio mundo é por sua natureza limitado; e este limitado conhecimento não seria coisa alguma em comparação com A CIÊNCIA INFINITA que só existe em Deus.

Ninguém pode tornar-se igual a Deus, mas uma criatura pode tornar-se mais ou menos semelhante a Ele, participar mais ou menos das suas perfeições de ciência, santidade, felicidade etc., e ai existe uma graduação infinita. Desde que no Céu esta penetração nas grandezas de Deus tem graus, porque nem todos têm os mesmos merecimentos e “na casa de meu Pai Há muitas moradas” (João 14,2), não há nenhum absurdo em dizer-se que Maria Santíssima, mesmo continuando criatura e permanecendo limitada, tem maior semelhança com Deus, recebeu no Céu maiores perfeições do que qualquer outra criatura humana.

E se no Céu a felicidade consiste em nos tornarmos em grau muito mais elevado do que aqui na terra “participante da natureza divina” (2ª Pedro 1,4), a alegação de que o conhecimento das coisas da terra acabaria com a felicidade não tem nenhum fundamento. Deus não vê tudo o que se passa no mundo e em todos os mundos? Não vê praticar-se aqui na terra tanta coisa que não é do seu agrado? Nem por isto sofre a mínima alteração a sua eterna, imensa infinita, imperturbável felicidade.

Os anjos também são imperturbavelmente felizes. Mas a Escritura no-los apresenta interessados pelas coisas humanas. Jacó abençoa os filhos de José dizendo: O ANJO QUE ME LIVROU DE TODOS OS MALES ABENÇOE ESTES MENINOS (Gênesis 48, 6). Nos Salmos se lê: “O anjo do Senhor acampa ao redor dos que O temem e os livrará” (Salmos 33,8). (...) No livro de Zacarias se mostra a súplica do anjo pelo povo hebreu: E respondeu o ANJO do Senhor e disse: Senhor dos exércitos, até quando diferirás tu o compadecer-te de Jerusalém e das cidades de Judá , contra as quais te iraste? Este é já o ano septuagésimo. Então o Senhor, dirigindo-se ao anjo que falava em mim, lhe disse boas palavras de consolação (Zacarias 1,12-13). No Novo Testamento, Jesus diz claramente que as criancinhas têm os seus anjos “Vede não desprezeis nenhum destes pequeninos; porque eu vos declaro que OS SEUS ANJOS nos Céus incessantemente estão vendo a face de meu Pai que está nos Céus”. (Mateus 18,10) E São Paulo, falando à Timóteo, invoca a presença dos anjos: “Eu te esconjuro diante de Deus e de Jesus Cristo e dos seus anjos escolhidos que guardes estas coisas sem preocupação.” (1ª Timóteo 5,21).

Está mais do que provado que os anjos sabem o que se passa na terra, eles vêem a Deus e em Deus vêem todas as coisas e não é isto que os impede de serem felizes. Assim também os santos. Por isto disse com razão o protestante Leibnitz: “Como os espíritos bem aventurados estão presentes a nossas vicissitudes muito mais agora ao que quando viviam na terra... e sua caridade e desejo de nos socorrer são muito mais vivos, como, enfim as suas preces são muito mais eficazes de agora por diante; como vemos por outro lado tudo o que Deus concedia às intercessões dos santos vivos, bem como a utilidade de ajuntar às nossas preces à de nossos irmãos, não vejo por que motivo se haveria de considerar um crime o invocar uma alma bem-aventurada ou um santo anjo”. (Leibnitz. Systema Theologicum)


NOTA DO ADMINISTRADOR: A exposição de Lúcio Navarro sobre o culto dos santos, não termina aqui, mas creio que estes textos já são mais do que suficientes para desmentir as frívolas e insidiosas acusações daqueles que atacam a Santa Igreja de Deus, ainda que, sem qualquer base para isso, movido apenas pelo ódio e pelo preconceito. Que todos os santos e santas de Deus intercedam por nós, para que, com o auxílio da Divina Graça, possamos defender, sempre e a cada dia com mais afinco a VERDADEIRA FÉ CATÓLICA.

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