segunda-feira, 10 de agosto de 2009

METAFÍSICA EUCARÍSTICA


Metafísica eucarística


A Igreja procura sempre expressar as verdades reveladas a partir de linguagem segura. Isto se obtém pela Filosofia. E dentro da diversidade de sistemas e correntes filosóficas encontramos o que é apto e o que é inapto à expressão da verdade dogmática religiosa.
Santo Tomás de Aquino é o marco de uma mudança no paradigma filosófico do cristianismo, até então acentuadamente platônico. É do Aquinate o mérito da aplicação da metafísica aristotélica à interpretação adequada da fé cristã sacramental. Bebemos de sua visão doutrinal quando professamos a fé eucarística e mesmo toda a fé sacramental. Matéria e forma como componentes de todo e qualquer ente material explicam a constituição de cada um dos sete sacramentos.
Assim, a Eucaristia, caso tivéssemos visão dualista, talvez não fosse tratada com o devido decoro, pois o que valeria seria apenas a gnose. Mas isto não conviria, pois o que é material na Eucaristia é o próprio Senhor. A carne de Deus é Deus; o sangue de Deus é Deus. O Filho de Deus é Deus. O Logos se fez carne. A Palavra deu atualidade à matéria, formando uma unidade, um só SER.
Se Deus é ato puro, então é somente forma. Ora, a Forma assumiu a matéria. Não foi a entrada da forma na matéria ao modo de aprisionamento. Se assim fosse, teríamos uma “empanação”, como costumava dizer D. Pestana, emérito de Anápolis, dita também consubstanciação no luteranismo. A realidade diverge de tal concepção.
As substâncias do pão de trigo e do vinho de uva têm a potencialidade, ou seja, têm matéria, para serem, pela mudança da forma, uma nova substância. Por causa da mudança da forma, a matéria não é mais do pão e do vinho, senão do Corpo, Sangue, Alma e Divindade do Cristo. O que se diz das espécies que permanecem é relativo aos elementos acidentais presentes no elemento potencial, matéria prima, sempre sujeita a nova atualização, como quando de sua digestão.
Impossível é afirmar a mudança formal (transformação) sem afirmar a mudança substancial, podendo, sem prejuízo algum, ser entendida em sentido unívoco. Esta é a base da qual Paulo VI apropriou-se para reafirmar o que disseram anteriormente São João Crisóstomo e São Cirilo de Alexandria. O primeiro afirma: “…isto é o meu Corpo: esta palavra transforma as coisas oferecidas”. O segundo diz: “…Deus Onipotente transforma…no Corpo e no Sangue de Cristo” (cf. PAULO VI, Mysterium fidei, nn. 51-52, Paulinas).
Segue-se, então, que a transubstanciação ou transformação nunca podem ser compreendidas como mera mudança de significado ou de sentido, que seriam decorrentes de uma visão não hilemórfica, mas dualista ou relativista. Só a visão hilemórfica pode tratar as espécies eucarísticas como verdadeiro Corpo e Sangue de Cristo. Se adoramos as espécies eucarísticas e conservamo-las no tabernáculo após a Missa, agradeçamos ao Espírito Santo e a Santo Tomás de Aquino.
Que recebamos o Cristo por inteiro na Eucaristia, matéria e forma, para que nossa substância, assumida nele desde o Batismo, visibilize-se cada vez mais enquanto substância de Cristo, como São Paulo conseguiu perceber, dizendo que vivia não ele, mas Cristo (cf. Gl 2,20 ).


Observação: O grifo no texto foi feito por mim, perdão ao Pe. Marcelo por este lapso.

5 comentários:

Pe. Marcelo Gabert Masi disse...

Grato pela divulgação. Se não for pedir muito, gostaria que deixassem o texto sem o grifo, ou então que colocassem observação pública de que o grifo é do blog Identidade Católica. A foto do papa em adoração é uma adição boa. Minha bênção a quem prepara e a quem acompanha o blog (mas não é nihil obstat!).

Identidade Católica disse...

Revmº Padre,

Obrigado pela vossa benção e perdão por não ter mencionado que o grifo era meu. De fato, vosso texto é muito bom, extremamente esclarecedor. Respeito e amo os sacerdotes, amo de verdade, de coração, entretanto, conheço bem os textos do Pe. Fábio de Melo e as canções do Padre Zezinho e mediante as coisas que leio e ouço não posso infelizmente, com a consciência limpa, dizer que eles prestam verdadeiro serviço à Igreja, infelizmente. Não sei se o senhor conhece a obra destes sacerdotes, mas elas possuem lastimáveis afirmações, algumas frontalmente contrárias à fé católica,afirmações que promovem a confusão na mente dos mais simples. Aqui mesmo no BLOG eu tenho posts a respeito do Pe. Zezinho. e osenhor pode conferí-los. Só um exemplo da cada:

Padre Zezinho: "Religião é como mãe. Se a gente tem uma, a gente não a troca por nenhuma outra. E se o outro tem uma e gosta dela, a gente aplaude."

Padre Fábio:
"Isso retira a necessidade que temos da materialidade da ressurreição. Não importa que haja um corpo encontrado ou um corpo desaparecido. O que a ressurreição nos sugere é muito mais que um corpo material. O mais importante, e o que verdadeiramente pode mover o cristianismo no tempo, não está na prova material da ressurreição, mesmo porque não a temos."

Bem, acho que isso basta, um prega o relativismo, o outro apresenta a ressurreição em termos muito, muito equívocos.

Obs. Gostei demais do seu site e aproveito para pedir vossa benção.
Continue visitando meu blog, ainda que ele não mereça o "nihil obstat" e conte com minhas oraçãos neste ANNUS SACERDOTALIS.

Pe. Marcelo Gabert Masi disse...

Grato pela prontidão em observar o seu grifo. Quanto às afirmações dos sacerdotes, é claro que são equivocadas. Penso que se houvesse uma orientação direta da autoridade eclesiástica, corrigiriam prontamente o que afirmaram. Pe. Zezinho corrigiu uma afirmação sobre ordenação de mulheres, a pedido de seu bispo. É por isso que não classifico-os como hereges, mas como equivocados. E isto apenas pontualmente, pois há tantas afirmações dos mesmos em pleno acordo com o Magistério. Quem interpreta o Magistério? Aí é a função dos pastores, em especial os párocos e os bispos titulares. Os leigos podem ajudar muito dispondo respeiosa e obedientemente seus pareceres. Conversando com um bispo, ele manifestou a preocupação de que se faça um "magistério" paralelo. O sobredito bispo preocupou-se com, muitas vezes, o fato de os leigos não terem senão uma formação autodidática. Uma boa sugestão são os cursos da Faculdade Católica de Anápolis - teologia reconhecida pelo MEC, filosofia inspirada fortemente no tomismo. Renovo minha bênção ao proprietário e leitores do blog, que acompanho com carinho paterno, discordando de algumas ou várias coisas, mas vendo o aspecto positivo da vontade de evangelizar, da busca da verdade. Que Nossa Senhora D'Abadia abençoe a todos.

Identidade Católica disse...

Revmº Padre,
Agradeço-vos imensamente o cuidado e o carinho com que o sr. me responde.
De fato, reconheço que os referidos sacerdotes não não erram sempre e totalmente, aliás, nem mesmo Lutero conseguiu fazê-lo (mas nem por isso deixou de ser herege.) De qualquer forma não cabe a mim julgar a quem quer que seja, ainda mais um sacerdote. quanto à isso eu já me manifestei em meu próprio Blog no seguinte post:http://identidadecatolica.blogspot.com/2009/07/respeito-devido-aos-sacerdotes-sta.html

Quanto á questão da "interpretação do Magistério", longe de mim arvorar-me em fazer tal coisa! Logo quem, eu!! Seria pretensão demais, além do que reconheço minha completa impotência para uma tarefa de tal grandeza. De fato, o pouquíssimo que sei acerca da Doutrina da Igreja aprendi praticamente sozinho e com alguns amigos professores e sacerdotes dedicadíssimos, mas ainda assim sei que sei quase nada, e é por isso mesmo que não ouso adentrar em questões sobre as quais eu poderia emitir uma ou outra opinião temerária, ou não conforme ao Ensino da Igreja.

De qualquer forma o senhor há de concordar que certos erros não precisam de um Doutorado de Teologia para serem detectados, bastando para isso que se conheça bem o Símbolo dos Apóstolos. Creio, Revº Padre, que tão ruim quanto o erro é a linguagem dúbia, a falta de clareza, ainda mais nestes tempos tão difíceis onde as seitas pululam ferozmente e arrebanham um sem número de incautos, a grande maioria em busca da Verdade.

Se o leigos hoje se manifestam tanto e em tom tão apologético é por conta de um só motivo: As autoridades competentes silenciam demais. Não são todos é óbvio, mas a grande maioria se mantém num silêncio que beira à omissão.

Claro que sei que inúmeros leigos exageram, falam do que não entendem, usam linguajar chulo, julgam, escarnecem e tentam ser mais tradicionais do que o próprio Santo Padre. Obviamente não vou por este caminho, creio que nisto há um "que" de Protestantismo e deste mal eu não morro, graças a Deus!

O objetivo do Blog, como o sr. mesmo fez notar, é tão somente evangelizar e alertar, sem denuncismo vazio nem extrapolações.
Pretendo ser o mais sério possível e principalmente manter o máximo de respeito, principalmente com os Sacerdotes, os "outros Cristos" que tão benignamente Deus Nosso Senhor nos concedeu - e aqui incluo todos: Pe. Zezinho, Pe. Fábio de Melo, Pe. Marcelo Rossi, são sacerdotes para sempre ( in aeternum) e preciso respeitá-los, embora isso não signifique ignorar que alguns dos seus escritos contrariam Verdades básicas de nossa Fé e ocasionam perigo às almas.

Finalizando: gostaria, ainda mais uma vez, de agradecer-vos pela solicitude com este miserável, é uma honra poder dialogar com um sacerdote. Saiba que intercedo diariamente por TODOS os sacerdotes e que os amo - indistintamente - pois eles trazem o Céu à terra e nos facultam pela ministração dos Sacramentos e pelo cuidado paternal, nossa entrada - assim espero - na Visão Beatífica.

Que o Santo Cura D'Ars, proteja o senhor e seja sempre o seu exemplo de como seguir o Exemplo maior: Cristo Senhor Nosso.

Peço vossa benção,

Carinhosamente,

Marcos Paulo de J. Siqueira

Pe.Marcelo Gabert Masi disse...

Ok!