TRECHOS QUE MOSTRAM O APOIO DE CUBA, CHINA E URSS ÀS GUERRILHAS COMUNISTAS
E AS INTENÇÕES MALÉVOLAS DE JANGO
E AS INTENÇÕES MALÉVOLAS DE JANGO
AS ILUSÕES ARMADAS
A Ditadura Envergonhada
ELIO GASPARI
A Ditadura envergonhada / Elio Gaspari. — São Paulo: Companhia das Letras,
2002.
A Ditadura Envergonhada
ELIO GASPARI
A Ditadura envergonhada / Elio Gaspari. — São Paulo: Companhia das Letras,
2002.
DOIS GOLPES EM MARCHA
“Havia dois golpes em marcha. O de Jango viria amparado no “dispositivo militar” e nas bases sindicais, que cairiam sobre o Congresso, obrigando-o a aprovar um pacote de reformas e a mudança das regras do jogo da sucessão presidencial.26 Na segunda semana de março, depois de uma rodada de reuniões no Rio de Janeiro, o governador Miguel Arraes, de Pernambuco, tomou o avião para o Recife avisando a um amigo que o levara ao aeroporto: “Volto certo de que um golpe virá. De lá ou de cá, ainda não sei”.27
O ex-governador gaúcho Leonel Brizola achava que viria de cá, do presidente, seu cunhado.28”
“Se o golpe de Jango se destinava a mantê-lo no poder, o outro destinava-se a pô-lo para fora. A árvore do regime estava caindo, tratava-se de empurrá-la para a direita ou para a esquerda.”
COMUNISTAS NAS FORÇAS ARMADAS – O DISPOSITIVO MILITAR
“A base militar do PCB, conhecida apenas pela sua cúpula, denominava-se Setor Mil. Só Prestes e dois membros da comissão executiva sabiam os nomes de seus oficiais, divididos em compartimentos estanques. Numa estimativa prudente, os oficiais da ativa que militavam no partido e, em tese, poderiam ser mobilizados por sua direção, estariam em torno de cem. Os oficiais superiores eram mais de vinte mas não passavam de trinta. Alguns deles tinham identidade ideológica com o partido, seguiam a sua linha política, mas não se reuniam formalmente como militantes comunistas. A principal influência (desarmada) do PCB estava no Conselho de Segurança Nacional, onde o coronel Paulo Eugenio Pinto Guedes chefiava o gabinete de sua secretaria geral. Também gravitava em torno do PCB, no Rio, o coronel Joaquim Ignacio Cardoso.34 Como ele, o ajudante-deordens do general Assis Brasil, capitão Eduardo Chuahy. Na FAB podem ter sido vinte, entre os quais dois brigadeiros e três coronéis. Com quatro estrelas, o brigadeiro Francisco Teixeira comandava a poderosa III Zona Aérea, sediada no Rio. Uma das bases da FAB, a “Olavo Bilac”, era composta por cinco oficiais que usavam como codinomes a identidade completa do poeta: Olavo, Brás, Martins, Guimarães e Bilac.35”
O APOIO DE CUBA, CHINA E URSS
“Fidel sonhava com uma revolução continental que transformasse os Andes numa Sierra Maestra. Pensava assim porque esse era seu desejo, mas também sua conveniência. Hostilizado pelo governo americano, temia ser derrubado por uma invasão da ilha e acreditava que “os Estados Unidos não poderão nos atacar se o resto da América Latina estiver em chamas”.11
“A guerrilha brasileira entrara nos seus planos antes mesmo da derrubada de Goulart. Em 1961, manobrando pelo flanco esquerdo do PCB, Fidel hospedara em Havana o deputado Francisco Julião. Antes desse encontro, com olhar e cabeleira de profeta desarmado, Julião propunha uma reforma agrária convencional. Na volta de Cuba, defendia uma alternativa socialista, carregava o slogan “Reforma agrária na lei ou na marra” e acreditava que a guerrilha era o caminho para se chegar a ela. Julião e Prestes estiveram simultaneamente em Havana em 1963. Foram recebidos em separado por Castro. Um já remetera doze militantes para um breve curso de capacitação militar e estava pronto para fazer a revolução.12 Durante uma viagem a Moscou, teria pedido mil submetralhadoras aos russos.13 O outro acabava de voltar da União Soviética. Segundo um telegrama da embaixada do Brasil em Havana, afirmara “aos líderes cubanos que seria ‘criminoso’, repito, ‘criminoso’, tentar esse caminho”.14 O governo cubano enviou ao Rio de Janeiro como ministro conselheiro da sua embaixada um veterano combatente da rede de guerrilha urbana, o jornalista Miguel Brugueras. No início de 1962, uma nova organização esquerdista recebera a bênção cubana. O Movimento Revolucionário Tiradentes planejava a montagem de um “dispositivo” militar espalhado por oito áreas de treinamento compradas em sete estados.15 Tratava-se de uma guerrilha mambembe (juntava menos de cinqüenta homens), na qual o chefe da operação militar era acusado de ter gasto uma pequena fortuna para desembaraçar a bagagem da sogra tcheca no aeroporto do Rio de Janeiro, enquanto guerrilheiros passavam fome em Goiás, alimentando-se de farinha e toucinho.”
“O projeto insurrecional caiu nas mãos dos serviços de segurança americanos em novembro de 1962, quando o avião da Varig em que viajava um correio oficial cubano se espatifou nas cercanias de Lima. Na mala diplomática que ele conduzia estavam três documentos remetidos por Gerardo (possivelmente Brugueras) a Petrônio em Havana. Eram uma carta comovente de um guerrilheiro abandonado à própria sorte, uma análise militar da inutilidade estratégica das fazendas compradas no mato e, finalmente, uma exposição feita por dois militantes que denunciaram à embaixada a desordem militar do MRT. A denúncia sustentava que a operação “não só está pondo em perigo a Revolução no Brasil, como também, além de estar gastando dinheiro cubano a mãos-cheias, está-se colocando Cuba, diante dos revolucionários do Brasil, de maneira irresponsável e mentirosa”.16 Quando esse diagnóstico foi tornado público, uma base de treinamento goiana já havia sido varejada por tropas de pára-quedistas e fuzileiros navais. O próprio chefe do esquema guerrilheiro das Ligas Camponesas fora preso no Rio de Janeiro.17 Enquanto Fidel trabalhava pela borda, o radicalismo chinês do Grande Timoneiro Mao Zedong ganhara, em 1962, um naco do “Partidão”, apelido ganho pelo PCB precisamente na época em que começou a mirrar. Um pedaço de sua direção, levando consigo antigas brigas internas e cerca de novecentos militantes, fundara o Partido Comunista do Brasil, o PC do B.18 Nessa dissidência, o PCB perdeu três dirigentes que por mais de dez anos haviam integrado sua comissão executiva.”
“Fidel Castro não foi nem Asmodeu nem Cruz Vermelha para Leonel Brizola. Ele funcionou, com sucesso, como uma espécie de Rei Artur que o sagrou Cavaleiro da Távola da Revolução. De 1965 ao início do segundo semestre de 66, enquanto teve esse privilégio, Brizola foi o mais destacado chefe do radicalismo de esquerda, assegurando-se uma liderança que a maioria dos exilados ia perdendo por conta do efeito banalizador do desterro. O destaque do ex-governador gaúcho era reconhecido por Golbery. Assustado com o reaparecimento do ex-presidente argentino Juan Domingo Perón, via-o, com Brizola, como parte de uma conspiração continental e escrevia a Castello: “É evidente que o brizolismo, o comunismo internacional e o peronismo estão de mãos dadas”.81
“Francisco Julião, a aposta cubana, estava preso num quartel do Exército em Brasília. Suas Ligas Camponesas haviam-se desvanecido, e Fidel se queixava de que seu dinheiro fora malbaratado.23 Aos poucos, saía do baralho uma nova carta: Leonel Brizola. Antes mesmo da derrubada de Goulart, o embaixador cubano no Rio de Janeiro, Raúl Roa Kourí, acreditava que era ele quem tinha as maiores chances para iniciar uma revolução à la Castro no Brasil”.24
“O secretário-geral do PC boliviano contou essa gestão a um oficial do exército cubano, dizendo-lhe que se comprometera com Fidel Castro a “coordenar com Brizola o assunto do Brasil”.98
“Em agosto realizou-se no hotel Habana Libre a Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade, que se deveria transformar num centro irradiador de guerrilhas. Nesse conclave Marighella credenciou-se junto à internacional de insurretos concebida por Fidel.”
“O Partidão tinha o patrocínio soviético, o PC do B ficara com a China (para onde já remetera três turmas de militantes que fariam cursos político-militares), e Brizola estava com a carta cubana. Um dirigente experimentado como Marighella sabia que, à falta de um clima insurrecional no país, era necessário dispor de alguma base externa. A dotação orçamentária soviética ao PCB, conhecida como “O Ouro de Moscou”, girou, até a segunda metade dos anos 80, entre 200 mil e 300 mil dólares anuais.”25
“Mesmo que esses recursos fossem poucos, a eles se juntavam facilidades logísticas, como centros de educação ideológica e oficinas de documentos falsos. A base externa funcionava também como santuário, para onde militantes considerados promissores ou dirigentes desprotegidos poderiam ser mandados a fim de viver em segurança. O PCB tinha uma sede alternativa em Moscou e duas verdadeiras embaixadas no exterior, uma em Buenos Aires e outra em Paris. Brizola operava sua chancelaria em Montevidéu. Marighella só rompeu com o PCB quando conseguiu a base de Havana.”
Compilado pelo meu amigo Daniel do blog http://www.advhaereses.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário